Posts From Diogo Martins
Tentações: a literatura e o nevoeiro no caminho
1. «Casa belíssima, jardim soberbo, companhia da melhor, mulheres gentis. Mas de repente a praça das execuções passou a ser mesmo por baixo da nossa janela e o
“No fim do mundo um zé-ninguém toca piano” – algumas leituras
Uma breve nota de abertura, a servir de contexto. A lista que se segue, estando aqui disponível na VILA NOVA, surge a convite do editor, Pedro Costa, que
A lenta exalação do universo (ou a vida depois de Yang)
Por onde começar? O restolhar das árvores, caindo em cachos, num pequeno trilho. Nesse lugar, seguindo adiante, uma jovem olha para trás, olha para nós, e, desafiando a
‘Para que lado fica o amanhã?’ – notas sobre um espectáculo
1. De um qualquer caderno de piadas secas: Qual é o hobby do recluso? É matar o tempo. 2. Começo por esta abordagem declaradamente simplista: um leigo como
A mão do oleiro e o relevo do mundo: lendo ‘A Caverna’, de Saramago
[começar] «Fui ao cemitério, dei um cântaro a uma vizinha e temos um cão lá fora, acontecimentos de grande importância todos eles» (p. 51). Sublinhei a frase na
O negro irregular da ruína: entre Tolstoi e Rui Nunes
[ecos] «O poema ensina a cair / sobre os vários solos […]» (Luiza Neto Jorge, Poesia, p. 141) «Cai o texto na suavidade da noite _______ cais, e
Amar uma sombra: com Lourdes Castro
1. Terá começado assim, a imagem: com a filha de um oleiro chamado Butades de Sicião. Na iminência de ver o rapaz que amava partir para a guerra,
Emanuel Jorge Botelho: uma sombra no risco da noite
«vem de longe a calamidade, a imaginária sombra». Assim começa um poema de Emanuel Jorge Botelho, num livro que data de 1982, intitulado Cesuras. Encima-o, numa epígrafe, a
Dança de signos: escrever para teatro, lendo Rui Pina Coelho
1. «Doem-me as pernas. / A maior parte dos dias sinto-me como se / estivesse numa peça de Beckett.» Começo por citar esta fala de uma das personagens,
Os enredos da eternidade
Roy Andersson (n. 1943) é um realizador sueco, natural de Gotemburgo. As suas primeiras incursões pelo cinema denunciavam um comprometimento social mais explícito, na linha do neorrealismo italiano.
Louise Glück e a vida das plantas
«At the end of my suffering / there was a door.» Os primeiros versos de A Íris Selvagem começaram por ser um rumor persistente na cabeça de Louise
Falhar com verdade
1. No Natal de 1996, o meu pai deu-me como presente a antologia Primeiro Livro de Poesia, organizada por Sophia de Mello Breyner Andresen. Já antes havia recebido
Criar relações pela arte: livros e fotografia, um projecto da Terceira Pessoa
No dia 6 de Novembro, a Casa Amarela – Galeria Municipal de Castelo Branco abriu as portas ao público para inaugurar a exposição de três criações fotográficas integradas
A vida é puta: ou a poesia face à iminência da morte
1. Vinte e cinco anos depois da sua estreia, o filme Se7en – Sete Pecados Mortais, com realização de David Fincher, continua a ser elevado como precursor de
Quem da pátria sai a si mesmo escapa?
1. Há uma ideia solenemente repetida, e com profunda e misteriosa razão (dessa que nem a própria razão entende), de que os poetas e os artistas nunca interpelam
Um osso exposto fractura quem o vê (Caderno da Residência, nº 3)
2 de Agosto, Montemor-o-Novo / 5 de Agosto, Nine (15:16) A explosão nuclear na cidade de Beirute impressiona-nos por um terrível efeito de corroboração: a imagem do
Equívocos, dissensos, desvios (Caderno da Residência, n.º 2)
1 de Agosto, Montemor-o-Novo (tarde) Galerias, museus, salas de espectáculo – espaços afins nunca foram propriamente a minha praia. Não por desinteresse, muito pelo contrário: os objectos artísticos,
A fundar distâncias (Caderno da Residência, n.º 1)
27 de Julho, Montemor-o-Novo (16:40) As coisas acontecem. É uma frase banal, banalíssima, sem aparente motivação interior para demais desdobramentos e indagações. Dizemo-la sem agravo, sem pudor, sem
O bulldozer do humanismo (apontamentos para nada)
1. “Há um esgotamento em todos os começos. As coisas ligam-se umas às outras por cansaço” (Rui Nunes, O Anjo Camponês, 2020, p. 30). 2. “[…] uma
O direito ao segredo: lendo José Carlos Soares
O direito ao segredo: porque se é verdade que somos bichos da terra, também é verdade sermos bichos de memória, apesar de tudo. A tosse pequena
Uma inocência furiosa: George Steiner (1929-2020)
“Em que tempo lectivo, de que pedagogo destroçado ou irónico, ou mesmo vagamente corrupto, terei ouvido a citação de Paul Éluard, le dur désir de durer («o duro