Do ponto de vista das disciplinas culturais e académicas tradicionais, a Arte e a Arqueologia têm relações confortáveis: colaboração, co-inspiração, objetivos partilhados para o conhecimento avançado do comportamento e pensamento humano. A arte/arqueologia, uma nova prática transdisciplinar, fraturou essa perspetiva, sendo que a exposição Creative (un)makings leva, pela primeira vez, essa perturbação ao mundo dos museus. A exposição inaugura, no Museu Internacional de Escultura Contemporânea (MIEC), em Santo Tirso, no próximo dia 6 de março e prolonga-se até 14 de junho. A 7 de março, pensadores e artistas irão debater o assunto numa conferência internacional preparada para o efeito.
A arte/arqueologia argumenta que escrever e pensar acerca do passado deve ir além das barreiras comuns de ambas as disciplinas, e que o trabalho criativo deve substituir os textos escritos e palestras. A arte/arqueologia abre um novo espaço onde o trabalho criativo, o pensamento e o debate expandem em direções inesperadas, onde encontramos potenciais inovadores para os objetos do passado.
“Como vamos além da prática de uma arqueologia da arte que normalmente vê artefactos como objetos artísticos para examinar e interpretar? Existe algum território novo disponível para trabalharmos para além dos caminhos desgastados, quer por artistas contemporâneos (como Mark Dion) que brincam com materiais arqueológicos para fazerem as suas instalações em museus e galerias, quer por arqueólogos que procuram nos artistas modernos (como Anthony Gormley) novas formas de explicar os comportamentos e padrões do passado?”, interroga-se a organização.
Na conferência associada a esta nova exposição do MIEC, a organização propõe que um caminho a seguir será explorar os potenciais da arte/arqueologia. A sua proposta é ir além dos esforços tradicionais para explicar ou interpretar o passado, e que tal seja feito de forma criativa e com impacto nas sociedades contemporâneas. “Dar este passo é romper com tradições da prática e pensamento arqueológico de longa duração. A arte/arqueologia segue três fases: desarticulação (i.e., separar um objeto do contexto histórico); reaproveitamento (i.e., usar esse objeto como matéria prima para fazer novo trabalho criativo); e disrupção (i.e., adaptar esse novo trabalho criativo de forma a criar impacto no debate social e político contemporâneo)”.
Não é que as formas habituais de estudar o passado e explicar padrões e causas do comportamento humano sejam inválidas ou desnecessárias; pelo contrário, estes são de enorme valor e importância para conhecermos o mundo em que vivemos, de onde viemos e para onde vamos. Em vez disso, a nossa sugestão é que existe um método adicional (alternativo) de tratar os vestígios do passado, e que esta alternativa desloca o nosso trabalho para outros domínios de atividade e consequência. O resultado (a arte/arqueologia) é nem arte, nem arqueologia, mas um convite à exploração de territórios desconhecidos para lá das fronteiras de ambas as disciplinas. Arte/arqueologia: infundida no passado, libertada das limitações de significado e interpretação, com efeito no presente.
Creative (un)makings: disruptions in art/archaeology apresenta esta nova abordagem ao passado em três instalações provocadoras. A primeira (Releasing the Archive) apresenta fotografias e vídeos com o objetivo de virar do avesso os valores padrão que as coleções museológicas e institucionais usam para preservar os objetos e imagens históricos. A segunda instalação (Beyond Reconstruction) mostra uma matriz de fragmentos cerâmicos que resultaram da construção/desconstrução de uma figura; inclui, ainda, fotografias documentais dos trabalhos, realça os limites da reconstrução arqueológica e abre um espaço criativo mais além. A terceira instalação (Ineligible) emprega artefactos de uma escavação em São Francisco, utilizando-os como matéria-prima com o propósito de produzir novos trabalhos artísticos que estimulem os pensamentos dos visitantes dos museus acerca de assuntos políticos e sociais modernos, como os sem-abrigo ou a desigualdade salarial.
Programa da Conferência Internacional
14:30 Art/Archaeology: Releasing the Archive and the Ineligible project Doug Bailey (Universidade de São Francisco, EUA)
15:00 Finding a foothold: strategies for creating with found objects Dov Ganchrow (Academia de Artes e Design de Bezalel, Israel)
15:30 Contact paintings Simon Callery (Artista Independente, Reino Unido)
16:00 We don’t break through the surface Patrik Elgström and Jenny Magnusson (Artistas Independentes, Suécia)
16:30 Collaborative bodies in the (un)making Suvi Tuominen (Universidade de Artes de Helsínquia, Finlândia)
17:30 Homelessness in the Living Room Jana Sophia Nolle (Artista Independente, EUA/Alemanha)
18:00 On the aesthetic in art/archaeologybMarko Marila (Universidade de Helsínquia, Finlândia)
Fonte: MIEC; Imagens: (0) Alvaro Minguito Palomares, (1) Jana Sophia Nolle, (2) Doug Bailey/Belas Artes Lisboa
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