‘A música passa em direcção ao mar e eu não posso partir e também não sei o que poderá estar a acontecer do outro lado da encosta.’
Tenho um sonho, mas talvez não o possa realizar

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Tenho um sonho, mas talvez não o possa realizar.
O céu escureceu e vejo uma estranha luz intermitente depois da encosta. Sente-se no ar, vê-se entre as nuvens, como se houvesse fogo ou um lamento de sangue.
É bem possível que eu não possa abandonar a terra lamacenta e a dolorosa peregrinação dos meus irmãos: gritos, medo, a desordem geral por um fio, uma carcaça ou quase nada.
Quedo-me nesta beira. Tento evitar a direcção do vento e o cheiro das coisas ardidas. Oiço os vizinhos que passam com as notícias ou correm e gritam deixando palavras espalhadas, coisas que não me consolam.
Vai caindo o dia e eu também. As pernas frágeis – alguma ferida aberta – e, nesta altura, canto baixo, suavemente. Vejo a neblina que passa e reúne sobre as águas. A música passa em direcção ao mar e eu não posso partir e também não sei o que poderá estar a acontecer do outro lado da encosta.
Junto à cabana, havia um pequeno bosque e uma fonte. Nunca precisei de cerca para os animais. Também eu sou livre, pensava. E agora as palavras descem, caem, arrepiam e eu tenho os pés gelados e as mãos. Passo um dedo sob as órbitas e sinto a pele enrugada e um último som – uma voz ainda jovem, soprada sob os salgueiros.
É provável que adormeça ou que não possa acordar. A história parece antiga ou vivida por alguém, a história não é só minha.
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Obs: texto previamente publicado na página facebook de José Miguel Braga, tendo sofrido ligeiras adequações editoriais. na presente edição.
Imagem: DR/Twitter
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