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Ninguém nasce para estar só e sem amor, por mais afinidade que tenha com a solidão.
O mundo está preenchido de gente só, na maior parte dos casos sem ter escolhido essa condição, ou sequer ter-lhe sido dada a possibilidade de escolher.
Pode estar-se só com muita gente dentro de nós, e pode estar-se acompanhado por poucos. Um apenas.
Não é o número que conta, aliás números não passam disso: números.
Sempre fui mau a fazer contas, e nas dos afectos, as que sempre contaram para mim, foram as de multiplicar, aqueles em que sempre me enganei. O resultado era sempre maior que a conta…
Também nunca soube dividir. Há mal nisso?
Ensino aos meus alunos que a operação contrária da multiplicação é a divisão, mas pergunto-me continuamente, se, enganando-me a multiplicar, não me engano sempre a partilhar.
É que, para partilhar, a casa da divisão chama-se coração, e o resto, esse obtém-se por sucessivas subtrações.
Subtraímos os que nos fizeram ou fazem mal, esperamos um resto zero, mas se o resto for outro, é nesse que temos que centrar uma atenção redobrada, porque foram afinal sempre esses que nos preencheram os dias.
A melhor forma de escrever a vida chama-se erro.
É nele que definimos o rosto da noite e do dia, do sol e do luar, do bem e do mal, se quiserem.
Não há mal nenhum em errar continuamente. Qual é o relógio que não se atrasa? Os suíços não são exemplo.
Se cada um achasse que era perfeito, não precisava do outro para nada. Amava-se como um narciso. Masturbava continuamente os dias, e podia até, na ilusão de que não cometia erros, ascender ao divino.
O problema é que a vida ensina-nos pelas falhas, na queda. Erguem-se do chão os mais fortes, mas mesmos aos que não conseguem levantar-se, é sempre dada a oportunidade de ver nascer o sol, de sentir a chuva, o vento, a terra molhada.
De que umbigo nascemos?
Do umbigo da nossa mãe, ou do umbigo da terra?
Como se diz ao pior inimigo que o amamos? Com que fel escrevemos as palavras na boca?
E a ambição? Alguém já dormiu com ela?
Escrevo este texto a quatro mãos. Duas são minhas, as outras duas de quem quiser.
Das mulheres que amei, dos filhos que gerei. Da angústia, da fome de ir mais além, e da traição.
Sim, da traição. É preciso contar com ela. Esconde-se sorrateira no sorriso. Saiba cada um distinguir o amarelo.
O que faz pulsar o mundo não é, nem nunca será, a vingança. Essa morre sozinha, num inferno à medida de quem a pratica.
A cura do mundo cabe em quatro letras. Falso palíndromo.
Roma e Pavia não foram feitas num só dia, assim como afinal o mundo, mas o amor, esse, é um fósforo que arde num segundo.
Torná-lo permanente é a mais difícil arquitectura a que cada um se pode propor.
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