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Os ditados populares têm algo de fantástico. Representam a sabedoria antiga traduzida em conselhos e alertas que na sua maioria poderíamos utilizar para pautar algumas das nossas condutas diárias. Existe um que me vem à memória de cada vez que observo atos de pura negligência ou negação perante a emergência climática e atropelos ambientais – Mais cego que aquele que não vê, é aquele que não quer ver.
Atravessamos uma época especialmente preocupante com fenómenos climatéricos a agravarem-se quer em grau, quer em número. Nunca se debateu tanto sobre a questão ambiental, mas, enquanto sociedade, estaremos prontos para aceitar as conclusões? Ou, seremos capazes de reconhecer a nossa incapacidade e até relutância de, efetivamente, reconhecer a emergência climática?
Problemas ambientais de Famalicão estão identificados, mas ninguém parece querer saber
Segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), em 2019 e 2020 foram registadas, através da linha SOS ambiente e território do Serviço de Proteção da Natureza e do Ambiente (SEPNA), 10.285 e 12.185 denúncias, respetivamente. Muitas delas foram relativas ao concelho de Famalicão.
Cresci a ouvir falar do problema da poluição do rio Ave, paralelamente já tive a feliz oportunidade de ouvir falar do tempo em que a população podia banhar-se nas suas águas. É certo que é reconhecida uma evolução na estratégia da sua despoluição, contudo parte dessa não-poluição muito se deveu a mudanças económicas em todo o Vale do Ave, com muitas empresas associadas ao setor têxtil a encerrarem.
A existência de focos de poluição no concelho é mais que conhecida e estão os mesmos identificados, um deles diz respeito ao Parque de Lazer Calça Ferros, em Pedome. E ninguém parece querer saber.
Graves problemas com reservas de água em Famalicão
O que aconteceu com as gerações anteriores que não protegeram um recurso hídrico valiosíssimo como o rio Ave repete-se nos dias de hoje quando temos graves problemas relacionados com reservas de água que estão a colocar em causa culturas e subsequente alimentação quer de animais, quer de populações. No entanto, continuamos a assistir a uma inação, a uma falta de responsabilidade ambiental – privada e pública – e a uma total negação dos problemas que temos em mãos.
Rio Ave, agente potenciador de biodiversidade e qualidade ambiental
Estamos longe de garantir que o rio Ave, pelo seu valor intrínseco, seja reconhecido como parte de um meio ambiente e como agente potenciador de garantir uma biodiversidade rica e de qualidade ambiental e, portanto, objeto de proteção por si só. O que nos resta saber é se algum dia este tema fará parte da agenda executiva dos órgãos locais e nacionais.
Responsabilidade ambiental, garante de qualidade de vida
Sermos responsáveis ambientalmente não se limita a cumprir procedimentos e normas europeias ou nacionais que visam minimizar os impactos no meio ambiente, ou a abanar a bandeira do ambiente em campanhas eleitorais. A responsabilidade ambiental, pela sua transversalidade e pelo seu objeto de ação, deverá ser entendida na sua vertente de responsabilidade intra e intergeracional, assente numa ótica social e de garante da qualidade de vida do ser humano e do ambiente por si só.
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Imagem: Gualter Costa / Viver o Ave
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