‘Pomme d’amour’

‘Pomme d’amour’

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Um destes dias li um texto francês dos inícios do século XIX sobre o tomate que me surpreendeu. Nessa altura este fruto era ainda uma novidade na Europa, embora, segundo Grimond de la Reynière (1758-1837), já estivesse bastante divulgado na Península Ibérica. Chamava-lhe aquele gastrónomo “pomme d’amour”. Que bela designação para um fruto! E como ele deve ter deslumbrado os europeus quando chegou às mesas europeias, vindo das terras quentes da América do Sul, nos alvores do século XVI.

Chegou e encantou. Vermelho rubro, em formato de coração, ácido o suficiente e a dar-se bem com os sabores europeus como a cebola, o alho, os orégãos e, obviamente, o azeite e o sal.

E se os portugueses e espanhóis foram fiéis á denominação de “tomate”, atribuída pelos nativos que o plantavam e comiam, os franceses aventuraram-se na denominação de “pomme d’amour”. O que não surpreende, porque a palavra “pomme” já tinha sido utilizada para denominar a laranja – “pomme de Chine” – ou seja, maçã da China, em alusão à laranja doce que os portugueses trouxeram da China e divulgaram por toda a Europa, no século XVII. O mesmo acontecendo para “pomme de terre”, a batata que na mesma altura também estava a ser divulgada.

“Pomme”, como sabemos, quer dizer maçã, o nome bíblico que ficava bem nestes novos frutos que chegavam do “novus mundus”, que se lhe assemelhavam no formato, e, qual maçã do paraíso, também encantaram os europeus. Não eram frutos proibidos mas eram desconhecidos. Sabores novos, audazes, desafiadores ou assustadoramente saborosos!

E este fruto trazia o amor no ventre, num formato que se assemelhava a um coração, maior ou mais pequeno, e se libertava com audácia na boca de cada um! E assim foi entrando devagar…

Nos inícios do século XVIII, Francisco Borges Henriques já nos diz que ficava bem na sopa de peixe, no arroz de camarão, num molho de ir à mesa em substituição da clássica mostarda, que já por cá andava desde os tempos antigos, no arroz de tomate, numa singela salada, temperada com cebola, azeite, sal e orégãos, em calda para se guardar em garrafas ao longo do ano,  e, de um modo geral, “em todo o comer ou seja em carne nas olhas, ou seja em ensopados, ou nos molhos do assado em tudo poem particullar gosto e da mesma maneira no peiche tanto seco como fresco e nos legumes” (Freire, 2020: 312).

Um sabor que assim nos aparece a invadir a mesa em todo o seu esplendor. Não só em Portugal, mas também na Espanha, na Itália, na França… Um sabor que desafiou barreiras e que definitivamente se foi tornando identitário em vários países europeus.

Pomme d’amour, porque não! De todos o mais apaixonante!

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Imagem: Nadine Primeau/Unsplash

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Acerca do Autor

Anabela Ramos

Historiadora.

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