Aos primeiros passos da (recém-apresentada) nova temporada d’A Oficina, a lotação da primeira criação teatral a ocupar o Grande Auditório do Centro Cultural Vila Flor – que este mês assinala o seu 15º aniversário – esgota-se a cerca de duas semanas da apresentação ao público. As honras de destaque do desejado regresso à vivência dos seus auditórios vão para Tiago Rodrigues – recentemente distinguido com o Prémio Pessoa 2019 – que leva ao CCVF a estreia absoluta da sua mais recente encenação, Catarina e a beleza de matar fascistas, uma produção do Teatro Nacional D. Maria II em ampla coprodução com outras entidades, entre as quais A Oficina. Respondendo à vontade do público e com a lotação da apresentação de 19 de setembro (às 21h30) já esgotada, fica a partir de hoje disponível a oportunidade para garantir presença numa apresentação extraordinária a decorrer no dia 20 pelas 17h00.
Obra atravessada por conflitos éticos e morais
Nesta nova criação de Tiago Rodrigues, Catarina e a beleza de matar fascistas, uma família reúne-se numa casa no Sul de Portugal para cumprir uma tradição anual antiga: matar um fascista. Num dia que se adivinha de festa, beleza e morte, chega a vez de Catarina, uma das mais jovens mulheres desta família, matar pela primeira vez. Mas Catarina é incapaz de matar e o conflito instala-se, enquanto o fantasma de uma outra Catarina – a ceifeira de apelido Eufémia assassinada em 1954, em Baleizão, durante a ditadura fascista – aparece e várias questões se erguem. O que é um fascista? Há lugar para a violência na luta por um mundo melhor? Podemos violar as regras da democracia para melhor a defender?
Com o mundo e a estrutura de valores que conhecemos a mudarem a grande velocidade, este é talvez o momento certo para o teatro usar os seus artifícios e nos transportar para um tempo futuro que melhor nos fale do tempo presente. Foi este olhar alegórico, em contraponto a um olhar documental inicial, que Tiago Rodrigues tomou como nova premissa desta peça, uma vez que a pandemia e a crescente impotência das democracias face aos populismos vieram agudizar as questões nela em causa. Um tema que ecoa com “a ameaça da ascensão dos novos fascismos populistas na Europa”, que questiona “como lidar com essa realidade” e que aborda “o lugar do feminismo na sociedade”.
Nas palavras do criador, Catarina e a beleza de matar fascistas joga com o mundo ao contrário. Como se a violência enquanto gesto de resistência ou de combate político fosse uma coisa normal. Como um poema distópico, o espetáculo afasta-se da realidade para melhor nos aproximar dela, ensaiando uma negociação poética com a cultura popular tradicional, dos poemas à orquestração e figurinos. O teatro é assim uma forma coletiva de projeção no futuro que nos cabe construir.
Além da predominância de figuras femininas fora do comum e da reincidência do “uso da memória para construir o presente ou para projetar o futuro”, a linguagem do dramaturgo Tiago Rodrigues é percorrida pela tragédia e salpicada pelo humor. Como se se pudesse atravessar um drama com um sorriso ou como se deixasse “uma cobra venenosa por debaixo dos malmequeres”. O objetivo é fazer com “que o teatro não se leve demasiado a sério” porque o palco é “uma celebração, um jogo”.
Encenador Tiago Rodrigues distinguido com Prémio Pessoa em 2019
Tiago Rodrigues é encenador, dramaturgo e ator, ofício iniciado há cerca de duas décadas. Cofundador da companhia Mundo Perfeito, é atualmente o diretor artístico do Teatro Nacional D. Maria II. Please please please, Sopro, António e Cleópatra e By Heart são outras das suas peças mais recentes. Em 2018, foi galardoado com o XV Prémio Europa Realidades Teatrais. No mesmo ano, foi distinguido pela República Francesa com o título Chevalier de l’Ordre des Arts et des Lettres (Cavaleiro da Ordem das Artes e Letras). Mais recentemente, foi o vencedor do Prémio Pessoa 2019.
Ampla coprodução internacional
Com texto e encenação de Tiago Rodrigues, esta produção do Teatro Nacional D. Maria II conta com um corpo de oito atores portugueses – António Fonseca, Beatriz Maia, Isabel Abreu, Marco Mendonça, Pedro Gil, Romeu Costa, Rui M. Silva, Sara Barros Leitão – e com cenografia de F. Ribeiro. Os figurinos são da responsabilidade de José António Tenente, o desenho de luz de Nuno Meira e a sonoplastia está a cargo de Pedro Costa.
Catarina e a beleza de matar fascistas é uma ampla coprodução liderada pelo Teatro Nacional D. Maria II, com o apoio do Centro Cultural Vila Flor (Guimarães) e O Espaço do Tempo (Montemor-o-Novo), mas também de Wiener Festwochen, Emilia Romagna Teatro Fondazione (Modena), ThéâtredelaCité – CDN Toulouse Occitanie & Théâtre Garonne Scène européenne Toulouse, Festival d’Automne à Paris & Théâtre des Bouffes du Nord, Teatro di Roma – Teatro Nazionale, Hrvatsko Narodno Kazalište (Zagreb), Comédie de Caen, Théâtre de Liège, Maison de la Culture d’Amiens, BIT Teatergarasjen (Bergen), Le Trident – Scène nationale de Cherbourg-en-Cotentin, Teatre Lliure (Barcelona).
Atingida a lotação máxima da primeira apresentação deste espetáculo, a decorrer a 19 de setembro (sábado) pelas 21h30, os bilhetes para a nova apresentação do próximo dia 20 (domingo), às 17h00, podem ser adquiridos por um valor de 10 euros ou 7,50 euros com desconto nas bilheteiras de equipamentos geridos pel’A Oficina como o Centro Cultural Vila Flor, a Casa da Memória de Guimarães, o Centro Internacional das Artes José de Guimarães ou a Loja Oficina, bem como nas lojas Fnac, Worten e El Corte Inglés ou online em A Oficina.
Fonte: Oficina; Imagens: Pedro Macedo
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