Irmãos

Irmãos

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Irmãos são ramos da mesma árvore que foram crescendo em direções diferentes. Abanam quando o vento sopra mais forte e executam um terno bailado quando as tempestades assolam sem aviso. Alimentam-se com as mesmas raízes e elaboram outras seivas que se moldam aos seus desejos e se ajustam a frutos que já foram flores belas e selvagens.

São cúmplices de crimes cometidos por ingenuidade e aliviam castigos injustos e pouco reparadores. Completam-se e sabem que a distância, o juiz maior, é apenas uma partícula que em nada modifica o sentimento e a essência. Não podem deixar de o ser. Combinam loucuras que sabem ser perigosas mas que, em pura e perfeita conivência, funcionam sem problemas de maior.

Fazem corridas de cágados, soltam bombinhas de mau cheiro, apanham moscas e fazem colares, fabricam facas com pregos, atiram-se à linha do comboio e fecham os olhos, defendem-se e atacam-se conforme os tempos, juntam-se e afastam-se e não deixam de ser quem são.

Há os de sangue, que se aceitam assim mesmo, sem mais, e os de coração, os que o livre arbítrio coloca nos caminhos lamacentos da vida e que são escolhidos para nos darem a mão quando as lágrimas comuns se juntam com os sorrisos guardados que devem ser libertos. Há os que não se podem negar e nem sempre aceitar, e há os que, sem qualquer esforço, entram no coração e ganham um lugar de destaque como se fossem irmãos desde sempre.

Mesmo que se afastem em rumos incertos há sempre forma de se voltarem a encontrar em portos seguros, onde grande parte das vezes são banhados com algumas lágrimas de tristeza e de muita saudade. O vento salpica os caminhos e torna-os mais suaves para que um dia se recordem de como foram e viveram.

A vida faz o que tem programado e crescer é sempre a maior dor. Não que a felicidade não resida a seu lado mas pelo facto de os anos, esses marotos que avançam sem autorização nem medo, irem deixando marcas da sua passagem e não permitindo que as tão doces e cruéis brincadeiras infantis possam ser repetidas com o mesmo sabor.

Irmãos o que são afinal? Duas faces da mesma moeda, mas com cunhagens em tempos diferentes e pesos que nunca se perdem.

Imagem: PxFuel

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Categorias: Crónica, Família, Sociedade

Acerca do Autor

Margarida Vale

Deram-me o nome de Margarida e, sem terem essa intenção, fiquei ligada à terra e aos seus modos. Margarida do Vale. Mistura de culturas que se sabem entrosar, entre o sul e as ilhas, assim cresci entre gente culta e estudiosa e pessoas simples que sabiam o valor da labuta diária. Sou uma amálgama de tudo e de vontades, por isso, a mente que me foi dada é irrequieta. Já tive várias profissões e agora estacionei no ensino. Que existe de melhor do que estar com gente jovem, com pequenos diamantes que precisam de ser lapidados e polidos? Os desafios são enormes mas a recompensa é bem maior. O crescimento é recíproco e salutar. A História é uma paixão, assim como a escrita, que esteve parada durante uns anos e cuja gaveta foi reaberta sem data para encerrar. O passado coletivo é a nossa herança e não pode ficar esquecido. para tal existem as letras que lhe tentam fazer justiça e testemunho. Afinal de que somos feitos? De sonhos e de quereres e ainda de várias vidas que se vão vivendo conforme os obstáculos vão surgindo e necessitam de ser ultrapassados. Viver é uma arte que se renova e que encanta. Talvez seja por isso que o Tejo me acompanha e vivo bem perto dele e do local onde os barcos foram feitos para zarparem e descobrirem novos mundos.

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