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Eduardo Lourenço disse adeus a uma vida longa e dedicada ao pensamento e a Portugal. Era o mais destacado pensador português vivo e tinha 97 anos. Morreu esta terça-feira. Quarta-feira será dia de luto nacional, anunciou António Costa.
Nascido em Almeida, na Guarda, mas residente em Paris durante grande parte da sua vida, apesar da(s) constante(s) presença(s) em Portugal, o “professor, filósofo, escritor, crítico literário, ensaísta, interventor cívico e conselheiro de Estado” Eduardo Lourenço foi um dos pensadores mais proeminentes da cultura portuguesa do Século XX e era igualmente considerado um dos mais proeminentes pensadores europeus. Entre as distinções que recebeu contam-se o Prémio Camões e o Prémio Pessoa.
Compromisso com a vida
António Costa, na TSF, destacou Eduardo Lourenço como o autor de “uma das maiores obras ensaísticas portuguesas”, que “ajudou muito a refletir sobre os fatores de intemporalidade nacional”, incitando os portugueses a prosseguir “as lições que nos deixou”.
Acrescentou ainda que, pessoalmente, este é “um momento de grande tristeza” para si, uma vez que vê partir um “amigo” e “camarada”, com quem teve “a oportunidade de privar e de aprender muito. É com uma grande saudade que nos deixa”.
O Partido Socialista, que sempre acompanhou e por quem se candidatou ao Parlamento Europeu, lembra também, em homenagem, o seu “permanente compromisso cívico e político, inseparável da sua vivência cultural” que o distinguiram como “um cidadão ativo e comprometido com a vida”.
Afirmar Portugal, amar Portugal
Também o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, reagiu à notícia, logo após o final da cerimónia de comemoração do 1.º de Dezembro. “Eduardo Lourenço, conselheiro de Estado por minha nomeação, pensou Portugal toda a vida”, lembrou Marcelo Rebelo de Sousa.
“Portugal está-lhe muito grato, foi praticamente um século de serviço a nossa pátria”, sublinhou. “Viveu toda a vida a defender Portugal, a afirmar Portugal e a amar Portugal.”
Quiem era Eduardo Lourenço?
“Sou vários”, confidenciou Eduardo Lourenço sobre si mesmo, em entrevista a Alfonso Armada, no ABC, quando questionado acerca de quem era afinal este homem perguntaram quem era. Acrescentaria, no entanto, uma humilde explicação: “Mas como esse lugar de variedade é ocupado por Pessoa, sou uma nota de rodapé para o poeta que iluminou a minha vida”.
“O Labirinto da Saudade, impiedosa exposição do irrealismo nacional”, tornou-o conhecido do grande público e transformou-o no pensador de serviço do nosso país, recorda Luís Miguel Queirós, no obituário do Público. “Ouvi-lo pensar ao vivo foi um dos privilégios do Portugal democrático. Mas a poesia era a sua verdadeira casa, e foi no confronto com o génio de Fernando Pessoa que o seu pensamento mais luminosamente brilhou”, conclui na introdução do seu artigo.
Homem afável de simplicidade desarmante
Triste pela notícia do falecimento do ensaísta e filósofo Eduardo Lourenço, o Presidente da Câmara Municipal de Guimarães, Domingos Bragança, manifestou o seu “profundo pesar” e endereçou à Família enlutada as mais sentidas condolências.
Eduardo Lourenço integrou o Conselho Geral da Fundação Cidade de Guimarães, órgão de aconselhamento e acompanhamento de Guimarães Capital Europeia da Cultura 2012 presidido pelo Antigo Presidente da República, Jorge Sampaio.
Tendo prontamente aceite o convite para integrar aquele órgão, Eduardo Lourenço deslocou-se diversas vezes a Guimarães para participar nas suas reuniões, “invariavelmente enriquecidas com a sua visão, o seu pensamento e a sua cultura”.
“Homem de trato afável e simplicidade desarmante para alguém da sua estatura intelectual e notoriedade, Eduardo Lourenço deixa-nos um precioso legado literário e ensaístico, fundamental para a compreensão de Portugal e dos Portugueses”, lembra o autarca vimaranense.
Biografia breve
Eduardo Lourenço nasceu em São Pedro de Rio Seco (Almeida) a 23 de Maio de 1923. Frequentou o Liceu da Guarda e cursou Ciências Histórico-Filosóficas na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, fazendo-se já sentir da sua parte uma atitude crítica e um pensamento autónomo. Após o curso, leccionou nessa faculdade como professor assistente, iniciando a sua colaboração em revistas como a Vértice, onde se estreou com um poema e onde foi publicando os ensaios mais tarde reunidos em Heterodoxia I, numa primeira edição de autor, em 1949. A sua actividade docente viria a estender-se até 1953, ano que marcou o início do seu exílio voluntário, por estar desapontado com a vida académica portuguesa, não chegando a apresentar a tese de doutoramento, então em projecto, sobre o tema «Tempo e Verdade». A partir de 1954, leccionou em universidades estrangeiras nas cidades de Hamburgo, Heidelberg, Montpellier, São Salvador da Baía, Grenoble e Nice, aposentando-se desta última em 1988, e ficando a viver na região (Vence). Atento à realidade portuguesa, participou, apesar do seu afastamento, na vida política do país através da sua obra escrita e até do apoio a figuras e candidaturas políticas”.
Obra singular
A sua abordagem crítica da realidade, inicialmente inspirada pelo neo-realismo, aproximou-se depois do existencialismo, por contacto com a obra de pensadores franceses. Não se deixou, no entanto, condicionar por estas influências, filtrando e analisando as motivações menos evidentes no comportamento dos portugueses como povo. A produção ensaística de Eduardo Lourenço, abrangendo diversas áreas, da literatura e da arte aos acontecimentos políticos contemporâneos, tornou-se um fenómeno singular na cultura portuguesa, orientada por uma constante argumentação personalista. A sua obra tem sido também permeada pela literatura, levando-o a escrever sobre escritores portugueses, como Miguel Torga, Vergílio Ferreira, Agustina Bessa-Luís, Jorge de Sena e José Saramago, entre outros, voltando a temas políticos quando a realidade o motiva a tal, como no caso da integração de Portugal na Europa.
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Obs1: biografia e obra – Biblioteca Municipal da Guarda
Obs2: artigo atualizado em 01122020, 18h23, com informação relativa ao pesar manifestado por Domingos Bragança e o Município de Guimarães.
Imagens: (0) Eduardo Lourenço, (1) Miguel Gonçalves Mendes/ABC, (2) JL/Ler Eduardo Lourenço
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