A ilusão da morte e a dimensão espiritual da vida

A ilusão da morte e a dimensão espiritual da vida

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Nos dias 1 e 2 de novembro, o calendário cristão assinala os Dias de Todos os Santos e dos Fiéis Defuntos.

Trata-se de uma oportunidade privilegiada para refletir sobre as questões da morte e da vida após a morte.

A alma ou espírito

A grande maioria da humanidade, na diversidade das suas culturas, admite a existência de algo para além do corpo físico. Uns falam de alma, enquanto outros falam de espírito. Alguns falam numa estrutura humana, baseada em duas componentes: a alma (ou espírito) e o corpo físico. Outros referem três componentes: espírito, alma e corpo. E há quem preconize a conceção septenária, segundo a qual o ser humano é constituído por sete componentes.

O que existe é um consenso de que a nossa essência ou consciência é imaterial, e, consequentemente, não pode ser apreendida pelos sentidos físicos. É vida, inteligência, energia subtil, criatividade e poder realizador e transformador.

Neste sentido, existe um conjunto vasto e multifacetado de pessoas que acreditam que a morte é um evento transicional que desata a essência humana do corpo físico.

Consciência e vida post-mortem

A consciência, em muitas tradições religiosas, espiritualistas, filosóficas e mitológicas é considerada a essência incorpórea do ser humano, um aspeto imortal e transcendente da existência material.

As descobertas experimentais da física quântica sugerem que a consciência é a realidade suprema, primordial e ilimitada. Sem a consciência, o espaço e o tempo não existiriam.

A consciência humana não pode ser mais vista como um epifenómeno cerebral, mas como a base do ser no seu todo, da qual emanam todas as manifestações materiais, incluindo o próprio cérebro. O cérebro descodifica e interpreta a vibração emitida pelo espirito, incluindo os próprios pensamentos, e transmite-os ao corpo físico.  

A ligação entre o espírito e o corpo físico é feita através do cordão energético ou cordão de prata, denominado como sutratma pelas espiritualidades orientais e recipiente dourado na Bíblia judaico-cristã.  

De acordo com esta conceção, é através do cordão de prata que a energia vital flui no nosso eu verdadeiro ou eu superior para o corpo físico. Quando cessa a transmissão da energia vital, o cordão quebra-se e eclode a morte física. As situações de coma podem ser explicada pela quebra parcial do cordão. Nestas situações, ocorrem muitas vezes as experiências de quase morte.

O conceito de vida após a morte assumiu muitas formas específicas em diferentes culturas e tradições espirituais.

Mas a ideia fundamental subjacente é de que a morte não encerra a existência humana e de que a consciência permanece após a morte do corpo físico.

Crença na vida para lá da morte

Algumas tradições espirituais têm uma crença muito firme na permanência da vida humana além da morte física, considerando que há uma única existência física. Após a separação do corpo, o espirito, que é imortal, continuará a desenvolver-se em realidades espirituais em direção a Deus.

Esta é a conceção preconizada pelo judaísmo, pelo cristianismo e pelo islão, bem como pela religião bahá’í.

Outras correntes espirituais acreditam na reencarnação. Após a morte física, acreditam que o espirito deixe o corpo e viva novamente noutro corpo humano. É importante ter em conta que a reencarnação é uma crença comum entre as religiões orientais, nomeadamente o hinduísmo e o budismo, mas também existia nos essénios, uma das grandes linhagens do judaísmo na época de Jesus, e em grande parte do cristianismo primitivo antes do Segundo Concílio de Constantinopla, em 533. Cada vida é vista como um tempo de preparação para a próxima vida, levando a uma perfeição crescente em direção ao Divino.

Cristianismo e reencarnação física

Há que ter em conta que existem fortes evidências de que o princípio da reencarnação fazia parte dos ensinamentos de Jesus, como um mecanismo da lei universal do progresso e da evolução. Por exemplo, podem ser citados o diálogo entre Jesus e Nicodemos e a declaração de Jesus de que que João Batista era o profeta Elias que retornara. No cristianismo primitivo, algumas das suas figuras mais proeminentes, como Orígenes e Gregório de Nisa, associam as ideias da justiça divina e das vidas sucessivas.

Atualmente, existem algumas linhagens do judaísmo, nomeadamente ligadas à Kabbalah, e do cristianismo esotérico que admitem abertamente a reencarnação.

Celebração do Divino

Independentemente da conceção que se possa ter sobre a morte, a vida deve ser vivenciada com uma postura de celebração. Os seres humanos contêm uma centelha do Divino e a natureza deve ser encarada com reverência e respeito e as diversas dimensões da vida devem ser vivenciadas como oportunidades de desenvolvimento espiritual.

Para os místicos das diversas tradições, o Divino não é um ser remoto que criou o universo, completamente transcendente ao mundo. Pelo contrário, o Divino é a própria essência da Vida, do Amor e da Sabedoria e a Fonte sustentadora de tudo o que existe. Por conseguinte, o Divino é ao mesmo tempo transcendente e imanente.

Viver uma vida com ética

Neste sentido, a salvação deve ser considerada a libertação de tudo o que fratura as nossas relações uns com os outros, com o resto da Criação, com o nosso próprio eu verdadeiro e com a Fonte Divina da qual emana tudo o que existe.  A salvação passa pela prática do amor incondicional, do altruísmo, da compaixão e do desapego.

Uma vida eticamente bem vivida, servindo a humanidade da melhor maneira que puder, é a melhor preparação para a morte, independentemente do que possa existir além dela.

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Imagem: Anton Darius

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Categorias: Crónica, Sociedade

Acerca do Autor

Daniel Faria

Nasceu em 1975, em Vila Nova de Famalicão. Licenciado em Sociologia das Organizações pela Universidade do Minho e pós-graduado em Sociologia da Cultura e dos Estilos de Vida pela mesma Instituição. É diplomado pelo Curso Teológico-Pastoral da Universidade Católica Portuguesa. Em 1998 e 1999, trabalhou no Centro Regional da Segurança Social do Norte. Desde 2000, é Técnico Superior no Município de Vila Nova de Famalicão. Valoriza as ciências sociais e humanas e a espiritualidade como meios de aprofundar o (auto)conhecimento, em sintonia com a Natureza e o Universo. Dedica-se a causas de voluntariado. É autor do blogue pracadasideias.blogspot.com e da página Espiritualidade e Liberdade.

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