A Family Romance LLC. é uma empresa que oferece serviços muito peculiares: humanos de substituição para todas as necessidades dos seus clientes, sejam elas profissionais ou pessoais. Uma mãe pede a Yuichi Ishii, o presidente executivo da Family Romance, para se fazer passar pelo marido há muito ausente e restabelecer a ligação com a filha Mahiro, uma adolescente de 12 anos que enfrenta graves dificuldades em lidar com a ausência paterna.
Reflexão sobre a solidão, isolamento e artificialidade nas sociedades modernas, este é um drama ficcional, de inspiração documental, realizado pelo veterano Werner Herzog, autor de filmes como “Grizzly Man”, “Rescue Dawn – Espírito Indomável”, “Polícia sem Lei” e “Rainha do Deserto”.
“Um dos melhores filmes de Werner Herzog nos últimos 10 anos” vai ser exibido pelo Cineclube de Joane na próxima quinta-feira, 5 de novembro, pelas 19h30, em articulação com o festival de artes famalicense Binnar. Nessa sessão, que decorrerá como habitualmente na Casa das Artes de Famalicão, irá também atuar a contrabaixista italiana Caterina Pallazzi, com uma performance de música e projecção do artista F. Sccachiolli
Aluguer de memórias, afetos e identidades
O Cineclube de Joane destaca o ‘aluguer de memórias, afetos e identidades’ em palavras de Hugo Gomes na publicação especializada C7nema:
“Werner Herzog abdica da sua tão célebre (e satirizada até à exaustão) narração naquele que é possivelmente um dos seus filmes mais espirituosos e ternos dos últimos anos.
Partindo em viagem para às metrópoles japonesas, Tóquio como destino assumido, o cineasta alemão vai ao encontro de algo bizarro segundo a perceção ocidental: uma empresa onde é possível alugar um “familiar”, um “amigo” ou qualquer outra forma de afeição. Isto, num país onde a solidão é mais que tudo, uma parte integra da rotina, da existência e do individualismo silenciado. Todavia, nem todos desejam viver sob esses sacrifícios coletivos em prol da nação e, como tal, a “Family Romance, LLC” foi criada para responder às necessidades de alguns.
Ideia inconcebível para quem, como é o caso de muitas realidades da ala ocidentalizada do mundo, a noção de família ou de intimidade são territórios sagrados e indissociáveis à natureza do indivíduo. Herzog vem para alimentar os mitos de exotismo e estranheza quase nos antípodas da sociedade japonesa, e através disso busca a alma do negócio e – por sua vez – o abalo sísmico para com o mesmo. No epicentro desse mesmo estudo está Yuichi Ishii, presidente executivo da empresa que é requisitado para uma das mais árduas tarefas da instituição (contratado por uma mulher solitária para pretender ser o pai da sua filha adolescente).
Por mais bizarro e incómodo que este filme aborde, durante a sua investigação, os efeitos desse isolamento afetivo apenas resolvido pela farsa, manifestam-se as consequências existenciais de Ishii, que questiona constantemente a sua posição enquanto ser humano e a verdadeira essência da sua alma, contagiada pelas diversas vidas de passagem (o próprio compara-se com um camaleão e procura na ideia fixada da morte a resposta para os seus males).
O profissionalismo e rigor pelo qual os japoneses são mundialmente encarados são ingredientes que valham para a cedência do ator improvisado em relação ao seu bem-estar. Mas nem sempre essa camada supostamente fria é impenetrável. Herzog, que começa por interessar-se pelo negócio e o seu processo de execução, abdica (mais uma cedência!) do seu caso de estudo para acompanhar esta crise identitária e as necessidades que vão sendo descobertas em Ishii. A partir daí, o filme encena-se em prol de um teatro de crueldade e de martirologia, pois para consolidar almas inquietas e quebradas pela distância sentimental, o nosso protagonista imola a sua felicidade, o conforto de um lar, os afetos genuínos, e não somente dramatizados.
Um dos melhores filmes de Werner Herzog nos últimos 10 anos”.
Ficha técnica
Título original: Family Romance, LLC. (EUA, 2019, 89 min.); Realização, Argumento e Fotografia: Werner Herzog; Interpretação: Mahiro Tanimoto, Ishii Yuichi; Produção: Roc Morin; Música: Ernst Reijseger; Montagem: Sean Scannell; Distribuição: Legendmain Filmes; Estreia: 12 de Março de 2020; Classificação: M/12
Obs: por força das novas regras devidas à pandemia, e até informações em sentido contrário, o Cineclube de Joane passa a exibir os filmes da sua programação às 19h30.
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Imagens: DR
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