A síntese perfeita de Cesariny em ‘Poemas Dramáticos e Pictopoemas’

A síntese perfeita de Cesariny em ‘Poemas Dramáticos e Pictopoemas’

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A Assírio & Alvim acaba de publicar Poemas Dramáticos e Pictopoemas, de Mário Cesariny. A obra conta com edição, prefácio e notas do investigador Perfecto E. Cuadrado. O crítico das literaturas do Modernismo, em particular do Surrealismo na sua relação com outras artes, e coordenador do Centro de Estudos do Surrealismo da Fundação Cupertino de Miranda, em Vila Nova de Famalicão, apadrinha, por isso, a publicação.

Poemas Dramáticos e Pictopoemas, de Mário Cesariny, tal como o nome indica é o volume que reúne o teatro, os poemas dramáticos e os pictopoemas do autor. Além das já conhecidas peças Consultório do Dr. Pena e do Dr. Pluma, Um Auto para Jerusalém, Titânia e o guião cinematográfico A Norma de Bellini, este livro inclui ainda três peças nunca antes publicadas em livro: Projecto de Rebelião, O Processo Projecto não Terminado para Teatro Radiofónico.

«Dizemos “poemas dramáticos”, e devemos assinalar duas questões prévias: que, afinal, e falando do autor Mário Cesariny, tudo nele era e é poesia, incluindo a “literatura” que Verlaine afastou para uma geografia diferente, e incluindo também (segunda questão) a pessoa e a personagem do autor, isto é, o actor Mário Cesariny, histrião maior da República que transformava o mundo à sua volta em palco universal para as suas encenações e representações, onde palavras, gestos, movimentos e silêncios reabilitavam para todos nós — espectadores e parte do sentido final do espectáculo — uma realidade que, à boa maneira pessoana, precisava dessa transmutação alquímica para ser definitiva e absolutamente real», refere Perfecto E. Cuadrado no Prefácio.

«Parafraseando André Breton: nem limites nem fronteiras no vasto território da Poesia, diverso e uno. Com essa ideia abrangente, decidimos organizar este volume dedicando a segunda parte às justaposições, conjunções, fusões e confusões da poesia plástica e da poesia verbal, da palavra e da imagem.»

Cesariny: artista, crítico e teórico do movimento surrealista

Poeta, autor dramático, ficcionista, crítico, ensaísta, tradutor e artista plástico português, Mário de Cesariny  nasceu em 1923, em Lisboa, e morreu em 2006, na mesma cidade.

Polivalente e multifacetado, cursou Arquitetura da Escola Superior de Belas Artes de Lisboa, onde frequentou apenas o primeiro ano, e mudou depois para a Escola de Artes Decorativas António Arroio. Depois de ter frequentado esta escola, prosseguiu estudos de belas-artes em Paris, tendo, ainda, estudado música com o compositor Fernando Lopes Graça.

Figura maior do surrealismo português, a influência que viria a exercer sobre as gerações poéticas reveladas nas décadas posteriores aos anos 50, período durante o qual publicou alguns dos seus títulos mais significativos, ainda não foi suficientemente avaliada. Promoveu a técnica conhecida por “cadáver esquisito”, quer na literatura quer nas artes plásticas. No caso da poesia, consistia na elaboração de uma obra por um grupo de pessoas, num processo em cadeia criativa, na qual cada uma dava seguimento à criatividade da anterior, resultando numa espécie de colagem de palavras, a partir apenas de um acordo inicial quanto à estrutura frásica.

Colaborou em diversas publicações periódicas como o Jornal de Letras e Artes e os Cadernos do Meio-Dia, entre outras. Começou por se interessar pelo movimento neorrealista – ainda que essa breve incursão não tenha ultrapassado mais que uma postura irónica e paródica, firmada em Nicolau Cansado Escritor – para, em 1947, regressado de Paris, onde frequentou a Academia de La Grande Chaumière e onde conheceu André Breton, fundar o movimento surrealista português.

A sua postura polémica na defesa de um surrealismo autêntico levou-o, porém, a deixar o grupo no ano seguinte, para criar, com Pedro Oom e António Maria Lisboa, o grupo surrealista dissidente. Como um dos principais críticos e teóricos do movimento surrealista, manteve ao longo da sua carreira inúmeras polémicas literárias, quer contra os detratores do surrealismo quer contra os que, na prática literária, o desvirtuavam.

A sua obra poética começou por refletir, em Corpo Visível ou Discurso Sobre a Reabilitação do Real Quotidiano, o gosto pela observação irónica da realidade urbana que, fazendo-se eco de Cesário Verde, constitui ainda uma fase pouco significativa relativamente a volumes próximos da prática surrealista como Manual de Prestidigitação. Aí, a mordacidade e o absurdo, o recurso ao insólito, aliados a uma discursividade que raramente envereda por um nonsense radical, permitem estabelecer, como nenhum outro autor da década de 50, um ponto de equilíbrio entre o primeiro modernismo e a revolução surrealista.

No domínio do teatro, em Um Auto Para Jerusalém, pastiche de um conto de Luís Pacheco, revela a influência de Pirandello ou de Alfred Jarry. No fim da década de 60 e início de 70, Mário de Cesariny encetou um trabalho de reposição da verdade histórica do movimento surrealista, coligindo os seus manifestos, editando a obra poética inédita de alguns dos seus representantes, e dando ao prelo textos seus datados do período de maior envolvimento com a teoria e prática do surrealismo, como 19 Projectos de Prémio Aldonso Ortigão seguidos de Poemas de Londres (1971), ou Primavera Autónoma das Estradas (1980) ou Titânia (1977).

Em 2005, recebeu a Grã-Cruz da Ordem da Liberdade, entregue pelo então Presidente da República, Jorge Sampaio, e, em novembro desse mesmo ano, foi galardoado com o Grande Prémio Vida Literária, uma homenagem à sua notável contribuição para a literatura portuguesa.

Espaço Mário Cesariny consagra homem de natureza excecional em Famalicão

No final da vida, Mário Cesariny e a Fundação Cupertino de Miranda assumiram uma relação de grande proximidade e amizade. A sua exposição permanente dedica um espaço próprio ao artista e contém, para além de algumas das suas obras e objetos pessoais, um conjunto de 12 fotografias tiradas em 2003 ao interior da sua casa pelo fotógrafo Duarte Belo. A Fundação Cupertino de Miranda apresenta assim uma mostra destinada a consagrar o artista e o homem de natureza excecional que representa o Surrealismo, como expressão artística e literária e, sobretudo, como uma maneira revolucionária de ver, de entender e de viver a Vida.

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‘Como a sombra [de Isabel Meyrelles] a vida foge’

Fontes: PE, A&A, FCM, Sistema Solar; Imagens: (0) PE/PA/FCM/ed VN, (1) FCM

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