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Como seria de esperar estão a definir-se duas barricadas na análise da situação política atual: de um lado os que estão felizes com a queda do Governo e aplaudem acriticamente o Ministério Público (MP) e do outro os que lamentam a queda e demissão de Costa e desconfiam do MP. Os primeiros interessam-me pouco. Desejavam a queda do Governo e qualquer pretexto lhes servia. Quem está do outro lado interessa-me mais, desde logo por uma questão de proximidade política e ideológica.

Desse lado que mais me interessa estão a ser ditas duas coisas, ambas bastante razoáveis e defensáveis, mas que me parecem incompatíveis:

Coisa 1 – A ação objetiva do MP provocou a demissão de Costa e a queda do Governo. Essa ação reporta à emissão de um comunicado, cujo último parágrafo refere o Primeiro Ministro. A ação deve ser considerada pelo efeito que produziu, podendo a ação do MP ser enquadrada por

  1. a) uma agenda política de terceiros. Estes são incertos, mas talvez um dia se venha a saber tudo;
  2. b) uma confusão entre ordem moral e lei, que se manifesta numa vontade justicialista de alguns magistrados do MP, mas sem suporte real na lei;
  3. c) incompetência do MP, que pode ter a ver com algo tão simples como a falta de bom senso ou mesmo de juízo.

Qualquer uma destas explicações se ajusta ao essencial da Coisa 1.

Coisa 2 – O que está escrito no Comunicado do MP, e sobretudo no famigerado último parágrafo, não tem qualquer relevância criminal, nem sequer é uma acusação, acabará por se revelar naquilo que é: uma mão cheia de nada.

Estas duas coisas são razoáveis e parece-me a mim que bastante defensáveis. Não são, porém, compatíveis. A Coisa 2 invalida a Coisa 1: pois se o que o MP diz não vale nada, não belisca Costa nem pode ser visto como acusação, como podemos entender que o MP tenha tido uma responsabilidade objetiva na sua demissão do Primeiro-Ministro?

A pergunta mais importante não é, pois, a que questiona a ação do MP. Antes dessa há uma outra: Por que razão se demitiu Costa se nada o obrigava a isso? É claro que a essa resposta só ele pode responder, a nós só nos resta especular.

Há, é claro, uma resposta evidente: Costa demitiu-se por entender que o devia fazer. Não tanto em razão de um parágrafo de um comunicado de imprensa, mas por achar que havia maior prejuízo em ficar do que em fazer as malas.

Costa não se soube rodear de gente séria e uma certa teimosia e arrogância sempre o levou a desprezar os avisos que chegavam de fora e também de dentro. Vítor Escária é um desses companheiros de rumo que ajudou a traçar o destino de Costa. Não sei o que fez ou desfez neste processo, mas um sujeito que guarda no gabinete de São Bento 75 mil euros em notas não anda na graça do Senhor! Não sei se se comparam aos trinta dinheiros que o Judas Iscariotes recebeu para trair Jesus, nem sei se beijou Costa ou não – isso é lá com eles – mas este achado bizarro define a personagem.

É claro que só faz sentido comparar Escária e Iscariotes se for possível comparar Costa a Cristo. Ter-se-á Costa sacrificado? Pela remissão dos pecados, talvez, mas mais dos dele que dos alheios. Pela salvação do mundo, parece-me excessivo. Pela salvação do país, parece-me demasiada presunção, já que o país não tem salvação. Sacrificou-se pelo Governo e pelo PS, talvez sim. Se não se tivesse demitido o charco em que os casos e casinhos meteram o Governo transformar-se-ia agora num imenso lodaçal. Perceber isso mostra que Costa continua arguto e que fez bem em sair.

Resta saber se, como Cristo, ressuscita e sobe aos céus. Não será ao terceiro dia que se dará o milagre, isso parece evidente. Ainda assim é bem provável que ressuscite lá mais para diante. Não para subir aos céus e sentar-se à direita do Pai, mas para tentar subir a rampa de Belém e sentar-se no cadeirão presidencial. Nem à direita, nem à esquerda, como é seu timbre.


Imagens: Stacey Franco / Unsplash + Danilo.alvesd / Unsplash

Obs: texto previamente publicado na página facebook de Luís Cunha, tendo sofrido ligeiras adequações na presente edição.


https://vilanovaonline.pt/2023/11/09/partido-da-conspiracaao/

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