História | ‘Casa de Recordações’ evoca 400 anos de Portugal até à liberdade de Abril

 

 

Parte do fantástico acervo de objetos de outros tempos, da arte sacra aos autocolantes políticos do período pós-25 de Abril, da casa de César Príncipe, jornalista, colecionador e divulgador cultural portuense, invadiu o Museu da Quinta de Santiago. A exposição “Casa de Recordações – da Monarchia à Res Publica” abriu as portas anteontem, 25 de abril, e estará patente ao público até 30 de junho.

 

 

Integrada no programa municipal de comemoração dos 45 anos da Revolução de 25 de abril de 1974, a exposição ficará patente até 30 de junho. Mais do que ícones do seu tempo, os objetos reunidos por César Príncipe – arte sacra portuguesa e flamenga dos séculos XVI a XVIII, peças decorativas, esculturas, pinturas, artefactos do quotidiano, fotografias, selos, medalhas e moedas, mas também pins, autocolantes, cartazes, gravuras, serigrafias, litografias, caricaturas, folhetos, panfletos e manuscritos – ajudam a contar a história de quatro séculos de Portugal pretendem constituir-se como janelas abertas para o tempo passado, instigando os visitantes a refletir, investigar e descobrir.

“A ponderação que um dos mais brilhantes intelectuais portuenses nos propõe permite dar continuidade e consistência ao programa museológico de um espaço que, ligado à memória da fidalguia de outrora, cumpre hoje, e de modo exemplar, a tão republicana e libertária tarefa de instruir e ilustrar, renovando e reinterpretando o entendimento possível sobre a arte, o impulso estético, o testemunho da cultura sobre a espuma dos dias que passam”, considera a presidente da Câmara Municipal de Matosinhos, Luísa Salgueiro, no texto que escreveu para o catálogo de “Casa de Recordações – da Monarchia à Res Publica”.

Assente em três núcleos fundamentais – “Praça da Monarchia”, “Praça do Império” e “Praças da República” –, a exposição passa em revista objetos, documentos e obras de arte que cobrem um período que vai do século XVI ao final do século XX. Dos pesados livros que guardam as linhagens da monarquia e da casa real portuguesa aos autocolantes da campanha presidencial de Otelo Saraiva de Carvalho, César Príncipe recolheu e colecionou quase tudo o que encontrou pela frente, incluindo escarradeiras portáteis, caixas de rapé, discos de vinil com discursos do Movimento das Forças Armadas, revistas, edições raras de livros imortais, bolas de futebol, o último manual escolar da monarquia, panfletos da resistência clandestina a Salazar ou cartas a aprazar duelos.

Não faltam também as obras de arte, de uma estatueta equestre de Gustavo Bastos a um dos muitos cavalos que Álvaro Siza Vieira desenhou, sem esquecer a documentação sobre os ofícios mais ou menos tradicionais, iconografia relativa à evolução do papel da mulher na sociedade ou uma sala dedicada à memória local do Porto e de Matosinhos. O resultado assemelha-se ao cruzamento de um fascinante inventário de bricabraque com a nostalgia minuciosa de um arquivista.

 

“Abrir frentes de inovação, memorização e problematização justificará uma existência, mesmo fugaz. As utopias não estão nas agendas. Mas a Casa de Recordações prezaria ser uma Casa de Interpelações”, escreveu César Príncipe no texto de introdução deste delírio colecionista. “Num momento em que, outra vez, voltam a pairar sobre a Europa os espetros sinistros do pensamento unívoco e do autoritarismo, do isolacionismo e da intolerância, os objetos reunidos por César Príncipe, e a reflexão que através deles nos propõe, afiguram-se como uma forma significativa de assinalar os 45 anos da liberdade conquistada em Abril de 1974”, considera o vereador da Cultura da Câmara Municipal de Matosinhos, Fernando Rocha.

O espaço do Museu da Quinta de Santiago acabou, de resto, por ser insuficiente para albergar todo o acervo. Muitos objetos ficaram de fora da exposição, que, por outro lado, obrigou à abertura ao público de salas que normalmente não são utilizadas para fins expositivos.

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