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Frágeis, fortes, dependentes, independentes, confiantes, temerosas, apaixonadas, desiludidas, acarinhadas, abusadas, idolatradas, maltratadas, tristes, sorridentes… Todos os adjetivos e seus contrários num léxico interminável de emoções, parecendo muitos deles, apenas e só, a elas pertencerem.
É como se numa tentativa, sempre vã, de as definir, faltasse brilho ao sol num dia de verão, ou um calor inusitado tomasse de assalto uma manhã de inverno.
Aproximam-se talvez melhor os poetas da sua essência, porque capazes de escrever os silêncios, ou sentir o odor da terra molhada numa lágrima sua, lhes filiam os sentidos conhecidos, e um sexto.
São, nos dias de hoje, apesar de todos os relatos de violência, e dos números da vergonha que de vez em quando fazem gráficos nos telejornais, uma força vital da sociedade.
Lutam todo o tempo, apesar de tudo, contra os papéis que o modo patriarcal teima em impor-lhes, contra a diferenciação salarial que teimosamente persiste, reduzindo a pó os estereótipos, ocupando funções que alguém terá destinado apenas aos homens.
Conduzem camiões e autocarros, são polícias, mineiras, operárias, carteiras. E apesar de realizarem com competência funções que a sociedade parece querer apenas reservar aos homens, fazem-no tantas vezes melhor, tantas vezes com mais empenho e concentração.
Não desistem de ser mães, de constituir famílias na angústia, na insegurança, ou na desilusão dos dias. E quando as coisas não dão certo, vestem a coragem que lhes sobrou, e fazem-se à estrada de mão dada com os filhos que geraram, desafiando o medo.
E é nesse vazio que querem preencher, que tantas vezes mãos assassinas cortam o ar que respiram, espetam facas onde parecia já não caber uma lâmina que fosse.
A mulher fez-se (a ela própria) para ser amada, cuidada, protegida, não se fez para ser comemorada um dia no ano, na benevolência da política paritária, na generosidade de uma lápide descerrada.
A mulher não se descerra, ama-se.
Sim, eu sei, peguei eu também nesta crónica por um lado generoso e apaixonado. Dirão alguns colegas de escrita que estou a esquecer a mulher-cabra, egoísta e dominadora, cujo perfil na literatura vem sendo descrito em muitas páginas.
Dirão que já se cruzaram com ela muitos, eu próprio certamente.
Se essa mulher existe, queixem-se então da igualdade aqueles que ao longo de uma vida, indiferentemente do género, espezinharam o semelhante, alicerçando num torpe poder a arrogância.
Amo-as, e em cada uma que passou pela minha vida fiquei permanecendo, mesmo que a tristeza da partida as tivesse levado para outros braços.
Amo-as nas ausências, na cama vazia dos seus corpos. Isso faz de mim um homem melhor a cada dia.
Podia ter secado, até definhado no rancor, na mágoa, qual anjo negro espreitando a solidão áspera do desalento, mas isso… isso não faria jus a tudo quanto aprendi com elas.
Mãe, filha, mulheres da minha vida.
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