‘Precisamos de vozes [políticas] e decisores [políticos] diferentes’
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Vasco Santos, de barcelos, é candidato às Eleições Legislativas que estão prestes a acontecer pelo Movimento Alternativa Socialista. Portador de um discurso político diferente e pouco comum, frequentemente acusado de se ter fixado num passado histórico ultrapassado, Vasco Santos deixa bem claro, em entrevista, que são precisos ‘vozes [políticas] e decisores [políticos] diferentes’.
Pedro Maia Martins: Como se apresenta aos nossos leitores?
Vasco Santos: Sou de Barcelos, trabalho como assistente operacional e sou militante do Movimento Alternativa Socialista (MAS), neste caso candidato às eleições legislativas como cabeça de lista pelo distrito de Braga. Fui também candidato à Câmara Municipal de Barcelos há dois anos e cabeça de lista às europeias deste ano pelo MAS. Nós pretendemos ser uma voz dos trabalhadores e trabalhadoras, daqueles que são mais oprimidos e explorados. Queremos estar na Assembleia da República para representar as necessidades que essas pessoas sentem e têm. Quem lá tem estado não tem feito a representação quando deveria fazê-lo. Nesse sentido, pretendo ser uma voz daqueles que não têm sido ouvidos.
PMM: Como entrou na política?
VS: Na verdade, acho que sempre estive bastante ligado à política, mesmo enquanto estudante. Isso é algo que esteve sempre presente na minha vida, até por influência dos meus pais e pelas minhas vivências quando era mais novo. Sempre tive vontade de mudar a sociedade.
Mas só entrei para entrei para um partido político, no caso o MAS, em 2010. O MAS já existe desde 1973. Na altura em que entrei chamava-se Rutura/FER e estava dentro do Bloco de Esquerda. Esperei até o movimento estar devidamente organizado antes de entrar. Para conseguirmos as mudanças necessárias, acho fundamental existir organização. Essa organização é necessária para transformar a sociedade.
Eu acho que esse é um dos motivos porque muitas pessoas se desiludem com os partidos. As pessoas acham que os partidos não servem a sociedade e que são todos iguais, o que é um erro, erro esse incentivado pelos principais partidos. Eles dividem para reinar e deixam manter essa ideia. Isso não corresponde à verdade. Os partidos são diferentes como as pessoas são diferentes. Eu não tinha optado por nenhum partido até àquela altura porque não me tinha identificado com nenhum. Eu revejo-me na esquerda. Havia vários partidos nessa área, mas eu não me identificava com nenhum. Ao conhecer o MAS, os seus militantes e a sua forma de estar, a política que defendiam, decidi entrar. Achei que aquele era o sítio onde me podia organizar e dar o meu contributo para conseguir mudar a sociedade, mudar a forma como ela se rege.
PMM: Relativamente ao distrito de Braga, quais são as áreas de atuação mais importantes?
VS: Aquilo que falamos a nível nacional também se reflete no nosso distrito.
A questão da saúde é fundamental para nós. Nós temos lutado e continuaremos a lutar pelo Hospital de Barcelos e pelo Hospital de Braga, que felizmente deixou de ser uma parceria público-privada para passar a ser uma entidade pública empresarial (EPE). O governo continua a não querer resolver os problemas dessa EPE. Trata-se de uma entidade com condições de trabalho diferentes de todas as outras EPE’s existentes no país, o que é discriminatório para esses trabalhadores. Ainda na quinta-feira passada estivemos no Ministério da Saúde para ajudar a melhorar as condições desses trabalhadores e fomos corridos de lá, à força. Quisemos falar das condições dos trabalhadores e a reação do governo foi essa. Ontem tivemos a greve climática e a polícia, mais uma vez, está ali a retirar as pessoas à força.
Este governo, que mantém a austeridade apesar de dizer que iria ser um virar de página da mesma, é duro para os trabalhadores, sejam os enfermeiros, sejam os estivadores, sejam os motoristas. Já para com os poderosos, é manso. A questão que eu coloco é como o Bloco de Esquerda e o próprio Partido Comunista Português apoiam este governo, quando sempre disseram que o Partido Socialista é de direita.
Há também a questão do desemprego e do aumento do salário mínimo. O nosso distrito é fértil em desemprego e salários baixos. Nós defendemos o aumento para 900 euros de salário mínimo e 100 euros para todos os salários. No mesmo sentido, defendemos o fim das empresas de trabalho temporário. Fala-se muito que este governo criou muitos empregos, mas trata-se de emprego precário ou muito mal pago. O próprio período experimental duplicou após a aprovação do novo Código de Trabalho. Este modelo não é funcional.
A questão das reformas também precisa de ser resolvida. Defendemos que as pessoas devem reformar-se aos 62 anos, com 36 anos de descontos. As pessoas não podem trabalhar até à morte. Cada vez mais nos encaminhamos para isso. Cada vez estamos mais perto de trabalhar até aos 70. As pessoas precisam de um tempo para descansar. Há pessoas que começaram a trabalhar muito novas e que não se podem reformar mesmo após 40 e muitos anos de trabalho. Isso acontece tanto no privado como no público. Não podemos continuar desta maneira. E há dinheiro para resolver isso! A insustentabilidade do sistema de pensões é uma mentira! O fundo da segurança social tem milhares de milhões. Na verdade, o objetivo é privatizar a própria segurança social, o que implica a criação de uma suposta crise nela. Assim convencem as pessoas que não vão ter reformas a não ser que se privatize a Segurança Social. Além disso, todos os anos vão vários milhões para o FMI e para o BCE. Só para juros de uma dívida que não fomos nós, trabalhadores, quem criou. Constantemente são injetados milhares de milhões na banca. Todo esse dinheiro faz falta para melhorar o Serviço Nacional de Saúde, para termos uma escola pública de qualidade, para termos salários que possibilitem às pessoas viver dignamente. Em vez disso andamos com a mão esticada e sobra mês ao salário, em vez de salário ao mês.
Outra questão fundamental é o ambiente: nós não podemos continuar a produzir e a consumir da mesma maneira e a achar que vai continuar tudo igual. Não vai. As alterações climáticas são um facto. Temos que nacionalizar a GALP e a EDP, que dão poder a essa contradição energética. Não podemos alimentar a nossa energia de petróleo nem carvão e gás, os combustíveis fósseis são de facto para ficar no solo. No mesmo sentido, o carro individual não é solução. É extramente poluidor. Temos de investir fortemente no transporte coletivo público, de qualidade e gratuito. Essa aposta é tão necessária a nível ferroviário como rodoviário. Nós vamos na estrada e vemos cada um no seu carro. Vemos 50 pessoas em 50 carros. Para isso, bastava um autocarro. Para fazer 50 carros, é necessário extrair muito mais matéria-prima do que para fazer um autocarro. Sai muito mais caro à sociedade, a todos os níveis.
Temos também de combater a exploração do lítio, que planeiam minerar em várias zonas do distrito. Nós – MAS – somos o único partido que se mostra claramente contra a exploração do lítio, os outros no mínimo ficam pelo nim. Ser neutro nessa questão é ser favorável à sua exploração, o que seria um crime. A sua extração é altamente poluente, quer para os solos, quer para as águas, quer para o ar. Só vai resultar na destruição da biosfera, das reservas agrícolas e ecológicas. Vai destruir espaços que deviam ser preservados. Nós estamos cá hoje, mas temos a obrigação de preservar o Mundo para as gerações futuras. Se não alterarmos este caminho em dez anos, a verdade é que entraremos num ciclo altamente destrutivo.
Consideramos ainda ser indispensável lutar contra as opressões. No caso do machismo, este ano já vamos com um número infelizmente alto: 21 mulheres assassinadas e a verdade é que ninguém aprece querer fazer nada. Isto não pode continuar. Nós defendemos penas mais duras e, acima de tudo, penas efetivas para este tipo de crimes. Muitas vezes os acusados vão a tribunal por violência doméstica ou violação e nem sequer são detidos, ou estão cá fora pouco tempo depois. Os tribunais têm sido hotéis para os agressores e locais de ataque às vítimas.
Do mesmo modo, achamos que o racismo e a discriminação da comunidade LGBT também devem ser combatidas. Continuamos a ter uma sociedade altamente preconceituoso.
Por último, no que toca à regionalização, temos de ter em conta que o país é pequeno. Eu não acho que haja necessidade de haver mais parlamentos espalhados pelo país. Não é isso que vai resolver os problemas das pessoas. Mas temos de investir no interior do país, de forma diferente. Para isso, precisamos de vozes diferentes e decisores diferentes. Enquanto forem os mesmos, que olham para os interesses de uma meia-dúzia e não para o interesse coletivo, continuaremos com os mesmos problemas. Se a regionalização ocorrer com o mesmo sistema, o dinheiro vai continuar a ir para o bolsos dos mesmos. São precisos políticos diferentes com outras políticas para fazer chegar os serviços essenciais às populações que vivem nos lugares mais isolados. De outra forma não seria atrativo para as pessoas irem viver para lá.
PMM: Quais são as mais-valias que poderá trazer se for eleito?
VS: Eu faço parte de uma lista composta por trabalhadores, na sua maioria precários. Apesar de a minha situação ser menos precária do que a dos meus camaradas, porque trabalho para o Estado português, não fujo a essa situação. A precariedade vê-se de várias maneiras, não só pela falta de segurança contratual, mas também pelos salários baixos. Eu ganho apenas 635 euros brutos. Há pessoas que têm de trabalhar em dois, três ou mais sítios. Nesse sentido, nós, como trabalhadores, sabemos o quanto custa a vida. Por todo o conhecimento que temos das áreas nas quais as pessoas estão inseridas e, no meu caso em específico, pela minha experiência sindical e por estar envolvido em várias frentes, adquirimos um saber do próprio distrito que nos poderia ajudar nessa função.
PMM: Que poderemos esperar dos seus camaradas (i.e. dos outros candidatos integrantes da sua lista para o distrito)?
VS: Como disse, uma lista de trabalhadores e trabalhadoras, que sabe de facto o que custa a vida, em vez de se limitar a dizer que a vida está difícil porque olha para gráficos ou médias. Nós sentimos na pele os problemas da população. Daí ser essencial as mulheres participarem tanto na nossa lista como nas restantes atividades políticas. As mulheres não são uma parte menor, mas uma fundamental da sociedade. Elas têm de estar presentes. Elas devem ter uma voz ativa. As mulheres têm sido arredadas das discussões. Nós vivemos numa sociedade altamente machista, o que torna tudo muito mais difícil para as mulheres, que são quem arca com os piores encargos.
Profissionalmente, temos tanto operários fabris e metalúrgicos como professores. Todas as classes profissionais estão representadas. Nós pretendemos ser abrangentes, até porque isso nos permite ter uma visão mais aprofundada da realidade. Nada melhor do que alguém que vive um problema para poder falar sobre ele. Só assim poderá saber as respostas às necessidades desse setor.
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Imagens: DR
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Acerca do Autor
Pedro Maia Martins
Esposendense de nascimento, barcelense de criação e conimbricense por hábito. Licenciado em Jornalismo e Comunicação pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. Colaborou no passado com o Jornal Universitário de Coimbra - a Cabra e com a Revista Via Latina - Ad Libitum. Foi o último editor de País e Mundo do referido jornal. Colabora neste no momento com a Vila Nova Online e a Revista Bica.
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