Sondagens, esse grande escultor

Sondagens, esse grande escultor

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Não tenho conhecimentos técnicos suficientes para ajuizar acerca do modo como se fazem as sondagens, nem ponho em causa a seriedade de quem as faz. Não há como fugir, no entanto, ao acumular de discrepâncias gritantes entre a intenção de voto manifestada pelos inquiridos nas sondagens e o resultado destas eleições legislativas apurado nas urnas. As vitórias do Brexit e de Trump na sua primeira candidatura são exemplos conhecidos, mas também em Portugal o fenómeno se verifica.

Creio que se desenham duas hipóteses de explicação, nenhuma delas boa para a saúde da democracia:

  1. As empresas de sondagens manipulam os resultados de forma estratégica, aproximando ou distanciando as forças concorrentes em função de interesses diversos – favorecer uma força partidária ou apenas incrementar o interesse pelas eleições e correspondente audiência. Nestas últimas eleições fica, no mínimo, a desconfiança de que algo assim sucedeu. Como disse, não tenho conhecimentos técnicos sobre o assunto, mas lembro-me de uma sondagem em que a distância PS/PSD era de seis pontos no voto direto, tendo-se transformado em três após a distribuição de indecisos. Deve estar perfeito do ponto de vista técnico, digo eu, mas a mim pareceu-me uma coisa estranha. Por outro lado, mesmo sem colocar em dúvida o rigor técnico das sondagens, a sua interpretação entra também no pacote, e nesse campo não faltaram as mais variadas demonstrações de que a aproximação entre os dois principais partidos era mesmo real, chegando a vitória do PSD a ser o resultado mais esperado pela maioria dos comentadores televisivos.
  2. A segunda hipótese não é melhor, é até aterradora: as sondagens estão a orientar o sentido de voto, sobrepondo-se à escolha democrática convencional, ou seja, àquela que é feita em função das propostas das diferentes forças políticas. É neste sentido que as sondagens, tal-qual o tempo num conhecido aforismo, estão a esculpir a realidade. Assim parece ter sucedido nas autárquicas, no caso em prejuízo de PS e de Medina, dado como vencedor por larga margens em todas as sondagens. Nas eleições de domingo assistimos a um fenómeno idêntico, no caso em favor do PS, que aparecia «apertado» pelo PSD em todas as sondagens. Bombardeados por sondagens, muitos eleitores deixaram de votar em Medina por forma a evitar a sua hipotética maioria absoluta, tal como desta vez deixaram de votar à esquerda do PS para evitar o risco de entregar a governação ao PSD de Rui Rio.

Não sei como se resolve esta situação, ou sequer se algo é possível fazer para a corrigir. Sei que é mais uma entorse no processo democrático, sobretudo quando associamos a força mobilizadora das sondagens ao enorme peso que a comunicação social tem hoje em dia. A existência de inúmeros veículos e canais informativos cria uma ilusão de pluralidade que está longe de ser real. Quem encomenda as sondagens paga também a quem as comenta, resultando daqui uma convergência de interesses que se manifesta no produto, supostamente isento, que nos é oferecido. Talvez nunca se tenha ido tão longe nesse processo de manipulação de sentido como nas últimas eleições. Foi possível perceber, sobretudo na SIC e na CNN, a forma como as sondagens se tornaram uma peça essencial numa linha argumentativa, explicativa e orientadora de voto, que estava previamente definida. Não lhes correu bem, pelo menos não tão bem como esperariam, mas a máquina está montada, e está viva e de saúde à espera de novas eleições.

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Obs: artigo previamente publicado na página facebook de Luís Cunha, tendo sofrido ligeiras adequações na presente publicação.

Imagem: ERC

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