Olimpismo | Maxwell Long: aplausos desviados

Olimpismo | Maxwell Long: aplausos desviados

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Segundo os cânones, hoje defendidos, as três primeiras edições olímpicas estiveram muito aquém do desejado, muita desorganização e alguma bizarrice até.

Depois do início prometedor de Atenas, em 1896, a seguinte, de Paris, baralhada e integrada numa Exposição Universal, não esteve isenta de uma certa confusão – outros comportamentos que se fizeram sentir, em especial do público assistente, em que os Jogos Olímpicos eram novidade mas muito divorciados do seu natural contexto.

Uma oportuna referência à prova dos 400 metros, planos, disputada num clima de duelo entre franceses e americanos – um atleta em destaque, o americano Maxwell Long que haveria de cortar a meta em primeiro lugar. Apesar da alegria da vitória mais entusiasmado ficou quando sentiu estar a ser ovacionado, um facto que acabaria por deixá-lo perplexo – de imediato, estranhou a assistência francesa estar a aplaudir um atleta estrangeiro, num ambiente em que o desportivismo andava por outras bandas ou estava ainda metido na gaveta!

Uns momentos mais e a confusão haveria de ser desfeita: o público francês não estando a par da fisionomia dos atletas nem do seu equipamento específico, percebeu que o vencedor da prova não era francês dado que envergava uma camisa azul e branca – simplesmente, a da Universidade Americana de Columbia, dos Estados Unidos, ali estampada num atleta americano.

Quando o vencedor foi anunciado, aconteceu a deceção total e os aplausos terminaram ali mesmo porque Maxwell Long era na verdade um homem americano daí a improbabilidade de ser aplaudido.

Na verdade um modo de estar muito próprio dum tempo em que o desporto, melhor a presença de quem assistia a um espetáculo se retratava segundo os padrões da época – sem menosprezo para o entusiasmo e a aceitação que o fenómeno desportivo vinha a ter pela sua democratização. Sabemos que naquele fim ou início de século, o XX, a fruição desportiva era privilégio de uma classe economicamente favorecida porque a massa popular não tinha tempo para isso ou não estivesse para tal sensibilizada. Com o decorrer do tempo e fruto dos resultados das alterações sociais (a industrialização dava sinais de si) registou-se uma partilha de oportunidades tendo depois o povo na sua generalidade conquistado o seu lugar no desporto.

Este fenómeno registou-se, com muita veemência, também, em Portugal, onde a conquista de oportunidades, apesar de mais lenta e tardia, deu provas de que o desporto caminhava para a sua universalidade. Mais ainda, essa partilha de oportunidades foi acompanhada de uma convivência salutar e até meados da década de vinte do século passado a aristocracia passou a viver de mãos dadas com o povo.

Ainda bem!

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Categorias: Crónica, Desporto, Sociedade

Acerca do Autor

Ilídio Torres

Membro da Academia Olímpica de Portugal, órgão do Comité Olímpico de Portugal.

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