Só 15% estiveram em teletrabalho durante em 2020

Só 15% estiveram em teletrabalho durante em 2020

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Os dados do INE [relativos ao teletrabalho em 2020] foram finalmente divulgados. Entre Abril e Dezembro estiveram em teletrabalho 15,6% do total dos trabalhadores.

Disse – aqui – nestas páginas e em tantos fóruns públicos, sem os dados ainda conhecidos, mas conhecendo o que é a força de trabalho portuguesa em anos de estudos, que nunca em momento algum estiveram confinados, calculei, mais de 30% dos portugueses e, portanto, jamais a progressão do vírus podia ter sido atribuída ao confinamento ou ao desconfinamento.

Conhecendo a composição da população trabalhadora por áreas, regiões e sectores apontei o dado de pelo menos 70% a circular sempre. Na verdade foram 85% – 84.4%. Em Lisboa, 75% estiveram sempre a trabalhar fora de casa. No Norte, 88% esteve sempre a circular. Nos Açores e na Madeira, só 1, 3% esteve em teletrabalho e, no Alentejo, 4,3%.

O comportamento do vírus pode ser atribuído a muitos factores (estado de saúde das populações, humidade, frio, pobreza, idade, imunidade, e muitos outros desconhecidos ainda). Não pode ser atribuído a um confinamento que nunca existiu.

Lamento profundamente a precipitação em que tantos colegas, com quem mantenho óptimas relações de trabalho, caíram, confundindo o tempo da investigação científica com a sedução da exposição mediática – a credibilidade é o trunfo maior dos cientistas e dos intelectuais, não se pode ceder nunca a nenhuma pressão política que seja contrária à busca da verdade, primeira obrigação dos investigadores. Ser um intelectual público é uma honra, mas também uma responsabilidade gigante – não se atiram dados e conclusões sem sustentação. Lamento ainda o mal que foi feito aos jornalistas, na sua maioria precários ou com medo real de perder o emprego, sem democracia dentro das redacções, a serem obrigados a noticiar uma realidade que nunca existiu.

As pessoas estiveram expostas ao vírus nos transportes e no trabalho e foram obrigadas a prisão domiciliária pós-laboral, uma violência para a saúde psíquica, a vida humanizada, enquanto escutavam os responsáveis políticos dizer que a culpa era do comportamento delas que ousavam tomar um café ou ir à praia. Diz um velho princípio iluminista que a realidade não se inventa, está fora de nós. [É] a vida como ela é.

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Imagem: Alterio Felines/Pixabay

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Quem da pátria sai a si mesmo escapa?

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Categorias: Crónica, Saúde, Trabalho

Acerca do Autor

Raquel Varela

Raquel Varela é Historiadora, Investigadora e professora universitária da FCSH da Universidade Nova de Lisboa / IHC / Socialdata Nova4Globe, Fellow do International Institute for Social History (Amsterdam) e membro do Observatório para as Condições de Vida e Trabalho. Foi Professora-visitante internacional da Universidade Federal Fluminense. É coordenadora do projeto internacional de história global do trabalho In The Same Boat? Shipbuilding industry, a global labour history no ISSH Amsterdam / Holanda. Autora e coordenadora de mais de 2 dezenas de livros sobre história do trabalho, do movimento operário, história global. Publicou como autora mais de 5 dezenas de artigos em revistas com arbitragem científica, na área da sociologia, história, serviço social e ciência política. Foi responsável científica das comemorações oficiais dos 40 anos do 25 de Abril (2014). Em 2013 recebeu o Santander Prize for Internationalization of Scientific Production. É editora convidada da Editora de História do Movimento Operário Pluto Press/London e comentadora residente do programa semanal de debate público O Último Apaga a Luz na RTP. Entre outros, autora do livro Breve História da Europa (Bertrand, 2018).

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