Clipping | A Europa… que não os salva!

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A semana foi marcada por uma decisão histórica do Parlamento Europeu.

Teremos motivos todos nós europeus para acordarmos orgulhosos desta velha Europa e alavancarmos de bandeira em riste as estrelinhas que nos unem? Temo que não.

O Parlamento Europeu rejeitou, quinta-feira, dia 31 de outubro, por apenas dois votos, uma resolução, que instava os Estados-membros da União Europeia a reforçarem as suas operações de busca e salvamento no Mediterrâneo para evitar a perda de mais vidas humanas e a encontrarem uma solução estável para a distribuição dos requerentes de asilo socorridos no mar.

E se esta resolução, apresentada pela Comissão das Liberdades Cívicas, da Justiça e dos Assuntos Internos do Parlamento Europeu, foi chumbada, já outras três, em tudo idênticas, haviam sido igualmente reprovadas, foi o caso a resoluções apresentadas pelos Partido Popular Europeu, pela Identidade e Democracia e pelos Conservadores e Reformistas Europeus.

Mas porque estas resoluções são sistematicamente reprovadas no Parlamento Europeu?

Nuno Melo, eurodeputado português, eleito pelo CDS, que votou contra (um dos dois eurodeputados portugueses que votaram contra – juntamente com Álvaro Amaro – eleito pelo PSD) assenta a sua explicação “na  recusa da distinção entre refugiados e migrantes, sabendo-se que a uns e outros se aplicam leis diferentes, e recursos sempre escassos; a tentativa de instrumentalização política do fenómeno, atribuindo-se a algumas ONG o tratamento quase equivalente a Estados […], a recusa da necessidade da cooperação com países terceiros […], e a ausência de resposta para pôr fim ao modelo de negócios perpetuado pelos traficantes e grupos criminosos que têm em mãos a vida de pessoas vulneráveis”.

Discordo em absoluto do Dr. Nuno Melo e dos argumentos colhidos pelos senhores Eurodeputados em questão para este voto contra.

O que estava em causa nesta resolução, que pese embora não tivesse um carácter vinculativo, era a aprovação de uma moção para a busca e salvamento de vidas humanas. A moção em causa propunha a criação de mecanismos europeus para o salvamento de pessoas que tentam atravessar o Mediterrâneo.

Não se trata de nacionalizar todas estas pessoas, ou de as erradicar nos diversos países europeus. Trata-se tão só e apenas de não permitir que milhares e milhares de pessoas, entre as quais crianças e idosos, morram afogadas no mar Mediterrâneo, quando numa aventura desenfreada de fugir às adversidades buscam um solo seguro.

Esta moção visava tão só e apenas alertar os países europeus para juntos, em uníssono, não deixar morrer uma vida mais que fosse, desta forma cruel e abrupta.

Sim, a montante a e jusante temos um problema sério, o que fazer com estes milhares de pessoas.

Mas seguramente a velha Europa, dos senhores dos saberes, unida, conseguirá articular mecanismos alternativos de solução, eventual repatriamento ou outros mecanismos.

O que não se concebe é, como é que os senhores deputados conseguem dormir descansados, com os bolsos recheados de chorudos e merecidos salários, sabendo que ontem, hoje e amanhã, o Mar Mediterrâneo, onde muitos se irão banhar nas férias, cheira a morte – cheira a cadáver – num mar sem fim que consome o sonho e a vida de milhares.

Segundo dados do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados, em 2018 morreram (desapareceram) no mediterrâneo 2262 pessoas. Os dados de 2019 ainda não são conhecidos, mas adivinham-se assustadores.

E ainda assim, pacientemente assistimos à inércia de quem nos governa – numa atitude absolutamente desumana.

Portugal, os portugueses,

A Europa e os europeus,

Não ficaram bem nesta decisão – da qual eu me envergonho.

 

Imagem: Sea-eye.org

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Categorias: Crónica, Política, Sociedade

Acerca do Autor

Sandra Gonçalves

Sandra Duarte Gonçalves nasceu em Angola, cidade do Lobito em 1975. Licenciou-se em Direito em 2001, na Universidade Moderna do Porto. Em 2012 iniciou os estudos de Mestrado em Direito dos Contratos e das Empresas na Universidade do Minho, e em 2015 o Mestrado de Gestão das Industrias Criativas na Universidade Católica do Porto. Inicia a sua formação como advogada em Barcelos, cidade que escolhe para o estágio e o posterior exercício da advocacia, onde atualmente se encontra sob o comando do escritório SDG Advogados. Em 2016 iniciou a atividade de docência no IPCA, dedicando-se, atualmente, em exclusividade à advocacia e assessoria empresarial em termos profissionais. Dedica parte do seu tempo às causas socias e ao voluntariado, sendo atualmente a “violência doméstica” e a “violência sobre idosos”, as causas onde tem exercido mais ingerência, como palestrante, oradora e coordenadora de diversas iniciativas. Militante do PSD desde os 14 anos de idade é atualmente membro da Comissão Política de Secção de Barcelos e coordenadora da secção de Justiça, Cidadania e Igualdade do Conselho Estratégico de Barcelos. É católica praticante. É casada e mãe de quatro filhas.

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