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A guerra chegou à cozinha; e chegou também ao borsh, uma sopa de beterraba. Não, não é uma brincadeira, mas apenas mais um pormenor da desinformação e da tentativa de controlo das consciências, tão usual em tempos de guerra. Noticia o Observador que o Kremlin, através da porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros, acusa a Ucrânia de banir os livros de culinária onde se encontra a receita de sopa de beterraba, popularmente conhecida por borsh. Melhor dizendo, pretende-se criar no público a ideia de que os ucranianos não querem partilhar a sua receita de borsh com ninguém, alegando que ela apenas deve pertencer a uma nação – à Ucrânia.
Esta notícia sobre o atual conflito na Ucrânia, apesar de bizarra, não deixa de ser curiosa. Tenta-nos dizer que os ucranianos estão a marcar a sua identidade, e tudo os que os diferencia da Rússia, também pelo que cozinham e põem na mesa. É claro que de nada valeria banir os livros de receitas. Neste mundo global e digital a informação voa em segundos. Por outro lado, todos sabemos que as receitas não têm fronteiras.
Saber cozinhar uma panela de borsh é conhecimento não só das famílias ucranianas, mas também das polacas, lituanas, romenas, russas, bielorrussas, moldavas, búlgaras… E como é obvio, cada país, cada região, tem uma receita diferente. Os Ucranianos podem reivindicar a origem da receita, é até é legítimo que o façam, mas não podem impedir a sua divulgação porque simplesmente ela já foi feita ao longo dos últimos séculos. Todos sabemos disto. Os ucranianos também. Mas quando a guerra atinge o seu ponto alto tudo serve para manchar a imagem de um povo. E os Russos não deixam ficar nada para trás.
Breve história do borsh
Mas vejamos um pouco da história desta receita que, pela notícia, me deixou curiosa. Alguns historiadores tentam encontrá-la já na cozinha grega ou romana. Outros dizem que remonta ao século XIV ucraniano; outros, ainda, ao século XVIII, quando a palavra borsht já se encontra escrita em manuscritos da época. E ainda há aqueles que argumentam que o prato foi inventado, no século XVII, pelos Cossacos, um povo nativo das estepes, que se estabeleceu no Sul da Rússia e Ucrânia, e que, durante um cerco da fortaleza turca de Azov, e havendo escassez de alimentos, tomou mão da abundância de beterrabas.
Uma sopa primaveril de beterraba para ser comida quente ou fria
Esta sopa feita com vários legumes, com ou sem carne, tem a beterraba como denominador comum apresentando-se na mesa com uma forte coloração vermelha. Pode ser comida quente ou fria sendo acompanhada no final com natas azedas, tão típicas daquela região do globo.
Em tempo primaveril as beterrabas começam a abundar. E nada como ir para a cozinha experimentar esta sopa tradicional, porque, afinal, apesar de identitária dos povos de leste e, pelo que me pareceu, reivindicada pelos ucranianos, qualquer um de nós se pode deliciar com ela. É só googlar e as receitas aparecem. Eu, porque gosto de beterraba, deliciei-me com uma retirada de um blogue denominado Receitas sem Fronteiras. Veio mesmo a propósito!
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