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A zona pedonal de Braga é uma história de sucesso. Criada no fim dos anos 80, em pleno primado do automóvel sobre as pessoas, mostra que a alternativa é possível e é a marca mais visível de progresso na cidade.
Nos últimos 30 anos, a procura pela zona pedonal não parou de crescer, com a propriedade a atingir valores múltiplos do resto da cidade. Hoje, nenhum comerciante ou habitante quer voltar a ter carros nas ruas em vez de pessoas.
Inexplicavelmente, Braga aguarda ainda pela replicação deste sucesso, desenvolvendo novas centralidades, comércio, regenerando zonas urbanas degradadas, devolvendo às pessoas espaço público que é ocupado por automóveis a custas do município.
Na sequência de um atropelamento que causou um ferido, o presente executivo municipal decidiu proibir todo o trânsito em bicicleta na zona pedonal, ordenando a intervenção da polícia. A desculpa é que não é a câmara municipal que decide, é o código da estrada.
Este estertor surge depois de 30 anos de sã convivência entre pedestres e ciclistas sem incidentes graves, durante os quais (principalmente nos anos recentes) os responsáveis não se coibiram de capitalizar as bicicletas na zona pedonal.
Haverá com certeza um debate sobre o direito a pedalar mas já vamos entretendo propostas estapafúrdias de segregação entre utilizadores vulneráveis na zona pedonal, que apenas servirão para a confusão e desviar a atenção da falta de segregação destes e dos automóveis no resto da cidade, bem como da insegurança rodoviária.
Parece que, para o actual executivo, os atropelamentos por automóvel, um cada três dias, com mortos e feridos graves, são normais mas um infeliz atropelamento por uma bicicleta na zona pedonal já justifica tomar medidas radicais. Estranhas prioridades!
Esquecidos, ficam os compromissos com a Europa, a recompensa pelo uso da bicicleta que abrange a zona pedonal (via o programa Bicification), a inclusão da mobilidade ciclável na candidatura a Capital Europeia da Cultura, as promessas de promoção da mobilidade suave, os 76 kms de ciclovias, os 10% de utilizadores da bicicleta em 2025 e tantos anúncios de iniciativas nado-mortas que já nem retemos na memória (excepto as “ciclovias pop-up” que nos lembram todos os dias a capacidade municipal de desperdiçar tempo e recursos).
Por falta de alternativas, é impraticável atravessar a cidade de bicicleta sem atravessar a zona pedonal, pelo que aí proibir o trânsito das bicicletas, além de ser uma novidade a nível europeu, é um escândalo contra a mobilidade ciclável.
À volta da zona pedonal nada mudou desde 2013. A regulação do trânsito obriga o ciclista andar às voltas aos quarteirões, junto com os automóveis. Exemplos? É proibido ao ciclista descer a Rua dos Chãos ou a Av. 31 de Janeiro, subir a Rua 25 de Abril e a Av. da Liberdade, ou a Rua Monsenhor Airosa/S. Geraldo. Não foi o código da estrada que decidiu, foi o Município.
Como a mobilidade suave sai das pernas, por falta de alternativas diretas e seguras, o ciclista maior de 10 anos incumpre por necessidade, ao prosseguir em cima dos passeios e atravessar nas passadeiras. É um hábito bem visível no dia a dia e tolerado, para já, pelas autoridades.
O Município de Braga quer fazer dos cidadãos criminosos, quando é o próprio o verdadeiro criminoso, sujeitando-os a perigos desnecessários devido à sua incapacidade em entender um paradigma de mobilidade que não pratica, e falta de vontade de cumprir as leis com que não concorda.
Esgotado que está este executivo municipal, comprometido com políticas avessas à mobilidade suave, já sem tempo nem capacidade para mudar de rumo, parece que fica para futuros governantes a obrigatória correção e justiça, a criação de novas zonas pedonais ou de convivência, do cumprimento da Lei das Acessibilidades, do Código da Estrada, das recomendações da Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária (ANSR), etc.
Urge a implementação das ciclovias segregadas em ruas com limite de velocidade de 50km/h, da imposição de zonas 30 onde não há espaço para ciclovias e zonas de convivência nas restantes, a redução do trânsito automóvel em zonas escolares e residenciais, a criação de percursos cicláveis diretos e legítimos, e tudo o resto que está em suspenso há anos.
A humanização da cidade irá prosseguir um dia, que se quer próximo, com governantes que terão de merecer a inscrição dos seus nomes na História da cidade sob pena de serem esquecidos… Como todos os outros que não deixaram marca.
Imagem: DR
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