Cultura | “Cultura: que apoios, que futuro?”

 

Cultura: que apoios, que futuro?”, foi o mote do debate que decorreu no Museu Bernardino Machado, no passado dia 16 de junho e que juntou à volta da mesa dois deputados do Bloco de Esquerda, Pedro Soares, eleito pelo círculo eleitoral do distrito de Braga, e Jorge Campos, eleito pelo círculo eleitoral do distrito do Porto e membro da Comissão de Cultura da Assembleia da República, Álvaro Santos, programador e diretor artístico da Casa das Artes de Vila Nova de Famalicão, Bruno Martins, actor e programador artístico do Teatro da Didascália, e Luís Serguilha, poeta ensaísta e curador do evento cultural “Raias-Poéticas: Afluentes Ibero-Afro-Americanos de Arte e Pensamento”.

.

.

O debate enquadra-se num conjunto de iniciativas que os responsáveis locais do Bloco de Esquerda pretendem levar a cabo, fomentando o debate público e a participação cívica no concelho. A noção de que a cultura é uma dimensão fundamental da nossa qualidade de vida, de que “nem só de pão vive o Homem”, mereceu consenso entre os participantes. De mais difícil consenso, pela complexidade da questão, é o novo modelo de apoio às artes.

O programador artístico do Teatro da Didascália, Bruno Martins, destacou a falta de uma estratégia nacional integrada neste domínio, que favorecesse, inclusivamente, a internacionalização da cultura portuguesa. Falta uma visão de conjunto, de valorização das artes e de dignificação dos seus profissionais. Considerou, no entanto, que, com todos os defeitos que se lhe possam apontar, o novo modelo foi de certo modo revolucionário, ao alterar o paradigma vigente. A contestação de que foi alvo é um sinal disso, não resultando apenas do facto de que o orçamento é manifestamente incipiente.

Álvaro Santos, o programador e diretor artístico da Casa das Artes de Vila Nova de Famalicão, referiu-se à importância da criação de uma Rede de Teatros Municipais, à necessidade de formação de públicos, de incentivo à criação, e de articulação com as escolas artísticas, domínio em que considera ter sido dado um enorme salto qualitativo, que importa saber gerir. Considerou que estamos hoje ao nível do resto dos países da Europa, no que respeita à qualidade do ensino artístico e da criação, falta equipararmo-nos no que respeita às condições laborais e dos direitos dos trabalhadores das artes, através, por exemplo, da consagração do “Estatuto do Artista”, que até hoje ainda não foi criado.

O poeta Luís Serguilha inflamou a sala com as suas dissertações em torno da relação entre poder e cultura, afirmando que a arte tem que ser um processo emancipatório, intensificador do pensamento, que a cultura é o “trágico alegre”, que é necessário contrariar a “cultura do túmulo” tantas vezes sobrevalorizada, em detrimento de processos criativos e libertadores, que sirvam as pessoas e não os poderes instalados. Criticou o facto de que, sendo a elaboração de um orçamento algo que implica escolhas, muitas das vezes a opção é o situacionismo.

Pedro Soares e Jorge Campos, apresentaram a posição do partido pelo qual foram eleitos, nesta matéria, salientado que o actual orçamento da cultura é residual, que é fundamental aumentar a afectação de recursos financeiros aos diversos domínios da cultura, nomeadamente, às artes e que o Bloco de Esquerda tudo fará, com a força que os 10% da votação popular lhe conferiu, para que isso aconteça.

Ao longo do debate, os diversos intervenientes foram “desmontando” a ideia da aparente contradição entre cultura popular e cultura erudita, ideia “fascizante” no entender de Luís Serguilha. Álvaro Santos destacou, a este propósito, que “a erudição é uma oportunidade para todos”. É precisamente esse o objetivo de quem organizou o debate, a Concelhia do Bloco de Esquerda de Vila Nova de Famalicão, é que haja mais oportunidade para todos!

.

Obs: O debate Cultura: que apoios, que futuro? foi moderado pela autora.

 

Deixe um comentário