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Eram ‘15 dias para achar a curva‘, foram quase 2 anos de suspensão de direitos elementares e, mais importante, da liberdade, do afecto e da sociabilização. 2 anos depois vemos a ligeireza com que se ameaça retirar ainda mais direitos e temos uma curva – uma curva ascendente e imparável de médicos a abandonar o Serviço Nacional de Saúde e enfermeiros a emigrarem. A absoluta ingenuidade com que milhares de pessoas aceitaram que os serviços de saúde não tinham capacidade para lidar com a pandemia e nunca se questionaram sobre a organização, racionalização, gestão, qualidade do trabalho dos profissionais de saúde, propondo em alternativa confinamentos e suspensão de direitos é um case study.
Para que fique claro sou pró-vacinas em geral, desde que comprovadamente seguras e eficazes, não tenho uma argola à volta da minha foto a dizer “Acredito na ciência”, porque a ciência não é matéria de crença ou fé, mas demonstração (tirai essa peça de obscurantismo – acredita-se na Nossa Senhora de Fátima, a ciência é um pouco mais exigente); sou, como as centenas de milhares de manifestantes que desfilaram estes dias na Holanda, na Austrália, na Áustria, de repente acusados de serem todos de extrema-direita (para o vulgaris treinador de bancada tudo é assim, de extrema-algo, mecânico, se a explicação não é assim básica e vulgar, não deve ser boa) com cartazes a dizer “Antifascista e contra as medidas Covid”, “Anti-racista e contra as medidas Covid” “Pró-vacinas e contra as medidas Covid”. A pandemia tem as costas largas, 30 anos de neoliberalismo pelo mundo todo são agora responsabilidade da pandemia – os salários indecentes de médicos, enfermeiros e auxiliares; o sofrimento ético, a exaustão, o burnout e a perda de sentido do trabalho (burnout é categoria neoliberal disseminada aqui e na Alemanha), o esboroar de equipas coesas, o fim das hierarquias eleitas democraticamente, a ausência de reposição de quadros especialistas para formação, a quimera da exclusividade opcional (em Portugal, ide a um hospital público às 3 da tarde, está virtualmente vazio porque 70 a 95% dos médicos do privado são do SNS), tudo isso cai agora, demagogicamente – para não dizer com uma lata que só quem governa esta declínio pode ter -, na conta da pandemia. Venham mais uns confinamentos para salvarmos o SNS (sempre achei que era o SNS que tinha obrigação de nos salvar a nós). E a conta, qual neoliberal sincero, cairá toda na responsabilidade de cada um, é saúde pública mas a culpa é individual – o que não usou a máscara no nariz, não higienizou as mãos devidamente e ainda teve a desfaçatez de visitar os avós, mesmo que para se despedir para sempre.
Quem acredita que o Serviço Nacional de Saúde (SNS) era excelente nos anos 80 do século XX e daí para cá foi destruído, e que se não tivesse sido destruído haveria resposta do SNS sem colocar em causa direitos básicos, é negacionista. Quem recorda que a receita neoliberal foi aplicada em todo o mundo ocidental, erodindo os serviços de saúde públicos, deve ser proibido de ir ao restaurante e cortar o cabelo. As centenas de milhares que invadiram as ruas da Europa e da Austrália com cartazes de esquerda exigindo democracia e saúde, contra os abusos de poder do Estado, reclamando os mais avançados valores (perguntando coisas tão básicas como ‘Fala-se aqui em 3 e 4 doses e em África estão idosos sem a primeira’ e ‘Como se pode impor obrigações contra a Lei Fundamental dos países?’), são no fundo de extrema-direita (ainda que sejam governos de direita, e neoliberais, que em grande medida pelo mundo impõem as regras discriminatórias, facto real que parece ter passado ao lado do comentário simplex, e que a extrema-direita, incluindo por cá o Chega, esteja a adorar o reforço do poder do Estado).
30 anos depois da Dama de Ferro inglesa, temos agora os ‘crentes’ na ciência – assim se apresentam na sua argola militante -, a avisar, sob o fantasma de Margaret Thatcher: Não havia alternativa!
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