Na década de 60 do século I da nossa era, houve uma revolta em larga escala dos judeus de Israel contra a dominação romana.
A revolta foi facilitada pelos constantes abusos de poder por parte das autoridades romanas. A miséria era crescente em todo o território de Israel.
Em 66, o governador romano Floro, alegando um atraso no pagamento dos impostos, enviou um destacamento militar para extorquir, aos judeus, no templo, uma enorme quantidade de ouro.
Como represália pelas manifestações judaicas de protesto, Floro ordenou a prisão e a crucificação de um grande número de manifestantes.
Implacável máquina de guerra Romana destruiu a cidade e o templo de Jerusalém
Os judeus estavam divididos entre os que queriam a reconciliação com os romanos e os extremistas que defendiam a guerra. Havia uma esperança de conquistar uma limitada independência sob suserania romana.
Neste contexto cada vez mais difícil, a comunidade judaico-cristã de Jerusalém decidiu abandonar a cidade e buscar refugio na cidade de Pela, na Transjordânia. A sua postura ia de encontro à mensagem de paz de Jesus, que é o oposto de uma ideologia de sublevação violenta e que se situa na linha de profetas como Isaías e Jeremias que tinham advertido o povo judeu contra qualquer guerra contra potências muito mais poderosas.
Roma não tolerou o levantamento judaico. Mobilizou um quarto do seu vasto exército imperial (cerca de 80.000 efetivos) para a reprimir. Enviado pelo imperador Nero, o general Vespasiano invadiu Israel em duas frentes, a norte e a sul. À morte de Nero, em 68, Vespasiano partiu para Roma e foi proclamado imperador. Então, enviou o filho Tito, que prosseguiu a estratégia da guerra de terror contra os judeus promovida pelo seu pai.
Para enfrentar a resistência judaica, os romanos recorreram ao terror em larga escala, com a destruição de povoações, a matança dos homens capazes de pegar em armas e à venda de mulheres e crianças como escravos. Perante este cenário de guerra de terror, muitas povoações de Israel capitularam.
Jerusalém era uma cidade sobrepovoada, devido ao grande fluxo de refugiados e de peregrinos que tinham deslocado à Páscoa do ano 70.
Inicialmente, Tito procurou vencer a resistência de Jerusalém mais pela fome do que pelas armas. Cercou a cidade com uma forte paliçada e ordenou a crucificação ou o corte das mãos dos que tentavam escapar ao cerco militar romano.
Quando considerou, com fundamento, que Jerusalém estava sem provisões alimentares, Tito lançou a sua máquina de guerra implacável contra a cidade.
No início do verão, os romanos tinham construído rampas e conseguiam abrir brechas nos muros e entrar na cidade em etapas. Atearam fogo à cidade e destruíram as muralhas.
O templo foi um dos últimos bastiões a cair, mais concretamente no mês de agosto. O templo, com o seu grandioso complexo de edificações e pátios, foi incendiado e posteriormente demolido.
Rebeldes cristãos da Judeia foram massacrados
Em setembro de 70, Jerusalém e o seu templo eram ruínas fumegantes e a maioria dos seus habitantes judeus tinham sido mortos ou feitos prisioneiros ou escravos.
Após a queda de Jerusalém e a destruição da cidade e de seu templo, ainda havia algumas fortalezas da Judeia – Herodium, Maqueronte e Massada – nas quais os rebeldes continuavam. Herodium e Maqueronte caíram para o exército romano nos dois anos subsequentes à queda de Jerusalém. Em 73, os romanos romperam os muros de Massada e capturaram a fortaleza. Os defensores de Massada promoveram um suicídio coletivo.
Prática de injustiças dá livre curso a lutas pelo poder
Quando se analisa a visão de conjunto para a história de Israel, constata-se que duas condições são requeridas para o êxito das revoltas: ter uma fé humilde e firme em Deus e ter um grande sentido de justiça e de amor.
Quando não é praticada justiça, é deixado livre curso às leis da História terrena, no qual o mais forte domina o mais fraco e na qual a sorte dos povos se decide nas lutas do poder.
E se essa trágica destruição de Jerusalém não tivesse acontecido?
É interessante fazermos aqui uma breve pausa, para um exercício de História contrafactual, e colocarmo-nos uma interrogação: que teria acontecido ao cristianismo nascente se não tivesse havido a guerra judaico-romana e a trágica destruição de Jerusalém?
No início da década de 60, a Igreja de Jerusalém tinha afirmado a sua posição de primazia em relação às comunidades cristãs da diáspora. Mas a morte trágica do seu líder, Tiago, irmão de Jesus, em 62, e a guerra judaico-romana impediram a concretização deste projeto.
Se o projeto da Igreja de Jerusalém tivesse tido êxito, provavelmente, teríamos um cristianismo menos dogmático, mais ligado à identidade judaica, mais recetivo à diversidade multirreligiosa existente nos primeiros séculos da nossa era, mais plural, mais centrado na dimensão mística e interior da espiritualidade e consequentemente mais consentâneo com a mensagem de amor, paz e compaixão proclamada e praticada por Jesus. Provavelmente, teríamos uma visão mais universalista da fé em Jesus, segundo a qual Deus está em Jesus, da mesma forma que Deus está dentro de cada de um de nós.
Este é um aspeto da maior relevância que os primeiros cristãos, sobretudo os mais ligados às linhagens judaica e gnóstica, compreenderam. Por outras palavras, uma espiritualidade baseada na ortopraxia em vez de uma ortodoxia. É, assim, legítimo supor que não teria havido a dolorosa rotura entre o cristianismo e o judaísmo e que o islão não teria surgido como religião separada.
Implicações reais da destruição de Jerusalém nos anos 70 do Século I
A guerra judaico-romana demonstra que cada ser humano de boa vontade deve estar vigilante contra o mal e todas as formas de opressão e confiar no poder transformador do Amor infinito, nas suas diversas dimensões.
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Imagem: David Roberts
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