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O futebolista Brasileiro Mauro Alonso alcançou grande destaque na História do FC Famalicão em 20 de Janeiro de 2016. Mais do que pelos dribles e lances técnicos de elevada visão de jogo, um golo ao FC Porto, marcado de livre, em jogo da Taça da Liga, é o momento mais alto de uma curta carreira marcada por lesões.
Médio ofensivo com muito talento e força de vontade, para lá das suas características técnicas, Mauro Alonso era um futebolista de equipa e futebol colectivo, não se deslumbrando traços de individualismo em demasia.
Uma grave lesão no jogo de apresentação aos sócios da temporada 2015/2016, frente ao Penafiel, no estádio 22 junho, tramou-lhe a carreira e a vida no mundo do desporto.
Ao longo de poucos anos, o jogador passou por vários países e por culturas muito diferentes. Nem sempre teve sorte, mas a ambição e a magia com o esférico nos pés estava sempre lá.
Francisco Oliveira: Mauro Alonso, saiu do Brasil para jogar diretamente na Bielorrússia. Só mais tarde viria para Portugal. Não realizou nenhum jogo oficial numa equipa que ganhou tudo o que havia para ganhar no seu país, disputou a qualificação para a Liga dos Campeões e participou na Liga Europa. Ficou um amargo por não ter atuado nessas competições?
Mauro Alonso: Joguei somente em jogos de competições que não são contabilizadas estatisticamente, mas já tinha sido futebolista profissional no Brasil, nas divisões inferiores brasileiras. Os tempos eram outros e não haviam tanta informação.
Nessa altura tive uma oportunidade para ir jogar para uma equipa chamada ”Neman Grodno”, da Bielorrússia. Estava num jogo-treino, em período de experiência, e num jogo frente a uma equipa Polaca, um representante desse clube interessou-se.
Face ao interesse, o Bate Borisov, no dia seguinte, assinou contrato profissional comigo. Foi uma oportunidade muito grande. Tudo aconteceu muito rápido, a assinatura do contrato foi de curta duração.
Não me consegui adaptar a uma cultura muito diferente da existente no meu país; e isso dificultou. Mas não ficou nenhum sentimento amargo e gostei muito de ter aprendido muitas coisas com um grande treinador – Viktor Gontcharenko.
Francisco Oliveira: Segue-se o Ekranas, na Lituânia, onde faz oito jogos e marca um golo.Ganha os três principais títulos da Lituânia – Campeonato, Taça e Supertaça. Gostaria de ter saído da Lituânia com um passaporte para um campeonato de futebol mais competitivo?
Mauro Alonso: Foi uma temporada muito interessante.
Tinha a responsabilidade por ser um dos três estrangeiros na equipa.
Ganhamos o campeonato, supertaça e a taça da Lituânia.
Foi um feito relevante. Apesar de continuar com muitas dificuldades, com a cultura futebolística do leste europeu.
Francisco Oliveira: Prossegue para o Brasov, da Roménia, onde não foi utilizado com regularidade. Foi difícil ganhar o lugar na Primeira Liga romena. Que faltou para jogar mais jogos?
Mauro Alonso: Fui para o Brasov a meio dessa temporada, e o treinador que me treinou era Marius Sumidica, que ao fim de 4 ou 5 realizados em que tive vários minutos saiu, e o novo treinador que também era romeno (Mauro Alonso … não se lembra do nome) não apostou em mim.
Ainda hoje tenho a convicção que se tivesse tido sequência tinha sido melhor para todos, porque tinha qualidade futebolística para essa equipa.
Francisco Oliveira: Passou na sua curta carreira de futebolista por vários países e diferentes culturas, inclusive a Líbia, um país peculiar. Como foi a experiência na Líbia?
Mauro Alonso: Quando saí da Roménia, e com as mudanças todas que me aconteceram consecutivamente, fiquei desmotivado.
Nessa altura, apareceu uma pessoa que foi importante na minha vida. O Lito Vidigal ia assumir o Al Ittihad (Líbia) e surgiu a oportunidade de ir jogar para esse país.
Era uma oportunidade de jogar a Liga dos Campeões Africanas e com um contrato interessante, foi uma aposta na carreira que não deu foi positiva em termos desportivos. Mas é com os erros que a gente aprende.
Francisco Oliveira: Em 2014/15 vem para o FC Famalicão onde faz a melhor temporada da sua carreira. Na 2ª Liga Portuguesa, e num clube em afirmação, faz 21 jogos e 4 golos. Um desses golos aconteceu frente ao FC Porto, ao Guardião Helton – um dos melhores guarda redes que passaram pelo futebol Português -, em jogo a contar para a fase de grupos da Taça da Liga, num golo de livre, com alguma sorte à mistura. O que lhe faltou, afinal, durante a carreira? Que outras memórias guarda desse jogo e, em especial, deste golo?
Mauro Alonso: Nada na vida é por acaso e a ida para Portugal não foge à regra. Foi através dos portugueses que trabalharam comigo na Líbia. Eles sabiam que tinha condições para ter sucesso no Futebol Português.
A pré-época estava a correr bem, mas perto do final da mesma contraí uma lesão gravíssima e a cirurgia foi mal executada.
Esse fator retirou-me muito tempo nesse meu melhor momento. Foram mais de doze meses para recuperar. Depois fiz alguns jogos interessantes pelo FC Famalicão, na época seguinte, já na Segunda Liga Portuguesa.
Francisco Oliveira: Que outras memórias guarda desse jogo e, em especial, deste golo?
Mauro Alonso: Foi um dia especial onde tive alguns holofotes sobre mim durante uns tempos. Mas esse feito só aconteceu porque algumas pessoas me ajudaram muito na recuperação da minha lesão.
O departamento médico do clube nesses tempos fez o possível com as condições que tinha.
O diretor desportivo – Rui Borges – preocupou-se sempre comigo, bem como os preparadores físicos nessa temporada – Ricardo Ribeiro e Tiago Sousa – que fizeram até o que não podiam para que eu pudesse voltar a jogar.
Então, esse dia só foi o culminar de muitas situações e outras pessoas como a minha mulher e família. Todos me ajudaram muito.
Foi um dia muito emocionante para todos que me acompanharam na minha luta diária.
Todo o grupo de trabalho sabe bem os sacrifícios por qu epassou para chegarmos a esse dia especial.
Francisco Oliveira: Terminou a sua curta carreira de futebolista nessa temporada, após uma carreira marcada por lesões. O que mais lamenta?
Mauro Alonso: No fim dessa época, percebi que não alcançaria meu objetivo de jogar num patamar mais elevado e, numa conversa familiar, decidi que não ia mais jogar.
Estava muito difícil para mim na parte física, ficava mais no departamento médico do que jogava e isso matava-me.
É o que eu mais lamento, aquela lesão no jogo de apresentação contra o Penafiel. Foi um momento onde se definiu o meu futuro.
Depois de todo o longo processo e de uma difícil recuperação, não conseguia desenvolver mais a minha qualidade futebolística. Mas Deus sabe de todas as coisas, acredito que não foi ao acaso.
Não faltou vontade e dedicação em nenhum momento! Isso é o mais importante.
Ficou a sensação para mim de que poderia ter ido longe no futebol. Pelo talento e ambição que tinha.
Francisco Oliveira: Que Mensagem passa para a massa associativa do FC Famalicão?
Só recebi carinho da massa associativa do FC Famalicão. Sou muito grato pelo respeito que sempre tiveram comigo. Adorava quando nos encontrávamos.
Fiz o que estava ao meu alcance, para representá-los, enquanto vesti essa camisola que muito admiro.
Sei que não agradei a todos, mas todos foram importantes, que até nos momentos mais difíceis da recuperação da lesão me enviavam mensagens positivas e ansiosas para me verem jogar.
Isso é o que melhor guardo. Tenho um carinho enorme pelos adeptos do FC Famalicão.
Francisco Oliveira: O que faz atualmente? Joga futebol com regularidade?
Mauro Alonso: Não. Sou farmacêutico em São Carlos, no estado de São Paulo, no Brasil. Levo uma vida tranquila, sem a adrenalina de uma carreira no futebol.
Francisco Oliveira: Gostaria de trabalhar no Mundo do Futebol? Em que funções pensa que poderia ser mais útil?
Mauro Alonso: Não, nunca foi hipótese essa questão. Não tenho paciência para o futebol atual.
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Imagem: FCF
Hilário Paulino no mundo do futebol: do Freamunde ao Tirsense passando pelo ‘Calcio’
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