Sabores | Melão… com presunto

Sabores | Melão… com presunto

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Só depois de meados de Agosto é que começava o tempo dos melões. Até lá guardava-se quotidianamente o meloal. Era preciso manter a rega, capar os melões, ir vigiando e contando os frutos que iam crescendo e… esperar, esperar com paciência. O acto de capar nunca o percebi, mas olhava-o como uma etapa fundamental para haver boa produção. Percebo agora que não é mais do que uma poda que retira estrategicamente alguns rebentos.  Todo este ritual, que acompanha a sementeira e crescimento destes frutos, observei-a, também, há poucos anos, entre os monges de Tibães, nos séculos XVII e XVIII. De tal modo apreciavam um bom melão que premiavam com uma gorjeta o hortelão, que lhes tratava do meloal, no momento em que este aparecia na cozinha com o primeiro melão da época. Era uma espera que finalmente acontecia e que merecia gratificação porque significava que tinha feito um bom trabalho.

O melão sempre foi um dos frutos mais apreciados pelos portugueses! Houve um tempo até, lá nos alvores do século XVI e XVII, em que se cultivava uma variedade de melões de Inverno que frutificavam no final da Primavera. E os monges de Tibães, sempre atentos às iguarias da época, compravam-nos para a festa capitular que acontecia de três em três anos, nos inícios do mês de Maio, e com eles regalavam os seus convidados. Nestes séculos passados dizia-se que era um dos mais formosos frutos que produz a terra, que mitigam a sede e refrigeram as entranhas, atribuindo-se-lhes algumas funções medicinais como a de baixar a febre.

E o Minho, onde a terra é fértil e a água abunda, sempre primou na produção destes frutos. Tem inclusive uma variedade própria de melão – o casca de carvalho – mais apimentado do que os outros, e que faz honras nas mesas de Verão.

Mas, apesar de muito apreciados, os melões, segundos os cânones médicos da época, eram considerados frios e húmidos, isto é, pouco saudáveis, porque cresciam junto à terra absorvendo toda a humidade maléfica que provocava várias doenças. Era, por isso, necessário corrigi-los de modo a que não prejudicassem a saúde. Nasceu, assim, o hábito de comer melão com presunto, ou com especiarias, alimentos quentes e secos que combinados com o frio e húmido do melão o transformam num alimento temperado, isto é, moderadamente quente e húmido e, por isso, mais saudável. Mas nestes ditames medicinais era também recomendável que se acompanhasse com um bom vinho, igualmente quente e húmido. E lá diz o ditado que com melão vinho de tostão! E esclareça-se aqui que um tostão equivalia, em tempos antigos, a 100 reis, isto é, um valor já elevado para um almude de vinho, só compatível para os vinhos quentes e doces da região do Douro.

Enfim, venham os frutos para a mesa e deliciemo-nos com estas maravilhas gastronómicas!

Imagem: AP Coelho

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Categorias: Crónica, Cultura

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