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‘É um orgulho representar o meu país’, diz a guarda-redes da Seleção

 

 

Adriana Rocha começou cedo a ser futebolista. Ainda não pensava em sê-lo, mas a bola foi desde sempre um objeto mágico para si. Era ainda menina e frequentava o jardim-de-infância quando ingressou no seu primeiro clube, o do coração de tantos famalicenses, mas de muitos mais portugueses também. Nessa altura chutava para a frente e queria marcar golos; muitos de preferência. Não se imaginava ainda a desempenhar o papel que hoje ocupa na defesa das redes de futebol nacionais no escalão de sub-16.

Adriana é uma jovem parecida, em algumas coisas, com tantas outras. Estudante de liceu – hoje em dia não se diz assim, mas a palavra tem um som que encanta – do Agrupamento de Escolas Camilo Castelo Branco, agarra-se aos livros nos tempos em que sabe ter de estudar e dedica-se às atividades que verdadeiramente a aliciam de alma e coração nas horas que lhes estão destinadas. O seu ar confiante traduz a beleza que lhe vai no íntimo. Com o seu ar de rapariga bonita e descontraída, ninguém dirá, ao vê-la passar, que é jogadora de futebol; e, ainda por cima, de eleição.

Os passos de Adriana querem-se seguros, mesmo se as palavras, aqui ou ali, indiciam ainda o caminho para a maturidade  que espera alcançar. A sua contratação, agora ultimada, pelo Ribeirão Futebol Clube, é mais um passo nesse sentido.

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Entrevista com Adriana Rocha, guarda-redes

do Ribeirão Futebol Clube

e da Seleção Nacional de Futebol


Pedro Costa: Antigamente era muito raro mesmo haver uma rapariga que jogasse à bola. Sendo o futebol um desporto tradicionalmente masculino, como reagiram, de início, os seus pais e familiares em relação à sua prática do futebol?

Adriana Rocha: A minha família sempre me apoiou desde o início. Por isso, os meus pais e familiares sempre procuraram arranjar forma de conseguir praticar o futebol semanalmente.

Pedro Costa: E no seu grupo de amigos e amigas, Adriana, como é visto o seu interesse pela prática do futebol?

Adriana Rocha: As minhas amigas achavam graça eu jogar futebol, apesar de desde pequena sentir mais afinidade com os rapazes. Identificava-me mais com eles. Então passava os intervalos a jogar à bola com eles.

Pedro Costa: Quando começou a jogar futebol? Tem memória do seu primeiro chuto?

Adriana Rocha: Jogo futebol desde muito pequena. Quando comecei a andar, lembro-me que também comecei a dar uns chutos na bola. Além disso, lembro ainda de quando me davam prendas: pedia sempre que fossem bolas.

Pedro Costa: Esses foram mesmo os seus primeiros passos. Mas qual foi o seu primeiro clube? E como se decidiu a “frequentar” um clube e a praticar futebol “a sério”?

Adriana Rocha: O meu primeiro clube foi o Geração Benfica, de Famalicão. Foi a minha madrinha que procurou e descobriu um clube em que achasse que me iria sentir bem. Escolheu este clube porque sempre tive grande admiração pelo Benfica.

Pedro Costa: Entretanto o tempo foi passando e a Adriana já passou por outros clubes. Em que clubes já jogou e que prémios ou campeonatos já ganhou?

adriana rocha - entrevista - futebol feminino - guarda-redes - famalicão - ribeirãoAdriana Rocha: Comecei a jogar aos 5 anos na Geração Benfica. Joguei lá até aos 11 anos. Ganhei alguns torneios com eles e fomos campeões de série também. Num desses torneios, ganhei o prémio de melhor guarda-redes, o que para mim foi muito surpreendente, pois uma rapariga ganhar aos rapazes naquela altura não era muito comum.

Parei depois com o futebol e experimentei o ténis, mas percebi que a minha paixão é o futebol e, por isso, decidi voltar a jogar, desta vez só com raparigas, no Mouquim. Lá, infelizmente, não ganhei nada, mas cresci e evoluí como jogadora. No ano seguinte, o [Casa do Povo de] Martim, de Barcelos, veio falar comigo. Naquela altura achei o clube mais interessante. Foi lá que a Seleção me viu e me convocou. Foi mais um grande clube que me fez crescer. Há poucos dias ganhei, com o meu clube, a BragaCup e fui também premiada com o troféu de Melhor Guarda-Redes do Torneio.

Agora, acabo de assinar pelo Ribeirão Futebol Clube, onde irei fazer a época 2018-2019, o que também me deixa muito feliz.

Pedro Costa: Presumo que seja amadora, mas… Existe algum tipo de subsídio ou apoio compensatório para as horas que dedica ao trabalho desportivo? Poderá, a partir de agora, passar a beneficiar do estatuto de atleta de alta competição por ter sido convocada para a Seleção?

Adriana Rocha: Agora, por já ser considerada atleta de alta competição, terei, no futuro, mais facilidade relativamente aos estudos. O acesso à universidade é mais facilitado.

Pedro Costa: Qual é o seu regime de treinos? É fácil para si conciliar o trabalho de futebolista com os estudos?

Adriana Rocha: Relativamente aos treinos no clube, geralmente são 3 por semana. Mas este ano tive alturas em que havia  treinos todos os dias da semana e era um pouco cansativo. Com as idas à Seleção as notas baixaram um pouco, mas com o tempo consegui voltar a subir. Agora já estou habituada e é mais fácil.

Adriana, uma Guarda-redes por acaso

Pedro Costa: A Adriana é guarda-redes. Como descobriu a sua habilidade para essa posição? O que mais gosta em ser guarda-redes? O que acha também mais difícil em jogar nessa posição?

Adriana Rocha: Fui para a baliza por acaso. Num torneio não havia guarda-redes e pediram-me para ir à baliza. Gostaram de me ver e eu também e a partir de então não mais larguei a baliza. Para mim, ser guarda-redes é incrível, pois é a única pessoa que pode salvar o golo depois de a bola passar por toda a gente. Fazer defesas para salvar a equipa é, sem dúvida, emocionante. Por outro lado, ser guarda redes é um trabalho solitário e ingrato, pois a culpa, por vezes, passa por ser nossa e precisamos de ter muita cabeça para não perder a confiança depois de sofrer um golo.

Pedro Costa: No futuro imediato, está convocada para representar a Seleção Nacional num Torneio Internacional que se vai desenrolar nos EUA. Que torneio é esse e quando vai acontecer? Já está integrada no grupo de trabalho? Estão lá consigo outras colegas do Martim?

Adriana Rocha: O torneio em que iremos participar é o Concacaf. Realizar-se-á desde o dia 7 de Agosto até ao dia 15. Tenho algumas colegas mais próximas. Dou-me bem com todas elas. O grupo é muito unido e divertido. Do Martim FC não; fui a única selecionada.

Pedro Costa: Como foi convocada para a Seleção Nacional? Que sentimentos envolvem esta sua convocação? Quais são as suas expectativas para o Torneio?

Adriana Rocha: Acho que a minha confiança na baliza é concentração. É um ponto positivo que eles apreciaram. É um orgulho poder representar o meu país e valorizarem-me depois de todos os esforços que fiz. Para este torneio Concacaf, o nosso objetivo é ganhar. Mas claro quero fazer bons jogos e ajudar sempre a Seleção.

Futuro de Adriana Rocha passa pelo mundo do futebol

Pedro Costa: O que espera, para si, daqui para a frente, do mundo do futebol (curto, médio e longo prazos)?

Adriana Rocha: Espero fazer disto a minha vida e durante muitos anos. Até não poder mais.

Pedro Costa: Confesso desconhecer se existe futebol profissional feminino em Portugal. Gostaria de vir a ser profissional?

Adriana Rocha: Sim, já existe futebol profissional feminino. E um dos meus grandes objetivos é precisamente vir a ser profissional.

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Imagens: DR

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