Hipona: a cidade (de Agostinho) que resiste sob outro nome

Hipona: a cidade (de Agostinho) que resiste sob outro nome

Pub

 

 

Nunca ouvi falar de Annaba mas descubro que existe. E que fica na Argélia. E que é uma das cidades mais importantes do país. Descubro que existe Annaba quando tento saber o que é feito de Hipona. Annaba é a antiga cidade de Hipona[, onde viveu e faleceu um dos filósofos e teólogos mais importantes dos primeiros séculos do cristianismo, Aurélio Agostinho (Aurelius Augustinus Hipponensis)].

A minha atenção recai sobre a antiga Hipona por causa de Santo Agostinho, que ali viveu durante trinta anos. É um naco de tempo irrisório na vida desta cidade, que foi várias vezes destruída e renomeada. Mas a reputação das cidades também se faz através das pessoas que as habitam. Tendo escrito as suas obras fundamentais em Hipona, Santo Agostinho tornou a cidade argelina uma referência na História da Filosofia. Tendo falecido aqui, Santo Agostinho tornou Hipona uma meta de peregrinação para os cristãos da época.

Motivo para a viagem: curiosidade intelectual em torno de Santo Agostinho de Hipona

Venho a Hipona mas não em peregrinação, o meu motivo não é turismo religioso mas sim curiosidade intelectual. Porquê Hipona? Santo Agostinho nasceu em Tagaste, na Argélia, que os romanos chamavam de Numídia e que era o celeiro do império. Depois, viveu em Cartago e em Roma uma vida de borga e amoralidade. Quando conheceu Santo Ambrósio, converteu-se à nova religião. Era o ano de 387.

Agostinho fixou-se em Hipona porque na altura tinha uma florescente comunidade cristã. Hoje, diz-me o padre Dominic, Annaba tem sete cristãos. E um turista: eu.

cidade - cidades - hipona - argélia - viagem - viajar - turismo - cultura - lazer - prazer - história - filosofia - santo agostinho

Visito as ruínas romanas de Hipona, extraordinário lugar de evocação [e abandono na Argélia contemporânea]. “À noite, os delinquentes reúnem-se aqui para beber álcool e fumar droga”, diz-me o guardião. Somos os únicos hoje, eu e ele. Os delinquentes podem vir de dia que estão tranquilamente sozinhos na mesma.

Os Vândalos arrasaram Hipona. Os Bizantinos expulsaram os Vândalos. Os Árabes seguiram-se aos Bizantinos. Os Franceses expulsaram os Turcos. Hipona foi renascendo de cada vaga de destruição: Hippo Regius, Hipona, Bouna, Bone Annaba. Os séculos passaram, os nomes mudaram, a cidade resistiu.

annaba - turismo - viagem - gonçalo cadilhe - argélia - cidade - cidades

annaba - argélia - viagem - viajar - turismo - cultura - lazer - prazer - história - filosofia - santo agostinho - cidade - cidades - mediterrâneo - mar - praia - islamismo

hipona - annaba - argélia - viagem - viajar - turismo - cultura - lazer - prazer - história - filosofia - santo agostinho - islamismo - cristianismo

annaba - argélia - viagem - viajar - turismo - cultura - lazer - prazer - história - filosofia - santo agostinho - cristianismo - islamismo -

E por falar em Santo Agostinho, foi ele que disse: “O mundo é um livro e quem não viajou não saiu da primeira página”. Deixo Annaba, viro mais uma página, continuo viagem pelos próximos capítulos.


Imagens: Gonçalo Cadilhe

Obs: texto previamente publicado em “Nos Passos de Santo António”, Clube do Autor, 2016), tendo sofrido ligeiras adequações na presente edição.


A Namíbia no meu destino

Madrugada no teto do mundo

A felicidade de estar vivo através d’ ‘As Cidades Invisíveis’

1ª Página. Clique aqui e veja tudo o que temos para lhe oferecer.vila nova online - diário digital de âmbito regional - famalicão - braga - barcelos - guimarães - santo tirso - póvoa de varzim - trofa - viana do castelo - esposende - som - ruído - ambiente - poluição - sustentabilidade - construção civil - economia - empresas

Pub

Adotar um Tigre para duplicar a sua população mundial

Queijo do Rabaçal: séculos de sabor, séculos de saudade

Colaboradores de VILA NOVA Online

A vingança dos medíocres e a luta pela civilização ocidental

Descobrir cidades da Europa completamente cheias de turistas

Pub

Categorias: Crónica, Cultura, Viajar

Acerca do Autor

Gonçalo Cadilhe

Gonçalo Cadilhe é o mais reconhecido escritor de viagens português da atualidade. Escreveu, à sua conta, catorze livros de narrativa de viagem e três 'coffee-tables' de fotografia. Os seus títulos somam dezenas de reedições. Várias das suas obras encontram-se incluídas na listagem do Plano Nacional de Leitura. Viagens, biografias históricas, surf e encontros de vida são os seus temas de eleição. Ao longo dos anos, tem assinado vários documentários de viagens e História para a RTP. Palestrante motivacional, percorre regularmente os auditórios culturais do país do país para falar sobre viagens, História e experiência de vida. Organiza e acompanha mini-tours pelo globo em colaboração com a agência Pinto Lopes Viagens.

Comente este artigo

Only registered users can comment.