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Artur do Cruzeiro Seixas faria 100 anos a 3 de dezembro.
O poeta e pintor surrealista nasceu a 3 de dezembro de 1920 na Amadora, Lisboa. Frequentou a Escola de Artes Decorativas António Arroio, entre 1935 e 1941, participando também dos encontros no Café Hermínius. Tal como os restantes surrealistas, sentiu-se atraído pelo Neorrealismo (1945-1946), mas as inquietações plásticas e os desejos de libertação estética e ideológica conduziram-no para o Surrealismo.
O Mestre e Os Surrealistas
Em 1948 toma parte na atividade dos surrealistas, mantendo um continuado contacto com o Mário Cesariny e outros membros do futuro grupo Os Surrealistas, de que é figura maior.
Assumiu o projeto surrealista, desde 1949, e não mais o abandonou, afirmando-se na área do desenho, na qual desenvolveu com grande perícia técnica um universo muito pessoal. Representa, na sua obra, um universo imaginário, sobretudo através de um constante recurso a contrastes entre pretos e brancos.
Viver é… Surrealizar
1951 é o ano em que se alista na marinha mercante, viajando por África, Índia, Extremo Oriente e acaba por fixar-se em Angola até ao desabrochar da Guerra Colonial. Aqui desenvolve o gosto pela dita “arte primitiva” e, num percurso individual, continua a ação surrealista. Desenvolve também as linhas da sua poesia.
Os seus trabalhos diversificaram-se ‘pelo desenho, pela pintura, a escultura e as assemblages de materiais diversos, explorando diversas técnicas e suportes para concretizar uma figuração fantástica a que José-Augusto França, nos anos 70, chama de “imagética cruel, ilustrações possíveis de Lautréamont”, e a propósito de uma exposição feita na altura em Lisboa. Quanto a Édouard Jaguer, crítico de arte editor da revista Phases, que se interessou pelo grupo de Cesariny e Cruzeiro Seixas, afirmou que “a inexorável pureza do grafismo de Cruzeiro Seixas subtrai ao preto e branco silhuetas sucintas de uma beleza ambígua, num estilo cortante onde o escalpelo parece substituir a pena”’, refere Luísa Soares de Oliveira em artigo publicado no e-Cultura, em parceria com o Público.
‘Emília Ferreira, por seu lado, no catálogo de obras do Museu Calouste Gulbenkian, fala de um “mundo desolador” criado pelo artista que “soube coexistir com paisagens mais ligeiras e felizes, como algumas pintadas nos anos de Angola.” No que respeita ao estilo inconfundível desenvolvido por Cruzeiro Seixas, as paisagens lunares, povoadas por seres ambíguos e híbridos — pássaros que possuem braços, torsos de mulheres que se abrem em clareiras de fogo, personagens minúsculas que dão escalas desmedidas às suas composições — convocam a prática de um desenho virtuoso e fantástico que pôde de facto falar aos jovens que, a partir da década de 50, abordavam a Pop Art e todas as suas declinações europeias mais conceptuais. Cruzeiro Seixas, ao contrário de Cesariny, que abriu a pintura a campos de experimentação inovadores dentro do informalismo, é sobretudo um desenhador e um praticante da colagem e da assemblagem. Mas é também um divulgador da estética surrealista no meio português’, acrescenta ainda.
Acervo pessoal na Fundação Cupertino de Miranda
A Fundação Cupertino de Miranda é detentora do seu acervo pessoal, constituído por cartas, postais, cadernos manuscritos, fotografias, desenhos, catálogos, serigrafias, colagens, objetos, pinturas, entre outros. Este foi aqui reunido após aquisição decidida pelo então – 1999 – diretor artístico do Museu da Fundação Cupertino de Miranda, Bernardo Pinto de Almeida. Este criara na sede desta instituição um Centro de Estudos do Surrealismo – CES com o objetivo: estudar, conservar e expor a obra dos surrealistas portugueses. Graças a esta aquisição, o público português pode então passar a ter acesso permanente, na sua diversidade e riqueza, à obra deste artista, tanto à pintura, desenho e múltiplos, mas também aos objetos de memória duchampiana e aos seus 42 “diários não diários” (livros de apontamentos quotidianos e notas projetuais da sua obra).
Cruzeiro Seixas está representado nas principais coleções nacionais, nomeadamente na Fundação Calouste Gulbenkian. A 14 de outubro de 2020 foi condecorado com a Medalha de Mérito Cultural, pela Ministra da Cultura, Graça Fonseca, galardoado com a Medalha de Honra da Sociedade Portuguesa de Autores em 2012.
Cruzeiro Seixas faleceu no dia 8 de novembro de 2020, no Hospital de Santa Maria, em Lisboa.
Funeral com cerimónia restrita
A Fundação Cupertino de Miranda informa que o corpo do Mestre Cruzeiro Seixas vai estar no Teatro Thalia, em Lisboa, entre as 10h30 e as 15h00, do dia 10 de novembro de 2020 (amanhã, terça-feira).
Seguirá, posteriormente, para o Cemitério dos Prazeres numa cerimónia restrita.
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Imagem: (0, 1) Pepe Diniz/FCG, (2) Nelson Garrido/e-Cultura/CDC
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