O Desobedoc – Mostra de Cinema Insubmisso vive descentralizado. Depois de ter começado por ser uma mostra de cinema surgida no Porto, a cada ano que passa chega mais longe. Agora, é chegada a vez de Braga, nos próximos dias 4 e 5 de maio. Organizada pelo Bloco de Esquerda, tem como intuito contribuir para uma ação ampla e diversificada da oferta cultural naquela que é considerada a terceira cidade do País.
O Festival está prestes a passar por Braga e o Bloco de Esquerda não esquece que a dinamização cultural de uma cidade como Braga é uma condição de afirmação da identidade coletiva e do sentir e pulsar da cidade.
A Mostra do Cinema Insubmisso Desobedoc Desobedoc nasceu no Porto há 5 anos. Tem mostrado, a partir de então, ser possível abrir salas de cinema encerradas e criar espaços onde filmes e documentários possam ser vistos, partilhados, discutidos. O Trindade, cinema que esteve fechado durante anos e onde nasceu esta mostra, foi entretanto devolvido à cidade. O Cinema Batalha, reaberto temporariamente pelo Desobedoc, está agora em vias de voltar a funcionar em permanência como Casa de Cinema.
Considera o BE que “Nada disto é um acaso. A cultura tem sido o parente pobre do Orçamento. Se é verdade que passou a haver Ministério, falta uma estratégia, recursos e capacidade de pensar o país como um todo. No Interior, o acesso à cultura – ao património e à criação artística – é ainda mais limitado. Há grupos, companhias, cineclubes, associações e espaços que resistem. Mas falta uma resposta pública que chegue a todos, bem como o compromisso do Estado central e local.”
Em tom afirmativo, o Desobedoc pretende ser “uma forma de resistir a este estado de coisas. É um gesto concreto para mostrar que é possível abrir salas e programar cinema, pôr em comum memórias e debater lutas e insubmissões.”
Agora que se comemoram o 50º aniversário do Maio de 68, o Desobedoc multiplica-se. Passará por Braga, mas também por Viseu, Coimbra, Évora e Vila Real apresentando filmes sobre trabalho e sobre diversidade, sobre colonialismo e lutas pelo ambiente, sobre a vaga feminista e sobre o golpe brasileiro, sobre a intersecção das lutas e sobre o legado do espírito de desobediência de 68. À apresentação dos filmes estarão associadas conversas, música, performances e exposições.
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A mostra de cinema Desobedoc começou no Porto, cidade do cinema em Portugal, desde o início da era do cinema. Produtores, realizadores, salas de cinema lá viveram e experimentaram novos caminhos para o cinema português.
Esta dinâmica contribuiu para uma rebeldia desobediente que associou cinema e cidadania, quer durante a resistência à ditadura quer na criação de novos rumos após a Revolução dos Cravos.
O Desobedoc, como foi anunciado aquando da sua criação, retoma e celebra esse espírito rebelde e desobediente, e assume-se persistente, solidário, inconformado, crítico, problematizador, divergente, inclusivo, igualitário.
Nesta mostra de 2 dias de cinema documental, os filmes que aqui serão visionados, como se diz no site do evento, não são apenas retratos da sociedade, mas formas de imaginá-la e de pensá-la.
Assim, a partir de uma reflexão conjunta entre vários coletivos e associações de Braga, foram escolhidas para Braga as seguintes temáticas: Brasil, Maio 68, LGBT, minorias étnicas, migrações e trabalho.
Destacamos, desde já, o Desobedoquinho, a parte da mostra pensada para o público infanto-juvenil, com filmes para crianças dos 3 aos 12. Consideramos essencial para a promoção da literacia cinematográfica bem como para o desenvolvimento da cidadania contemplar o público mais jovem, quer na dimensão de espetadores e quer na de cidadãos. As sessões do Desobedoquinho acontecem no sábado de manhã, dia 5 de maio.
Sobre o Programa destacamos que dos 15 filmes, 12 são portugueses, tendo dois já sido premiados (Intenso Agora e Revolução Industrial).
O programa inclui filmes que passaram em circuitos não comerciais no país, mas que agora chegam a Braga, como Les Invisibles, ou o “O Intenso Agora”. Estão previstas as presenças de realizadores, tais como José Filipe Costa, SAMA, Saguenail, Regina Guimarães, Daniel Leal Machado e Susana Sousa Dias.
Em antestreia pública será apresentado “Luz Obscura”, de Susana Sousa Dias. A realizadora vai estar presente. O filme versa sobre os presos políticos e a Revolução de Abril que é, assim, evocada também nesta 5ª edição do Desobedoc.
No último dia, às 18h passa a curta-metragem “Portugalito”, que serve de mote ao debate Cidade e Cultura, neste caso sobre Braga e o Cinema S. Geraldo.
Cada filme é comentado por mais do que uma pessoa sobre os temas abordados, uma vez que o objetivo do Desobedoc é, também, suscitar o debate.

Programa
4 de maio, 18h00
Nada a Temer, de Luísa Sequeira e SAMA
Portugal | documentário | 30’ | 2017 | M/12
O Brasil não mostra sinais de estabilidade desde as grandes manifestações de 2013. O Impeachment da Presidente Dilma, por alguns considerado como uma solução para a crise, só agravou este processo. Sama é um artista plástico brasileiro que vive em Portugal há alguns anos. Além de trabalhar com desenhos, pinturas, textos e animações, Sama dedica-se também à produção de zines e banda desenhada. Entre os seus temas recorrentes estão o erotismo, a política e os comportamentos sociais que refletem sobre o mal-estar contemporâneo, como a cultura de consumo, as políticas neo-liberais e o impacto das novas tecnologias versus o indivíduo.
Nada a Temer é um zine e um manifesto transmídia dedicado aos recentes eventos da política no Brasil e não só. Neste filme, acompanhamos o autor a testemunhar, e ao mesmo tempo investigar, este momento histórico da frágil democracia brasileira, através de viagens, depoimentos e rápidos registos de intervenção. Nada a Temer é um work in progress documental e emergencial realizado por Luísa Sequeira e pelo próprio Sama.
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O Caso J., de José Filipe Costa
Portugal | ficção | 20’ | 2017 | M/12
Um tribunal é um teatro e a morte pode ser uma montagem. Dois polícias são acusados do extermínio injustificado de J. por um tribunal criminal. A mãe de J. é interrogada pelo advogado de defesa dos polícias, para assim esclarecer quem era o seu filho: qual era a sua profissão? Onde trabalhava? Junto ao seu corpo, foi encontrada droga e uma pistola.
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4 de maio, 21h30
No Intenso Agora, de João Moreira Salles
Brasil| documentário | 127’ | 2016 | M/12
Feito a partir da descoberta das cenas que uma turista – a mãe do realizador – filmou na China em 1966, durante o início da Revolução Cultural, No Intenso Agora trata da natureza efémera dos momentos de grande intensidade emocional. Às cenas da China, somam-se imagens de arquivo dos eventos de 1968 na França, na Checoslováquia e, em menor extensão, no Brasil. Na tradição do filme-ensaio, o documentário interroga como as pessoas que participaram daqueles acontecimentos – vividos com alegria, encantamento, convicção generosa, medo, deceção, desalento – seguiram adiante depois do arrefecimento das paixões.
No Intenso Agora, de João Ferreira Salles – trailer
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4 de maio, 24h00
Les Invisibles, de Sébastien Lifshitz
França | documentário | 110’ | 2012 | M/12
Homens e mulheres, nascidos entre as duas guerras mundiais. Não têm nada em comum a não ser a sua homossexualidade e a decisão de viver assumidamente num tempo em que a sociedade os rejeitava. Hoje, falam-nos das suas vidas pioneiras e de
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5 de maio
11h30 – Desobedoquinho
O Emprego, de Santiago Bou Grasso
Argentina | animação | 7’ | 2008 | M/3
Um homem prepara-se para ir trabalhar num mundo bizarro, onde o significado da força de trabalho humano é levado a outro nível.
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O Medo Não Tem Fim, dos Alunos da Escola Básica do Bom Sucesso, Porto
Portugal | animação | 13’ | 2017 | M/3
De que é que as pessoas, como os nossos avós, tinham medo nos seus tempos de juventude? Os medos seriam diferentes daqueles que sentimos hoje? De que tinham medo, no seu dia – a – dia? Partindo desta temática, procurou-se que as crianças descobrissem histórias junto dos seus familiares e que espelhassem a nossa identidade cultural e social.
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Factory, 365 alunos da Escola Profissional de Tecnologia Psicossocial do Porto
Portugal | animação | 17’ | 2017 | M/3
Sons com a história do tempo levam-nos a escutar o batimento cardíaco da era industrial. A partir da numeração instrumental 365, o gamelão interpreta uma vertigem de cenas fílmicas, de cinza e sombra, ritmos inebriantes impõem a reflexão: somos parte da massa humana que transforma a paisagem, fabricando modos de vida uniformes, ciclos maquinais com o timbre do metal.
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O Balão Vermelho, de Albert Lamorisse
França | ficção | 34’ | 1956 | M/3
Em Paris nos anos 50, Pascal, um menino francês, encontra um grande balão vermelho preso a um poste de luz e decide desamarrá-lo. Inicia-se um jogo entre o menino e o balão, que passeiam e brincam juntos pelas ruas da cidade. Eles fogem de um grupo de meninos que querem destruir o objeto.
Le Balon Rouge, de Albert Lamorisse – trailer
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5 de maio, 14h30
CARRINHA AMARELA alunos do Cerco e Lagarteiro
Portugal | animação | 10’ | 2015 | M/6
Filme experimental que aborda a cultura cigana, as suas danças, músicas e festas, entre outros símbolos, personalizando-o com as suas vivências, vozes e pronúncia.
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Rhoma Acans, de Leonor Teles
Portugal | documentário | 12’ | 2012 | M/6
A história de família de um pai cigano e de uma mãe não cigana serve de inspiração à realizadora para ir à procura do que a sua vida teria sido se o pai, inspirado pela sua própria mãe, não tivesse quebrado a tradição onde nasceu.
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Flores Magras, de Saguenail
Portugal | documentário | 14’ | 2006 | M/6
Por ocasião de uma oficina de iniciação ao cinema, Saguenail descobre a comunidade cigana do Acampamento Azul e constrói um testemunho acerca de uma realidade de miséria e dignidade silenciada pelos poderes instituídos e ostracizada pela população em geral.
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5 de maio, 16h00
Terra Nuclear, de Dinis Leal Machado e Daniel Leal Machado
Portugal | documentário | 37’ | 2016 | M/12
Um rapaz emigra para a Suíça de modo a ajudar economicamente a sua família. Embora a sua intenção de emigrar seja temporária, ele vai adiando sucessivamente o seu retorno, cruzando-se com outros emigrantes e com o referendo contra a imigração de 2014.
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Revolução Industrial, de Tiago Hespanha e Frederico Lobo
Portugal | documentário | 73’ | 2014 | M/12
O Vale do Ave é, desde há mais de um século, um território tomado pela imposição da indústria. Entre ruínas e fábricas em funcionamento, desce-se o rio numa viagem pelas margens do presente, desenterrando as marcas do passado.
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5 de maio, 18h00
Portugalito, de Regina Guimarães
Portugal | documentário | 24’ | 2016 | M/12
O que é que aconteceu em Portugal para que, sem grandes abalos, nos rebaixemos a sermos figurantes nas nossas cidades, meros suplementos de cor local, acréscimos de autenticidade dos cenários destinados ao lazer dos turistas? O que é que nos aconteceu para que na passagem de uma para a outra década tenhamos renunciado a viver como actores da história de um país a reinventar? Para que, como crianças apavoradas por um fantasmático castigo, nos tenhamos transformado em incorrigíveis bambinos e eternos militantes da irresponsabilidade? Portugalito é um panfleto triste contra o nacionalismo e o patriotismo que parecem cada vez mais em voga.
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5 de maio, de 18h30
Debate: Cidade, Cultura, Cinema S. Geraldo
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5 de maio, 21h30
Luz Obscura de Susana Sousa Dias
Portugal | documentário | 76’ | 2017 | M/12
Que rede familiar se esconde por detrás de um único preso político? Como dar corpo a quem desapareceu sem nunca ter tido existência histórica? Partindo de fotografias da polícia política portuguesa (1926-1974), Luz Obscura procura revelar como um sistema autoritário opera na intimidade familiar, fazendo emergir, simultaneamente, zonas de recalcamento actuantes no presente.
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5 de maio, 23h30
Concerto: The Nancy Spungen X-Perience com Cooperativa Ladra
The Nancy Spungen X-Perience é uma banda de Braga, sedeada no Projétil, e que se considera um coletivo de artistas insubordinados. “É um musical de ficção científica onde uma nave espacial de corrida repleta de monstros fracassados, palhaços manhosos, uma princesa maldita, ninjas supersónicos em speed, cowboys surfistas e demónios que vivem debaixo da cama, entra numa espécie de nhanha cósmica e vem ter ao poço, um lugar onde enfim podem dar azo à sua existência e assim viverem felizes para sempre”. A banda tem o formato de septeto e um som forte e denso que lembra uma espécie mista de punk, ska e heavy country norte-americano e ambiência de fundo eletrónica.
A Cooperativa Ladra nasceu no Porto em meados de 2016 pelas mãos de Inês Barbosa e Miguel F com o desejo de explorar novas poéticas e imaginários através da música e do vídeo. As experiências e deambulações pelos lugares por onde vão passando têm inspirado trabalhos imersos em incursões psicadélicas e harmonias terrenas, partindo de gravações de campo, cartografia e sampling de sons e imagens, para a criação de ambientes que recorrem à electrónica, instrumentos acústicos e manipulação de pequenos objectos. Já andaram a trabalhar por alguns festivais como o Festival Quintanilha, TRC Zigur Fest, Binnar, entre outros. O último projeto – “Branca de Neve” – foi apresentado no Club Souto (Roriz) e no Projétil (Braga).