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Joana de Rosa: trabalhar em busca de uma linguagem própria

 

 

Técnica de museologia no Museu de Arte da Fundação Cupertino de Miranda (FCM), em Famalicão, desde 2015, Joana de Rosa desempenha nesta instituição também o papel de monitora em workshops destinados quer à infância quer ao público adulto, sobretudo mais velho. Recentemente, um dos seus trabalhos de ilustração foi selecionado para a Bienal de Ilustração de Guimarães.

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Joana de Rosa – Autorretrato. A caricatura é um dos géneros de ilustração que a artista plástica aprecia realizar.

Nascida em Esposende, a jovem artista plástica tem-se vindo a destacar na área da ilustração, da escultura e da realização de cinema de animação. Joana de Rosa, que completou recentemente, em dezembro passado, 30 anos de idade, obteve o grau de mestre em Ilustração pela Escola Superior Artística do Porto – Guimarães, após se ter licenciado originalmente em Artes Plásticas, na modalidade de Escultura, na Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto. Durante este período, Joana Rosa foi bolseira do programa Erasmus na Academia de Belas Artes de Atenas no ano letivo 2007-2008. Em jovem, praticou Andebol, entre 1995 a 2009, “experiência crucial” no seu crescimento como pessoa.

Após a sua carreira académica, a artista plástica, enquadrar-se-ia no programa Erasmus novamente, mas agora na qualidade de voluntária na associação Erasmus Student Network – Porto, tendo desempenhado as funções de coordenadora do Departamento de Comunicação e Imagem. Entretanto, ainda na qualidade de monitora de workshps, Joana Rosa exerceu as suas funções no âmbito do programa “Universidade Júnior”, da Universidade do Porto, na atividade “Quem pinta, pinta-se” e, desde então, tem sido formadora em workshops de gravura, pintura e ilustração, atividades que desenvolve em paralelo à sua atividade profissional principal na Fundação Cupertino Miranda. Nesta instituição, Joana de Rosa foi uma das monitoras da FCM, juntamente com Mariana Jacob, que orientou a participação de uma das turmas do Centro Escolar Luís de Camões, em 2015/2016, no concurso nacional, promovido pela Direção-Geral de Educação, A Minha Escola Adota um Museu, um Palácio, um Monumento… saindo vencedora do mesmo na categoria Banda Desenhada.

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Combate de Marracuene (500 x 170 cm), Exército Português (200 x 170 cm) e Incêndio de Manjacase (375 x 170 cm). Tinta acrílica s/tela. Março 2011. Coleção Museu Militar do Porto.

Joana Rosa tem visto parte do seu trabalho a ser destacado entre os demais. Encontra-se atualmente representada na coleção do Museu Militar do Porto, com a cenografia do projeto Campanhas Coloniais no Tempo do Leão de Gaza, foi uma das finalistas do concurso da Samsung Vamos Caricaturar Portugal. Participou ainda, ao abrigo do programa Jovens em Ação, da Comissão Europeia, num workshop de marionetas em Dresden, na Alemanha.

Participou em diversas exposições coletivas e tem sido ilustradora convidada em diversos eventos, destacando a VIII Jornadas da Cultura Portuguesa, em Palma de Maiorca. Desde 2015, desempenha a função de técnica de museologia no Museu de Arte da Fundação Cupertino de Miranda, Famalicão. Em simultâneo trabalha como realizadora de cinema de animação e ilustradora freelance e já viu publicados alguns dos seus trabalhos.

Joana Rosa é realizadora de cinema de animação e ilustradora. Joana Rosa desenvolve o seu trabalho com paixão e plasticidade. De acordo com as suas próprias palavras, as suas obras manifestam um desejado ‘refinamento tosco’ que resultam em trabalhos únicos e diferenciados.

No que se refere ao cinema de animação, tem trabalhado inserida no Grupo Creatura, composto também por Eva Mendes e Sara Augusto. O Grupo produziu já 5 curtas-metragens – Ludmilla: Mundo Fantástico, de 2011, Nautilus, Gata Má, Tancovack e o genérico do filme de terror Floresta das Almas Perdidas, a mais recente obra, de 2016. A prática habitual do Grupo Creatura é recorrer à técnica de stop-motion, que consiste em utilizar uma máquina fotográfica ou um computador para fixar as imagens dos modelos utilizados montando-se depois as imagens de modo a criar a ilusão do movimento.

Joana Rosa gosta de ilustrar. Sente-se “fascinada pela abrangência e liberdade sem limites da ilustração que lhe permite esculpir, fotografar, desenhar, pintar; em suma, criar.” Nos seus trabalhos explora diversas vertentes, utilizando diferentes técnicas, cores e suportes em função dos temas e conceitos inerentes a cada um deles, assim se envolvendo com cada processo criativo e testando a sua versatilidade. A artista plástica procura, em cada trabalho, “levar o espectador a refletir sobre a ilustração, a contemplar e entender um possível significado, uma determinada mensagem ou até mesmo uma brincadeira.” Assim, “o humor, por vezes satírico, está também presente em boa parte do seu reportório, ora de forma subtil ora mais às claras.”

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Pormenor do livro “O Planeta Terra”, Março 2014.

Pedro Costa: Em que altura da sua vida percebeu que de facto queria ser artista plástica e/ou compreendeu que o poderia ser mesmo?

Joana de Rosa: Desde sempre adoro desenhar e pintar. A minha família costuma contar que, sempre que queriam que eu fizesse algo contra a minha vontade, prometiam dar-me uma folha e lápis de cor para desenhar. A prova deste meu gosto está escrita no meu álbum de bebé, onde os meus pais foram registando o meu crescimento. Na página referente às vocações, existe uma primeira referência, já em 1997, em que eu dizia querer ser “desenhadora” e “realizar um filme de banda desenhada”. Mais tarde, em 2001, referi que queria seguir Belas Artes.

Essa minha vontade era tão grande que comecei a frequentar aulas de desenho, pintura e escultura aos 12 anos de idade. Assim, estive durante quase 10 anos inscrita na Artezende, um atelier de arte em Esposende.

Sempre existiram, com certeza, momentos de hesitações em relação à vocação, mas no fundo sempre tive certeza de que queria enveredar pelas Artes.

Pedro Costa: Qual o tipo de ilustrações em que prefere trabalhar? Qual o porquê do seu gosto especial pela caricatura?

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Ilustração digital em tablet, aplicação S Memo. 21 x 30 cm cada caricatura. 2012/3.

Joana de Rosa: É difícil definir qual o tipo de ilustrações que prefiro fazer, mas posso dizer que optei pela ilustração porque me fascina a sua abrangência e liberdade sem limites – tanto posso esculpir, como fotografar, desenhar, pintar, colar, criar… Gosto de explorar a técnica, a cor e o suporte de acordo com a temática e conceito de cada trabalho, deixando-me dominar pelo processo criativo e testando a minha versatilidade.

Arriscaria dizer que me agrada muito aquele trabalho em que posso esculpir, pintar e gravar (xilogravura, linogravura). Gosto de tirar o maior partido das texturas, dos relevos, das sombras, da tridimensionalidade, do volume, das pinceladas, da expressividade.

Quanto à caricatura, apareceu muito por acaso no meu percurso. Decidi candidatar-me ao concurso “Vamos Caricaturar Portugal”, da Samsung Portugal, e fui selecionada como finalista em 2012. Até então, só tinha feito uma caricatura em toda a minha vida. A Samsung emprestou um tablet Samsung Galaxy Note a cada um dos selecionados. Se atingíssemos o objetivo de criar 500 caricaturas em 4 meses ofereciam-nos o tablet. E assim aconteceu uma longa jornada de mais de 500 desenhos. Considero ter sido um ponto de viragem na minha carreira, no sentido em que trabalhei muito na busca de uma linguagem própria enquanto artista e apresentei-me ao público em diversos eventos com desenho digital ao vivo. Durante o concurso, fomos convocados para desenhar ao vivo em diversos eventos pelo país. Eu própria procurei locais para o fazer mais perto de casa. Portanto, foi um grande passo para a divulgação do meu trabalho, o que fez com que, mesmo depois do referido concurso, as pessoas me procurassem para encomendarem caricaturas.

Pedro Costa: De entre os seus trabalhos, quais aqueles que mais gostou de fazer quer em livro quer em filme? Porquê?

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“Os sonhos Mortos” de Guilherme de Azevedo do livro “Mare Nostrum – Cantigas & Poemas”. Linogravura s/ papel e edição digital em Photoshop. 21 × 21 cm. Novembro, 2016.

Joana de Rosa: “O Planeta Terra” e “Mare Nostrum – Cantigas & Poemas” são aqueles livros de que mais me orgulho. Gostei muito de “O Planeta Terra” porque foi gratificante constatar uma evolução no meu trabalho. Foi o meu 3º livro infantil publicado. Aprimorei a minha técnica e ficou exatamente como o idealizei na altura. Já em relação a “Mare Nostrum – Cantigas & Poemas” porque foi um projeto que envolveu uma equipa enorme de cerca de 60 pessoas e abrangeu imensas áreas. como a investigação, literatura, ilustração, música e design. Em “Mare Nostrum” tive total liberdade criativa. Ilustrei 10 poemas da literatura portuguesa sobre o mar através da técnica de linogravura em 1 mês. Foi uma decisão arriscada, mas que deu imenso prazer e encheu-me de orgulho. Destaco a ilustração “Os sonhos mortos”, de Guilherme de Azevedo, que é a que considero a melhor conseguida e me concedeu o título de finalista na 1ª Bienal de Ilustração de Guimarães. ao lado de ilustradores de renome a nível nacional e internacional. Saliento, também, a ilustração do poema “A História pequenina de Portugal Gigante”, de António Corrêa de Oliveira, porque frequentei a escola e moro na rua que tem o seu nome, pelo que tenho com esse trabalho uma ligação emocional muito forte.

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“Tancovaka” (frame foi, uma animação em stop motion (00: 04: 29| realizada pelo Grupo Creatura em 2016. A cliente foi uma cantora eslovaca, Hana Šebestová.

Já no que se refere ao meu filme preferido de entre aqueles que produzi até hoje, sem dúvida foi “Gata Má”. Esta foi a primeira curta de animação realizada inteiramente pelas Creatura. Na altura tínhamos as 3 total disponibilidade e trabalhamos ininterruptamente durante um mês e meio para realizar a curta-metragem. Foi um processo demorado e que exigiu muita paciência. Fizemos o trabalho com poucos recursos e sem as instalações mais adequadas. A animação foi inteiramente criada com papel! Mais uma vez, este é um processo que abrange diferentes técnicas: desenho, pintura, escultura, fotografia, som, música, literatura, etc. O trabalho foi reconhecido em diversos festivais a nível nacional e internacional, de entre os quais destaco a seleção para o Festival MotelX, em Lisboa, em que foram selecionados apenas 13 filmes em centenas e centenas de candidaturas.

Vila Nova - famalicão Online | Pedro Costa entrevista Joana de Rosa (Joana de Rosa na BIG em 2017) | joana de rosa - esposende - ilustração - animação - esposende - famalicão - porto - livros - filmes - creatura - entrevista - pedro costaJoana de Rosa na inauguração da exposição da BIG, Centro Cultural Vila Flor, Guimarães. Fotografia da autoria de Rui Sousa, 14 de Outubro de 2017.

1ª Página. Clique aqui e veja tudo o que temos para lhe oferecer.vila nova online - jornal diário digital generalista com sede em vila nova de famalicão

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