Indignação em torno da vandalização da estátua do Padre António Vieira

Indignação em torno da vandalização da estátua do Padre António Vieira

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“Oh Santa Ignorância! E que tal estudar um pouco mais de Padre António Vieira, seus energúmenos?”. Sandra Passos, de Famalicão, professora de Português, mostra-se indignada com os últimos eventos surgidos na sequência das manifestações contra o racismo acontecidas um pouco por todo o mundo, nomeadamente em Lisboa e Braga, no coração do Minho.

Vos estis sal terrae (Vós sois o sal da terra) continua por se cumprir”, elogia, recorrendo a uma expressão do próprio, um dos maiores vultos intelectuais e morais portugueses de todos os tempos, a propósito da desorientação instalada numa sociedade em que se confunde racismo e colonização. 

 

Ontem, 11 de junho, o monumento ao Padre António Vieira, existente em Lisboa, foi vandalizado com pinturas e dichotes – DESCOLONIZA. A escola Mundos de Vida, em publicação prosaicamente intitulada ‘Pela Liberdade’, chama aos autores “os novos Talibans do “politicamente correto”. “Vivem com o mesmo fanatismo dos Talibãs que destruíram as grandes estátuas de Buda no Afeganistão, património da Humanidade”.

Em aditamento, na internet corre uma petição a propôr a destruição do Padrão dos Descobrimentos, monumento construído em 1940 para homenagear o Infante D. Henrique ao abrigo das campanhas de propaganda do Estado Novo em favor do Império Português. “Glorificar a colonização não faz sentido em pleno séc XXI”, consideram os seus proponentes, tal como milhares de outros que a nível mundial se têm manifestado contra o racismo, em movimento global que não tem olhado a meios nem a consequências para abater alguns dos mais icónicos símbolos civilizacionais do Ocidente.

“A sério????”, interroga-se a estupefacta professora nas redes sociais, relembrando que “o Padre António Vieira foi um dos que mais defendeu os indígenas da escravatura e da exploração. Aquele que, mais do que ninguém, defendeu os princípios da Igualdade e Justiça Sociais. Leiam o seu Sermão aos Peixes e perceberão o “seu grito de revolta” contra a escravatura a que os colonos Americanos submeteram os indígenas em São Luís de Maranhão, no Brasil”.

Pasmada pela ignorância de quem não estuda a Língua Portuguesa e a História de Portugal – veja-se o que tem acontecido com a diminuição de horas dedicadas ao seu estudo nos currículos nacionais, mas também internacionais em detrimento das Ciências -, recorda que o Padre António Vieira “atacou tudo e todos em nome da liberdade destas gentes. Atacou, inclusive, a própria Igreja culpando os padres por não saberem converter os seus ouvintes e assim evitar que a Humanidade fosse corrupta ao ponto de escravizar. Tudo isto lhe valeu ser “olhado de lado ” pelos “Grandes” que teimavam “comer os pequenos”.

“O que se segue? Luís de Camões? D. Afonso Henriques? Vasco da Gama? Afonso de Albuquerque? Norton de Mattos? O Mosteiro dos Jerónimos? A Torre de Belém? A bandeira portuguesa?”, interroga-se, por sua vez, Carlos Gomes, lisboeta com fortes ligações ao Norte, no seu Blogue do Minho, em semelhante registo.

“Não aceitamos que venham destruir o nosso património e apagar a nossa História. As autoridades têm de agir para repôr a ordem!”

“Não há futuro sem memória! A vandalizacão de monumentos, independentemente do seu significado, é uma tentativa de apagar a nossa história. Estamos perante uma geração de falsos moralistas que pretendem apagar a nossa memória colectiva por decreto unilateral em que só pode estar subjacente um desejo de vingança. Esta só pode ser uma geração ressentida. E isto não augura um bom futuro para o país”, acrescenta Paulo Vieira da Silva, sociólogo, do Porto.

Obs: Artigo atualizado com informação acerca da Mundos de Vida em 12062020, 15h11.

Imagens: (0, 2) Blogue do Minho, (1) Joana Reis

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Categorias: Civismo, História, Sociedade

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