30 de janeiro de 2018.
Esta data ficará marcada na história da Vila de Ribeirão. A negro.
Apesar de não o ser de forma totalmente inesperada, a Ricon, uma das suas mais conceituadas empresas e marcas, com mais de 50 anos de vida, encerra hoje as suas portas.
Os quase 800 – algumas fontes referem 600 – empregados das 8 empresas do Grupo Ricon receberam, ontem, as cartas de despedimento enquanto trabalhavam. Foram avisados pelos seus familiares que se encontravam em casa de que estavam a ser despedidos no dia seguinte, informação essa confirmada por um comunicado da empresa referindo que as cartas se fizeram acompanhar da documentação para tratar do subsídio de desemprego.
Centenas de famílias estão já, neste momento, a ser afetadas. Com toda a certeza, o número de pessoas atingidas por esta onda de constrangimento social ultrapassará as 2000 pessoas, a maioria delas pertencentes a famílias residentes nas áreas de Ribeirão e adjacentes, como a Trofa, mas também muitas outras a nível nacional.
Será preciso tempo para sarar uma ferida tão grande. Afinal, não é de ânimo leve que os trabalhadores vão para casa. Sendo certo que o subsídio de desemprego, até ao máximo de um ano e meio para alguns, a situação económica nacional e regional em franca recuperação, com o setor têxtil a constituir um dos motores das exportações, o que permitirá absorver uma parte deste excedente de mão-de-obra desde logo, e os apoios prometidos pelas autarquias, nomeadamente a de Famalicão, sem dúvida o concelho mais afetado, fazem prever que uma pequena parte encontrará novamente trabalho com alguma facilidade. Contudo é bem provável que muitos não o consigam a curto ou médio prazo, em especial os mais velhos e os menos qualificados, dada a enorme quantidade de gente envolvida neste processo.
.A Ricon iniciou a sua atividade nos idos anos 70, período em que, apesar do primeiro choque petrolífero ocorrido em 1972, a confeção têxtil proporcionou enormes ganhos de valor em Portugal.
Depois de um crescimento sustentado, nos últimos anos a Ricon acabaria por diversificar a sua atividade económica com resultados que se verificaram negativos no seu conjunto. Ao facto também não estará alheio o estrangulamento financeiro imposto pela a própria Gant Internacional, a conceituada marca de vestuário de que o grupo era representante, ao decidir “reduzir acentuadamente” as encomendas, de acordo com notícia da TSF de 7 de dezembro passado. Nessa altura, a Gant – de que a empresa dependia em cerca de 70% – passou a exigir o “pagamento imediato” da totalidade da dívida vencida proveniente dos fornecimentos ao setor do retalho”, o que ensombrou sobremaneira o futuro da empresa uma vez que produção e vendas caíram a pique. Em consequência “a capacidade de o grupo cumprir com as suas obrigações com os seus diversos credores, nomeadamente com a banca”, tornou-se inultrapassável. Recorde-se que já aqui há uns anos o grupo têxtil Ricon havia vendido a sua jóia da coroa, a marca Decénio, precisamente devido a dificuldades financeiras que se faziam sentir.
Refira-se que, segundo o administrador Pedro Silva, em declarações prestadas em comunicado enviado aos funcionários da empresa, a empresa “ainda tentou apresentar um plano de recuperação”, mas as negociações acabaram por se revelar infrutíferas dado o elevado valor de créditos em dívida e a posição assumida pela Gant, pelo que o grupo será encerrado e liquidados os seus ativos. No final da missiva, este deixa ainda um agradecimento aos trabalhadores pelo “empenho, dedicação e disponibilidade” ao longo da vida das empresas Ricon.
Acrescente-se que, pelo menos até ao final do ano passado, tanto quanto sabemos, os trabalhadores não possuem salários em atraso.
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Atendendo à gravidade da situação, a autarquia famalicense tem vindo a acompanhar este processo desde o início, em dezembro de 2017, no sentido de perceber e se preparar para o que estava a acontecer.
No imediato, o Município de Vila Nova de Famalicão colocou em funcionamento uma linha de apoio destinada aos trabalhadores do Grupo Ricon, cuja grande maioria são famalicenses.
Para esses famalicenses e seus familiares, a autarquia tem um conjunto de respostas, essencialmente medidas de caráter social e económico que são apostas no combate ao desemprego e no incentivo à inovação e ao empreendedorismo no concelho.
Em primeiro lugar, a autarquia irá funcionar como uma retaguarda social mediante apoios imediatos em necessidades básicas, como a alimentação, educação e despesas com a habitação. Quem precisar de ajuda deverá dirigir-se ao departamento de Ação Social da Câmara Municipal para obter informações sobre os apoios concretos de que poderá beneficiar.
Por outro lado, a autarquia, em colaboração com o Instituto de Emprego e Formação Profissional, encaminhará os trabalhadores para outras oportunidades de emprego, nomeadamente na área do têxtil, setor em atual forte crescimento e onde existe escassez de mão-de-obra, tentando absorver parte desta mão-de-obra em empresas do mesmo ramo.
Além disso, através do Programa Qualifica, os trabalhadores serão incentivados a apostar na formação profissional ou a adquirir novas competências para se inserir noutros setores profissionais ou relançar a sua carreira profissional. Segundo a autarquia divulgou ainda muito recentemente, o Centro Qualifica é uma estrutura que funciona em estreita colaboração com as escolas da Rede Local de Educação e Formação. Prestando serviços de aconselhamento, informação, orientação e encaminhamento para formação qualificante e desenvolvendo processos de reconhecimento, validação e certificação de competências – denominado de Processo de RVCC, este Centro dirige-se a adultos com idade igual ou superior a 18 anos que procuram o reconhecimento das suas competências ou uma qualificação e, excecionalmente, a jovens que não se encontram a estudar e que não estão inseridos no mercado de trabalho, pelo que muitos dos trabalhadores ora desempregados poderão aqui encontrar um apoio suplementar.
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Vila Nova de Famalicão possui atualmente uma taxa de desemprego de 6,5 %, correspondentes a 4500 pessoas que procuram trabalho, média significativamente abaixo dos números nacionais.
Contactos:
Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão: 252 320 900
Instituto do Emprego e Formação Profissional: 252 501 100
Centro Qualifica de Vila Nova de Famalicão: 252 320 931
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Imagens: Arquivo do Município de Vila Nova de Famalicão e logótipo do Grupo Ricon.
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