Discriminação | Selma Uamusse à conversa sobre ‘De que falamos quando falamos de racismo’

 

 

A primeira edição do ciclo de conversas e cinema De que falamos quando falamos de racismo, debaterá no gnration, em Braga, a temática do racismo e da discriminação racial, esta quinta e sexta-feira, 29 e 30 de outubro. A conversa é complementada com a exibição do aclamado Sans Soleil, do realizador Chris Marker.

Diferente de quem?

Esta é uma questão que constantemente colocamos, assim fazendo desde logo surgir alguma forma de discriminação. Esta constrói-se sempre a partir da utilização de uma ideia do que não é igual ou semelhante, daquilo que manifesta diferença em relação ao que é comparado.

A ideia é imposta pelo referente, pelo normativo – no caso português, mas também da civilização ocidental em geral, o sujeito branco. A discriminação racial constitui uma construção social da humanidade, com os resultados ignóbeis, históricos e contemporâneos, que se conhecem.

Este é um ciclo de conversas e cinema que partem do trauma do outro diferente, da “antítese” inventada sobre o qual este se define, e que o dão a ver, que o explicam, que o debatem. O tempo que vivemos torna este ciclo imperativo: está na hora de falarmos sobre este preconceito, das suas formas subtis às mais descaradas, da sua história aos dias de hoje. Está também na hora de não sermos indiferentes.

Quem é Selma Uamusse?

Moçambicana pelo nascimento, vive em Portugal desde os 6 anos. Selma Uamusse começou por ser engenheira, mas encontrou o seu caminho no mundo da música. É uma performer incrível, de uma energia contagiante.

Cantora versátil, detentora de uma voz entusiasmante, alterna as suas vocalizações entre coros gospel  e a soul dos Wraygunn de Paulo Furtado, passando por Rodrigo Leão, com quem canta em português, inglês, russo e latim. A história de Selma Uamusse faz-se de muitas cores. A sua agência ‘Ao Sul do Mundo diz dela, de forma encantadora, que a artista “canta o seu mundo, com um mundo dentro de si”.

Sans Soleil, de Chris Marker

O ciclo exibirá ainda Sans Soleil, considerado um dos mais belos e profundos filmes da História do Cinema, realizado em 1983 por Chris Marker.

As cartas de um operador de câmara, enviadas de diferentes lugares do mundo, são o ponto de partida e de chegada de uma reflexão em torno da memória individual e coletiva, origem e destino, história e ficção, imagem e significação. Realizado por Chris Marker, este é um dos mais belos e profundos filmes da História do Cinema. Assistir a Sans Soleil constitui um gesto para além do cinéfilo: é um imperativo filosófico e humanista.

Sobre o filme, deixamo-vos as palavras de Carlos Natálio, no blogue à Pala de Walsh:

“Não nos esqueçamos que esta é uma obra fascinante por direito próprio. Filmado em várias partes do mundo, Sans Soleil é um falso filme geográfico. É antes o tempo a dimensão que importa trabalhar. Como se diz, “(…) au XIXe siècle l’humanité avait reglé ses comptes avec l’espace, et que l’enjeu du XXe était la coahabitacion des temps”. Desde as primeiras frases da belíssima voz off de Florence Delay que as palavras convocam uma torrente demencial de imagens. Estas são colocadas num “tempo infernal”, onde a montagem como geografia criativa, cola argumentos, associações afectivas, e outras quaisquer “choses qui font battre le coeur”.

E acrescenta-se: “É nesse vórtice temporal que Sans Soleil é uma meditação sobre tudo, sobre a viagem, o consumismo, as sociedades africanas, a metrópole de Tóquio, a nostalgia, a televisão, o cansaço, a história, ou as memórias impossíveis de Vertigo (A Mulher que Viveu Duas Vezes, 1958) de Alfred Hitchcock”.

“E nós? Que fazer perante este tudo, apresentado em “ataque” ao intelecto e à percepção? Resta-nos, quem sabe, entrar calmamente na Zona, a Zona do espectador, onde por momentos o voyeur tomará o lugar do “voyeurizado”. E essa talvez seja uma outra “imagem de felicidade”, conclui o comentador.

Sans Soleil, escrito e realizado por chris marker / narração inglesa por alexandra stewart / música de michael krasna / frança / 1983 / 104 min. / cor.

De que falamos quando falamos de racismo regressará a 20 e 21 novembro, com Cristina Roldão e I’m Not Your Negro, e a 3 dezembro, com Lúcia Gomes.

Obs1: conversas grátis, mas sujeitas a levantamento prévio de bilhete; filmes com um custo de 3,00 eur.
Obs2: artigos atualizado em 28102020, 22h48, com informação biográfica sobre Selma Uamusse.

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