‘Um poemário para vazar os cansaços’, assim define a autora Manuella Bezerra de Melo o seu segundo livro de poemas ‘Pés pequenos pra tanto corpo’ publicado pela Editora Urutau em Portugal e no Brasil. A primeira apresentação ao público está marcada para o próximo dia 22 de junho, pelas 16h00, na Biblioteca Lúcio Craveiro da Silva, em Braga.
‘Pés pequenos pra tanto corpo’ é o segundo livro de poemas da autora – poeta, cronista – de que é exemplo “Um mundo com mais respeito e tolerância com as mulheres” -, autora e contadora de histórias infanto-juvenis. O texto de apresentação, de orelha a orelha, é redigido pela vencedora do prémio Agustina Bessa Luís, Judite Canha Fernandes. Antes disso, Manuella Bezerra de Melo publicara, previamente, em 2017, Desanônima (Autografia), quando viveu nas Serras de Córdoba, e, num outro registo, o livro infantil Existem Sonhos na Rua Amarela (Multifoco, 2018), já em Portugal. Participou também na antologia Pedaladas Poéticas (Aquarela Brasileira, 2017).
“Não sei se mudei multipliquei
se subtraí alguma eu de mim
se me somei posso ter inflado
ou esvaziado mas já não sou
mais ela aquela magrela tagarela
insegura gazela cheirando a mar
não sei se alcancei aquela moça
que desenhei ou se nesse projeto
fui vitoriosa ou me equivoquei
alcei voo depois posei em cima
da fiação eletrifiquei morri feito
urubu malcriado ou burro ou tonto
pensando ser subversivo mudou tanto
tanta coisa mas manteve o velho hábito”
Há dois anos a viver em Portugal, onde frequenta o mestrado em Teoria da Literatura na Universidade do Minho após uma experiência na Região de Córdoba, na Argentina, Manuella Bezerra de Melo é entusiasta das mudanças e encontra nas distâncias os silêncios necessários para ouvir os poemas que escreve; e cedo ou tarde acaba sempre por voltar a partir. “Como estou sempre em trânsito, nunca descanso. Desta caminhada vem o peso do cansaço”, refere Manuella. “Tenho a impressão que uma voz me manda embora. É dessa inquietude que crio os meus poemas; eles evitam a morte dos meus silêncios, e por isto, a minha própria morte”, esclarece.
Atualmente, a autora reside em Guimarães, cidade chamada de berço de Portugal, após uma passagem inicial por Braga, cidade onde agora dá a conhecer o seu novo livro. Estas são no entanto apenas duas das várias cidades que já chamou de casa.
Pós-graduada em Literatura Brasileira e Interculturalidade, a autora acredita que Pés pequenos pra tanto corpo relaciona o trânsito entre Brasil e Portugal, a vivência migrante, o olhar distante – mas atento – ao país e à língua materna, a hibridação lusófona do entre-lugar europeu e latino, os sentimentos de dor e empatia e o profundo respeito aos outros do mundo.
Jornalista nascida em Pernambuco, cidade onde também nasceram nomes maiores da literatura brasileira como Manuel Bandeira e João Cabral de Melo Neto, Manuella Bezerra de Melo trabalhou também como repórter. Talvez daí um certo caráter político presente na obra, confessa a poetisa. “Leio a sociedade pela literatura. Vivo neste tempo, escrevo neste tempo, sou entusiasmada pelas vivências dele. Vejo a literatura como um direito, um espaço p’ra enfrentar a hegemonia”, conclui. Por isso, escreve não só sobre o peso de carregar o seu corpo exausto, mas também sobre a dor das mulheres e as violências por que passam seus corpos, sobre opressões, utopias e liberdade, mas também sobre a angústia de ser espectadora privilegiada e inútil da barbárie.
Judite Canha Fernandes afirma que “a sua busca é algo que me vai escapar sempre… Manuella escreve versos – por exemplo, “os outros são somente / onde eu gostaria de morar / pra não ter que morar em mim” – que me oferecem um lugar parado no tempo, o colapso dos ruídos à minha volta, o esquecer de minha própria consciência que parece nunca querer dormir. Espero que vos possam oferecer algo de semelhante”.
Para além de algumas livrarias, em Portugal e no Brasil este poemário pode ser encontrado à venda no site da editora Urutau.
Imagens: Urutau
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