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O debate em redor da Educação enferma pela audácia proverbial de toda uma horda de impostores que propalam o desprezível veneno da mentira que, repetida muitas vezes, aspiram a que se torne numa verdade incontestável.
De entre o interminável filão de problemas de que se queixa a classe docente, desta vez fico-me pela análise pericial sobre a desvalorização salarial. Um problema impossível de separar da valorização profissional e da necessidade de atrair jovens para a profissão e, sobre o qual, tem havido um abjeto pacto de silêncio.
Apesar de, aparentemente, haver um consenso generalizado acerca da necessidade de remunerar condignamente uma profissão que tem vindo a perder um descomunal reconhecimento salarial, na prática inviabiliza-se face aos comentários pervertidos que avisam que, por uma questão de equidade, destinar dinheiro para os professores obrigaria a que se atribuísse o mesmo a outras classes profissionais. Trata-se da mais pura falsidade. E a mentira, por mais que se repita, só passa a verdade se não houver contraditório, coisa na qual a classe política tem sido especialista – propagandeia-a, usando os média como meio de publicidade gratuita para passar ideias falsas para uma população pouco esclarecida e sem filtros que absorve tudo o que lhes é servido.
Esta alucinante disseminação de ultimatos e avisos aos docentes para aceitarem continuar na situação degradante em que se encontram, perde toda a credibilidade quando vem de quem, reconhecidamente, tem tudo menos honestidade e imparcialidade. Como é possível olvidar que têm sido os mesmos que, ao longo de muitos anos, contaminaram a opinião pública contra os professores, a quem apelidaram de levarem uma vida regalada a ganharem rios de dinheiro – uma ofensa inaceitável ao enorme esforço e investimento pessoal e financeiro que estes profissionais têm assumido diariamente no exercício da sua atividade, permitindo que as escolas ainda vão funcionando.
Mas, já que tanto insistem em comparar a profissão com outras, vamos lá a esclarecer as coisas no que toca ao modo como o Estado proclama tratar de forma igual os seus funcionários. O DN verificou que, para professores e médicos, houve apenas 1% de aumento salarial quando, para chefes e gestores já houve dinheiro com fartura que permitiram um aumento de 9,6%. Já os magistrados, não há muito tempo, também foram aumentados e logo em 700 euros.
Relativamente aos incentivos para atrair profissionais para zonas onde os mesmos fazem falta, depois de anos a dar incentivos financeiros aos médicos para irem para a província, veja-se agora a intenção do governo atribuir, no próximo ano, alojamento gratuito e 40% de vencimento suplementar aos médicos que aceitem trabalhar em zonas de carência no interior (uma atitude correta e sensata, se fosse alargada a outras classes profissionais). Também os juízes e políticos, a habitar longe das suas residências, têm tido direito a subsídio de alojamento.
Sendo os professores a classe profissional com maior itinerância (seja na estrada ou desterrada para longe da sua residência), como é possível que nunca tenha tido o mesmo direito a ajudas de custo que foram e serão atribuídas a outras classes?
E, então, há dinheiro para aumentos salariais e incentivos financeiros para colmatar falta de profissionais em certas zonas, menos para os professores?
Estando comprovado que os professores cumprem bem mais do que o seu horário laboral, porquê que é das poucas classes a quem não são pagas horas extraordinárias?
Por que motivo reuniões em período pós-laboral, visitas de estudo (que chegam a somar 12 horas) e tantas outras atividades que fazem ultrapassar, em muito, a carga horária semanal, não são pagas?
Porquê que há dinheiro para distribuir para todos, menos para os professores?
Porque será que, debaixo do mesmo céu, os professores serão sempre vistos como filhos de um deus menor? Serão, os professores, a ralé da sociedade? Gente a quem tudo se lhes é exigido e nada lhes sé pago nem compensado?
Então, vendo bem as coisas, a classe docente não se pode comparar com outras, senão há muito que teria os mesmos direitos, compensações e ajudas de custo. De facto, contabilizar o tempo de serviço dos professores e ajustar os seus salários, não é mais do que repor justiça naquilo que lhes tem sido retirado.
A única culpa dos professores, foi terem estado calados (ou terem sido silenciados) durante demasiado tempo, permitindo que fossem espoliados e desconsiderados.
Bem vistas as coisas, o que os professores exigem é, mesmo assim, demasiado pouco relativamente às verbas e direitos que o Estado atribui a outras profissões. Isto, já para não falar do labirinto de interesses mascarados de indemnizações, subvenções, bónus e prémios exorbitantes que são distribuídos a rodos por uma prosápia de gente escudada atrás de uma cortina de cartões partidários.
Se o ministro das Finanças continua a insistir no absurdo argumento de que não há dinheiro para satisfazer as justas exigências dos professores, então para que servem os mais de 3 mil milhões de saldo positivo nas contas do Estado? Estarão reservados para serem dados a quem?
Por outro lado, um presidente da república que se diz indisponível para receber os professores e escutar as suas reivindicações, para não criar ruído nas negociações que estão a decorrer entre sindicatos e governo, já não se importa de colocar de parte a sua alegada imparcialidade e interferir, tendenciosamente, aconselhando os professores a serem pacientes? E não se coíbe em abrir a boca para ir disseminando a ideia de irresponsabilidade destes face a uma alegada perda nas aprendizagens pelos alunos?
Como é evidente, perante toda esta imensa hipocrisia, só me resta concluir que os profissionais de Educação, além de estarem cheios de razão, só pecam por terem sido demasiado pacientes, pois sabem perfeitamente que há dinheiro para distribuir, mas, lamentavelmente, nunca para eles. Uma improvável humilhação e insulto à inteligência dos professores que é inaceitável e que tem de acabar de uma vez por todas! Se há dinheiro para outros, também tem de haver para os professores.
Por isso, parem de mentir e tenham a vergonha na cara de, pelo menos, se calarem. Tenham a honorabilidade de, no mínimo – nem que seja faseadamente –, devolverem tudo aquilo que roubaram aos professores e lhes restituírem a dignidade salarial.
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Obs: publicação original na página facebook de Carlos Santos, tendo sofrido ligeiras adequações na presente edição.
Imagens: Carlos Santos
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