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Menino Jesus, estás online?

 

 

MENINO JESUS, estás online?

O Natal aproxima-se e lembrei-me agora que, na minha infância, te escrevia cartas com grande entusiasmo, magia e sempre muito certa da tua existência infinita. Olhava para o sótão com os olhinhos luzentes de uma menina feliz e via-te. Sim, eu via, não imaginava! A tua mãozinha vinda do céu era descrita por mim com grande pormenor, minúcia e singularidade aos adultos que, com grande espanto, me davam toda a atenção. Na verdade, eles ficavam abismados e submergidos com o detalhe da minha narração. Ainda hoje, sempre que chega o Natal, tudo se me afigura tão autêntico e real!

Atento ao que sou hoje, ao mundo que me envolve e, sem necessitar de grande tato, reparo logo que, nos nossos dias, andamos tão absorvidos pela comunicação tecnológica que se torna altamente improvável a plenitude da tua comunicação com o mundo. Por isso, questiono:

Menino Jesus!?…

Parece-me inequívoco que o sentido das coisas e o modo de atuação dos seres humanos sofreu alterações abruptas e inacreditáveis. Verificamos que os princípios fundadores da ação humana, o próprio conceito do que é ser humano, está altamente alimentado pela idealização estereotipada que estes seres engendraram para si: projeções de beleza, de perfeição, partilha de momentos sempre felizes, homens e mulheres sempre realizados pessoal e profissionalmente. Curioso, também, não deixa de ser o facto de que as provas dessa realização são dadas online em posts ao minuto nas redes sociais, em imagens photoshop que projetam o eu para o outro, mediatizado no instante seguinte e perpetuado em likes. Assistimos à revelação de um si alienado que só se “consubstancia” projetado para o lado de fora, numa inequívoca inversão do processo de autoconhecimento e autopromoção do eu.

Riqueza do nascimento sente-se no presépio iluminado

Menino Jesus, que te revelaste ao mundo numa simplicidade sem fim, deitado na manjedoura, sem comodidades, confortos ou roupagens requintadas… Menino Jesus, que te viste envolvido na quentura de um bafejo animalesco, como observarás o nosso mundo das coisas que invadiu as nossas casas e às vezes impossibilita a incursão da riqueza do ser?

Menino Jesus, na realidade, infelizmente, as manjedouras, ainda que muito distintas, continuam a existir, mas apenas em mundos ocultos, na invisibilidade e sempre encobertas pelas que alardeiam e carregam todo o conforto do mundo. Os refugiados ainda vivem numa incivilização do amor, num desprestígio atroz da força da humanidade e, até mesmo no Natal, se compactua com este mundo malévolo.

Menino Jesus, apesar de não ser capaz de precisar se estás ou não online, estou certa que, no dia de Natal, a tua mãozinha vai continuar bem presente no meu coração. Posso estar contente ou triste, mas a nossa conexão é exatamente a mesma, pois estaremos conectados na rede atmosférica do amor, aquela que vai daqui até ao infinito… e se enlaça na beleza dos transcendentais.

Olhei para o meu presépio todo iluminado, com os olhos rasgados de ternura e notei tanto a tua presença como a riqueza do teu nascimento.

Amor que abre as portas do coração

Menino Jesus, a menina pequenina a quem fizeste brilhar os ‘olhinhos luzentes’ cresceu, mas continua a observar-te com o mesmo encanto, a mesma atenção e amor.

Este amor vem de dentro, não está espelhado nas vitrinas, mas circula livremente, na epiderme dos gestos mais simples e sentidos.

Este nosso amor tem fôlego, ressuscita em cada gesto e abre as portas do coração.

Menino Jesus, estás online.

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