Tag "Dar Coisas aos Nomes"
O negro irregular da ruína: entre Tolstoi e Rui Nunes
[ecos] «O poema ensina a cair / sobre os vários solos […]» (Luiza Neto Jorge, Poesia, p. 141) «Cai o texto na suavidade da noite _______ cais, e
Emanuel Jorge Botelho: uma sombra no risco da noite
«vem de longe a calamidade, a imaginária sombra». Assim começa um poema de Emanuel Jorge Botelho, num livro que data de 1982, intitulado Cesuras. Encima-o, numa epígrafe, a
Dança de signos: escrever para teatro, lendo Rui Pina Coelho
1. «Doem-me as pernas. / A maior parte dos dias sinto-me como se / estivesse numa peça de Beckett.» Começo por citar esta fala de uma das personagens,
Os enredos da eternidade
Roy Andersson (n. 1943) é um realizador sueco, natural de Gotemburgo. As suas primeiras incursões pelo cinema denunciavam um comprometimento social mais explícito, na linha do neorrealismo italiano.
Louise Glück e a vida das plantas
«At the end of my suffering / there was a door.» Os primeiros versos de A Íris Selvagem começaram por ser um rumor persistente na cabeça de Louise
Criar relações pela arte: livros e fotografia, um projecto da Terceira Pessoa
No dia 6 de Novembro, a Casa Amarela – Galeria Municipal de Castelo Branco abriu as portas ao público para inaugurar a exposição de três criações fotográficas integradas
A vida é puta: ou a poesia face à iminência da morte
1. Vinte e cinco anos depois da sua estreia, o filme Se7en – Sete Pecados Mortais, com realização de David Fincher, continua a ser elevado como precursor de
Quem da pátria sai a si mesmo escapa?
1. Há uma ideia solenemente repetida, e com profunda e misteriosa razão (dessa que nem a própria razão entende), de que os poetas e os artistas nunca interpelam
Equívocos, dissensos, desvios (Caderno da Residência, n.º 2)
1 de Agosto, Montemor-o-Novo (tarde) Galerias, museus, salas de espectáculo – espaços afins nunca foram propriamente a minha praia. Não por desinteresse, muito pelo contrário: os objectos artísticos,
A fundar distâncias (Caderno da Residência, n.º 1)
27 de Julho, Montemor-o-Novo (16:40) As coisas acontecem. É uma frase banal, banalíssima, sem aparente motivação interior para demais desdobramentos e indagações. Dizemo-la sem agravo, sem pudor, sem
O bulldozer do humanismo (apontamentos para nada)
1. “Há um esgotamento em todos os começos. As coisas ligam-se umas às outras por cansaço” (Rui Nunes, O Anjo Camponês, 2020, p. 30). 2. “[…] uma
O direito ao segredo: lendo José Carlos Soares
O direito ao segredo: porque se é verdade que somos bichos da terra, também é verdade sermos bichos de memória, apesar de tudo. A tosse pequena
Deita o livro fora e lê
1. Foi há quase seis anos. Numa daquelas errâncias pela biblioteca de Castelo Branco, dei de caras com um surpreendente gesto de indeterminação literária. Um livro de Rui
Cansado de abrir um livro e encontrar o paraíso
Devo à biblioteca municipal de Castelo Branco o ter descoberto o primeiro livro que li de Rui Nunes. O título, desde logo perturbador, Que sinos dobram por aqueles
Do amor que os burros não entendem
Jorge de Sena (1919-1978) não consentiria, decerto, com os laivos de impressionismo na abertura deste texto, tendo ele sido um porta-voz do rigor em tudo quanto mereceu a
Nada de narrativas
“[…] a precisão da indecisão, isso é a literatura” (página 170, revista Electra, Alexander Kluge). Invejo saudavelmente o uso dos deíticos, esses relâmpagos certeiros que sabem dividir o
Lições de amadorismo a partir de ‘Dois Homens em Manhattan’
Isto podia ser, tão-só, um abono de verdade a favor dessa misteriosa conspiração de coincidências, cosendo ligações insuspeitas entre as coisas e retirando daí a manigância de me
Mozart, McEnroe e o demónio das imagens
“O cinema mente; o desporto, não”. É com esta citação de Jean-Luc Godard que se abre o documentário John McEnroe: O Domínio da Perfeição (Julien Faraut, 2018), um
O inferno somos nós
Elizabeth Moss não tem um papel fácil em Her Smell (2018) – e confesso ter demorado algum tempo até conseguir perceber o grau de exigência do seu desempenho
A vida numa boa (ou seja, o cinema)
Aconteceu-me rever esta semana o filme Apocalipse Now, de Francis Ford Coppola, o épico de guerra sobre o Vietname que atualiza o Coração das Trevas, de Joseph Conrad,
Perturbar a ordem, corrigir o destino: era uma vez Tarantino
“Tenho de matar uns canalhas”, diz amiúde a viúva negra de Kill Bill, no primeiro de dois filmes de Quentin Tarantino, refulgindo de humorosa vingança nas várias poças
Os mortos expulsam-nos de qualquer regresso
O noticiário abre com a fotografia de dois cadáveres, Oscar e Valeria Ramírez, pai e filha, afogados no Rio Grande, fronteira entre o México e os EUA, onde