Olimpismo | Maratona de Saint Louis 1904: entre a bizarria e o irreal

 

 

Era a terceira edição dos Jogos Olímpicos e foi realizada nos Estados Unidos, na cidade de Saint Louis, em 1904 – também, a terceira vez que um acontecimento daquele tipo, a exemplo das anteriores de Paris, em 1900, e em Atenas, em 1896, iria ficar manchado por uma certa bizarria, relativamente à organização e ao facto de serem integrados na Exposição Universal.

A Maratona foi uma das provas afetadas por alguma confusão e até irregularidade – a mais carismática e a mais nobre, a fechar o calendário organizativo.

Os terceiros Jogos foram, então, destinados para a cidade americana de Saint Louis, escolha que se ficou a dever à intervenção de Franklim Roosevelt, Presidente dos Estados Unidos que para lá puxou a organização, contrariando o projeto de Chicago, cidade para onde estava inicialmente destinada. Um dos argumentos invocados foi a realização da referida Feira Mundial de 1904.

Para lá de uma certa ignorância relativamente ao fenómeno desportivo – neste caso, a Maratona foi cumprida num percurso muito estranho e irregular -, aquele dia 30 de agosto de 1904 foi um autêntico massacre para os trinta e dois atletas oriundos de quatro nações.

A primeira reação emanou do público assistente, há muito, farto de aguardar pela chegada dos atletas, quando precisamente, três horas e treze minutos após a partida, chegou ao Estádio o primeiro atleta, Fred Lorz, um americano, de imediato, aclamado vencedor e até alvo da homenagem de Alice Roosevelt, a filha do Presidente Americano que posou ao lado do pretenso vencedor da Maratona.

Nesse crucial momento da consagração, o Estádio abanou com uma notícia que denunciava o atleta Fred Lorz como um batoteiro porque havia sido descoberto – cumprira onze milhas do percurso à boleia de um carro – apenas havia cumprido quinze quilómetros e apanhou a dita boleia até faltarem sete quilómetros para o fim da prova!

Colocado perante esta acusação Lorz teve a hombridade de confessar o crime sendo de imediato afastado da competição após sancionada a sua desclassificação.

Foi tido como vencedor o segundo classificado, Thomas Hicks, um norte-americano de origem inglesa mas também não isento de acusações relativas a atos irregulares detetados durante o caminho, desde a ingestão de produtos estranhos para o tempo, caso do álcool e da estricnina.

Em termos atuais, a ingestão desses produtos enquadrar-se-ia no fenómeno do doping. Teve início a dez milhas da chegada no momento em que, exausto, anunciou a sua desistência, intenção que foi contrariada pelos amigos que o acompanhavam de perto num carro. Declarou estar exausto, não aguentar nem mais um centímetro! Um novo esforço e uma nova paragem, outra dose de estricnina, desta feita com dois ovos, acompanhada de uma refrescadela de água oriunda de um carro que acompanhava os atletas. Uma nova paragem e uma nova insistência, até à meta. A última dose fez com que o atleta chegasse ao fim do percurso com dez quilos a menos, cambaleando, a dar conta de si mas com alucinações! Segundo uma declaração médica, Hicks correu um grande risco pois uma nova dose de estricnina mais poderia ter sido fatal – cortou a meta amparado por dois homens.

Muitos anos então se passaram até ao momento em que a ingestão de produtos capazes de alterarem as capacidades atléticas e de resistência e assim obter melhores resultados se encontra sob a vigilância apertada da lei antidoping. Os atletas viviam ainda em condições muito precárias de treino e sofriam pressões constantes hoje tidas como ultrapassadas. Em Saint Louis, aquele dia de Agosto apresentava-se demasiado quente, o ar quieto com ausência total de vento, verdadeiramente quente e húmido. Toda a corrida foi um caos com as sucessivas desistências, atletas a vomitar e problemas estomacais, ferimentos por quedas.

Saint Louis 1904, a bizarria e o irreal!

 

**

*

Se chegou até aqui é porque provavelmente aprecia o trabalho que estamos a desenvolver; e não pagou por isso.

Vila Nova é cidadania e serviço público: diário digital generalista de âmbito regional, independente e pluralé gratuito para os leitores. Acreditamos que a informação de qualidade, que ajuda a pensar e a decidir, é um direito de todos numa sociedade que se pretende democrática.

Como deve calcular, a Vila Nova praticamente não tem receitas publicitárias. Mais importante do que isso, não tem o apoio nem depende de nenhum grupo económico ou político.

Você sabe que pode contar connosco. Estamos por isso a pedir aos leitores como você, que têm disponibilidade para o fazer, um pequeno contributo.

A Vila Nova tem custos de funcionamento, entre eles, ainda que de forma não exclusiva, a manutenção e renovação de equipamento, despesas de representação, transportes e telecomunicações, alojamento de páginas na rede, taxas específicas da atividade.

Para lá disso, a Vila Nova pretende produzir e distribuir cada vez mais e melhor informação, com independência e com a diversidade de opiniões própria de uma sociedade aberta e plural.

Se considera válido o trabalho realizado, não deixe de efetuar o seu simbólico contributo – a partir de 1,00 euro – sob a forma de donativo através de netbanking ou multibanco. Se é uma empresa ou instituição, poderá receber publicidade como forma de retribuição.

Se quiser fazer uma assinatura com a periodicidade que entender adequada, programe as suas contribuições. Estabeleça esse compromisso connosco.

Contamos consigo.

*

NiB: 0065 0922 00017890002 91

IBAN: PT 50 0065 0922 00017890002 91

BIC/SWIFT: BESZ PT PL

Obs: Envie-nos o comprovativo da transferência e o seu número de contribuinte caso pretenda receber o comprovativo de pagamento, para efeitos fiscais.

*

Deixe um comentário