No dia 8 de Setembro, o calendário litúrgico cristão assinala o nascimento de Maria, mãe de Jesus. Trata-se de uma oportunidade privilegiada para uma reflexão sobre o papel de Maria na espiritualidade contemporânea.
A História ajuda-nos a compreender as diferenças entre as diversas confissões cristãs sobre o papel de Maria.
Os caminhos do cristianismo bifurcaram-se ao longo dos séculos e com ela a perceção sobre o papel de Maria. Nas Igrejas do Oriente, a devoção mariana começou no século III enquanto no Ocidente torna-se algo mais relevante no século IV, mas foi a partir do século X que esta devoção teve uma expressão mais significativa na religiosidade popular e na liturgia. Mais tarde, com a Reforma Protestante, há um afastamento com a conceção da veneração de Maria professada pela Igreja Católica Romana.
Nas últimas décadas, têm sido criadas condições para desvendar e vir à luz o rosto humano de Maria, revelando a Maria das Escrituras, a mulher de Nazaré que aceitou, acolheu e testemunhou o chamamento de Deus.
Esse novo percurso tem sido enriquecido por estudos, diálogos, encontros locais e internacionais, com o envolvimento de cristãos de diversas confissões e mesmo de outras pessoas que não são cristãs.
De modo a abrir caminho para uma imagem de Maria adequado à realidade do século XXI, parecem importantes as seguintes linhas orientadoras:
Em primeiro lugar, segundo o Novo Testamento e outros escritos cristãos primitivos, Maria constitui um ser plenamente humano e nada tem de um ser celeste. Maria é a mãe de Jesus. Mas não só. As escrituras do Novo Testamento falam claramente dos irmãos e das irmãs de Jesus. Por exemplo, o Evangelho de Mateus menciona : “Não é ele o filho do carpinteiro? Não se chama a sua mãe Maria, e os seus irmãos Tiago, José, Simão e Judas? Suas irmãs não estão todas entre nós? (Mt 13, 55-56).
Paulo, na Carta aos Gálatas, refere- se ao seu encontro em Jerusalém com Tiago, denominado como “irmão do Senhor”. (Gl. 1, 19).
John P. Meier, possivelmente um dos maiores especialistas em exegese histórica dos Evangelhos, escreveu: “Se o historiador ou exegeta – deixando de lado a fé e a posterior doutrina da Igreja – for solicitado a emitir um julgamento sobre o Novo Testamento (…), encarados apenas como fontes históricas, a opinião (…) é que os irmãos de Jesus eram legítimos.” Esta perspetiva é cada vez mais partilhada por um número crescente de especialistas no estudo das escrituras cristãs.
Sendo mulher e mãe, ela manifesta a plena humanidade de Jesus, que não contradiz a fé de que a existência de Jesus se explica, em última instância, a partir de Deus. A este respeito, é importante referir que o próprio Joseph Ratzinger, o papa emérito Bento XVI, escreveu em 1969: “A filiação divina de Jesus não se baseia (…) no facto de Jesus não ter pai humano; a doutrina da divindade de Jesus não seria posta em causa se Jesus fosse o fruto de um casamento normal.”
Em segundo lugar, Maria constitui um modelo de fé. As palavras de Maria, no Novo Testamento, revelam uma espiritualidade profunda e conservam na atualidade todo o sentido. Maria louva Deus que derrubou os poderosos e exaltou os humildes, como demonstra no sublime cântico do Magnificat, que tem uma profunda relevância espiritual e social. O seu papel foi relevante na forma revolucionária como Jesus encarava as mulheres e o seu papel espiritual e social. Jesus foi um grande defensor da dignidade feminina, convidando inclusive mulheres para o seu círculo mais íntimo de discípulos. Recorde-se o papel fundamental de Maria Madalena e de outras mulheres nas comunidades primitivas.
Maria, ou melhor, Myriam, uma mulher judia, que foi esposa e mãe, que viveu por Jesus e com ele. Mas que nunca perdeu a esperança inclusive nas circunstâncias mais adversas e trágicas. Que conhecemos por causa de Jesus. Porque cada criança é um espelho da sua mãe. Partilhando em tudo a nossa condição humana, mas que contribuiu para transformar a História.
Imagem: Kissing the Face of God (Morgan Weistling; em Catholic Match Institute)
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