“É a imortalização desta memória coletiva que, inegável e insubstituível, estará na génese de um futuro mais sustentável e próspero” pode ler-se no ofício conjunto enviado pelos municípios de Braga e Guimarães à CCDR-n e que serviu de base à assinatura, hoje, dia 18 de Junho, no Santuário de Santa Maria Madalena da Falperra, de um protocolo relativo ao Programa Intermunicipal dos Sacromontes estabelecido entre si pelos municípios vizinhos.
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Este é um projeto pioneiro a nível nacional que representa a união das duas autarquias na concertação de ações que visam a promoção e qualificação de um território, com uma área de 2500 hectares, pontuado por um conjunto de símbolos identitários de inegável valor histórico e patrimonial: Santuário do Bom Jesus do Monte, Santuário do Sameiro, Capela de Santa Maria Madalena, Capela de Santa Marta do Leão e povoados castrejos de Santa Marta das Cortiças, Briteiros e Sabroso.
O documento apresentado hoje será agora remetido à Secretária de Estado do Ordenamento do Território e da Conservação da Natureza e à CCDR-N para tramitação processual tendente à aprovação do Programa.
Este projeto, que avançou na sequência dos calamitosos incêndios de outubro de 2017, tem em conta não ser possível marginalizar a devastação imposta pelos recentes e violentos incêndios que assolaram esta área, pelo que pretende reforçar “o sentimento de pertença, de partilha e de dever, unindo os concelhos de Braga e Guimarães num propósito comum”. Assim, considerando que esta paisagem cultural foi “construída através dos tempos” e “alicerçada numa complexa e intrincada relação do homem com a natureza”, “impõe-se a sua preservação” tendo em conta a reescrita do conceito “Dois territórios e uma só paisagem”. Assim, “mais do que mera produção de um documento legal, no derrube de limites meramente administrativos, na diluição de rivalidades ancestrais e na anulação de antagonismos históricos, passa pela reafirmação de icónicos sacro-lugares, estrategicamente posicionados no terreno e aconchegados numa envolvente florestal.”
Não tendo sido obra do acaso “a implantação escolhida para este conjunto de monumentos que ocupam esta cordilheira, tornando-o um todo coeso e indissociável.” Estes são “lugares defensivos, místicos e religiosos, ocupam um espaço no imaginário e na paisagem, pontos notáveis de orientação, de acesso difícil, de meditação e de mera contemplação, cuja envolvente natural, duma vegetação outrora luxuriante, propiciada por nascentes e linhas de água”. Daqui “emergiu uma paisagem que foi sendo pontuada por explorações agrícolas, construções de cariz vernacular, moinhos, tanques, levadas, alminhas, cruzeiros, etc., num emaranhado de vivências que urge identificar, preservar e dotar de mecanismos de perpetuação, refreando os exageros urbanísticos das últimas décadas e determinando regras de carácter formal e conceptual.”
No documento ora enviado à CCDR-n pelas câmaras municipais de Braga e Guimarães, refere-se ainda que estes locais, “calcorreados por peregrinos, romeiros e tão-somente meros viajantes, que desde a Idade do Ferro foram conformando caminhos de maior ou menor relevância ou, mais recentemente, pelos trilhos abertos por desportistas” são um importante conjunto paisagístico “referencial de um inegável manancial turístico e estratégico de afirmação internacional dos dois municípios.”
Na ocasião, Ricardo Rio, presidente da Câmara Municipal de Braga, referiu que este é um programa com o objetivo claro de preservar e valorizar este espaço notável que une os dois Concelhos, ativos únicos do ponto de vista ambiental, cultural, histórico, económico e turístico que é necessário potenciar no futuro.
“É uma iniciativa marcante pelo seu caráter inovador e pela expectativa e entusiasmo que envolve todo o processo. Braga e Guimarães são referências nacionais e internacionais em diversos domínios, pelo que têm muito a ganhar ao trabalharem em conjunto, sendo esta a ação mais visível desse esforço de concertação”, referiu o autarca bracarense que aproveitou o momento para lançar o repto aos agentes económicos para se mobilizarem em torno dos objetivos propostos por este programa.
“Há uma estreita cooperação entre os Municípios de modo a potenciar as valências comuns e para bem de uma região. Este programa permitirá aos dois Municípios apresentarem em conjunto candidaturas aos fundos europeus no sentido de procedermos à reabilitação do ponto de vista ambiental e a preservação dos equipamentos culturais existentes”, apontou Domingos Bragança, presidente da Câmara Municipal de Guimarães.
Os municípios de Braga e Guimarães determinaram como principais objetivos a alcançar: a segurança de pessoas e bens, a proteção de bens patrimoniais, incluindo a proteção e valorização da área florestal que envolve os espaços sagrados ou sacralizados através de uma estratégia de defesa contra incêndios, a valorização, reabilitação, restauro e promoção do património construído e natural, a definição dos mecanismos de operacionalização do Programa Intermunicipal, através da determinação de ações para a gestão ativa e valorização da paisagem florestal e a promoção de modo integrado de toda a área e de todos os recursos, como conjunto de elevado valor patrimonial e turístico.
Para além dos presidentes das autarquias, a sessão contou com a presença de Cristina Guimarães, da CCDR-Norte, e dos vereadores com os pelouros conexos, Miguel Bandeira, da Câmara Municipal de Braga, e Fernando Seara de Sá, da Câmara Municipal de Guimarães.
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Imagem de destaque: Rui Rio e Domingos Bragança após assinarem o Protocolo Intermunicipal dos Sacromontes (Município de Braga; divulgação)
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Outras imagens: Vista de Braga a partir do Bom Jesus do Monte (António Pinto Coelho; fotografia).
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