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Os morcegos-vampiros selvagens doentes passam menos tempo perto de outros membros da sua comunidade, o que retarda a rapidez com que uma doença se espalha.
Quando se trata de contágio, os morcegos-vampiros, uma das espécies de morcegos residentes em Portugal, são muito cuidadosos e tomam medidas de prevenção eficazes para proteger a comunidade em que vivem. Destaca um estudo, publicado recentemente na Behavioral Ecology, estes animais fazem uma espécie de quarentena quando estão doentes.
Doença altera comportamentos sociais
É comum em muitas espécies que os seus membros doentes alterem o comportamento à medida que um patógeno se espalha pela população, desse modo modificando a forma como a doença eventualmente se espalha. Uma das formas de minimizar danos entre a comunidade é reduzir o contacto de indivíduos saudáveis e doentes.
Em algumas espécies sociais, os doentes podem isolar-se voluntariamente ou, em sentido contrário, serem mesmo excluídos das colónias pelos seus companheiros. Um mecanismo mais simples que causa a redução da transmissão passa pela apresentação de um comportamento doentio, facilmente observável, por exemplo, entre as aves, que inclui aumento da letargia e do sono, e redução do movimento e da sociabilidade. Este distanciamento social induzido pela doença não requer a cooperação de outros indivíduos e parece ser comum entre as espécies.
Experiência simula infeção
Depois de uma observação prévia em laboratório, uma equipa da Universidade de Oxford dirigida por Simon Ripperger, resolveu conduzir uma experiência para investigar como o comportamento doentio afeta os relacionamentos ao longo do tempo, usando uma rede social dinâmica. As conclusões permitiram observar que os morcegos doentes se associavam a menos companheiros de grupo, passavam menos tempo com os outros e eram menos ligados socialmente a companheiros de grupo saudáveis.
A investigação desenrolou-se com um grupo de 31 de morcegos-vampiros que viviam nas cavidades de uma árvore em Lamanai, no Belize. Quinze deles integraram o grupo de controlo e receberam uma solução salina, que não teve qualquer efeito no organismo. Os restantes foram injetados com uma dose de lipopolissacarídeos, componentes que se encontram na membrana de algumas bactérias e que atuam como estimulantes do sistema imunológico. A substância permitiu a simulação de uma infeção, sem que os animais ficassem efetivamente doentes.
Morcegos-vampiros doentes associam-me menos a indivíduos saudáveis
Durante os três dias seguintes, os investigadores colaram sensores de proximidade aos morcegos, os soltaram de volta em sua árvore oca e acompanharam as mudanças ao longo do tempo nas associações entre todos os 16 morcegos doentes e 15 morcegos controle em condições naturais.
Comparados aos morcegos de controle, os morcegos doentes associavam-se a menos companheiros de grupo, passavam menos tempo com os outros e eram menos ligados socialmente a companheiros de grupo saudáveis quando consideravam as conexões diretas e indiretas.
Durante as seis horas do período de tratamento, um morcego doente associou-se em média a quatro associados a menos do que um morcego de controle. Um morcego controle tinha, em média, 49% de chance de se associar a cada morcego controle, mas apenas 35% de chance de se associar a cada morcego doente.
Durante o período de tratamento, os morcegos doentes gastaram 25 minutos a menos associando-se por parceiro. Essas diferenças diminuíram após o período de tratamento e quando os morcegos estavam a dormir ou a forragear fora do poleiro.
Quando recuperaram a saúde, as quarentenas dos morcegos-vampiros terminaram.
Curiosidade
Contrariamente àquilo que frequentemente se pensa, apenas 3 das 1.100 espécies conhecidas no mundo
se alimentam de sangue, sendo o morcego-vampiro-comum (Desmodus rotundus) uma delas, divulga a Fundação de Serralves. Este morcego, que pesa, em média, cerca de 40 gramas, ingere por noite metade do seu peso em sangue proveniente das suas presas (maioritariamente mamíferos de grande porte).
Uma vez que a dentada que o morcego vampiro dá na presa tem uma profundidade entre 1 e 5 mm, não atinge os grandes vasos sanguíneos. Assim, o morcego vai lambendo lentamente o sangue e, para evitar que este coagule quando em contacto com o ar, produz proteínas anticoagulantes na sua saliva. Não passa, por isso, de um mito a crença de que os morcegos sugam os animais até à morte.
Imagens: (0) Sherry Brock Fenton, (1) Serralves
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