À Política o que é da Política, à Justiça o que é da Justiça, à Vergonha o que é da Vergonha

À Política o que é da Política, à Justiça o que é da Justiça, à Vergonha  o que é da Vergonha

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São inúmeros os artigos de opinião onde podemos ler “à Justiça o que é da Justiça, à Política o que é da Política”. Esta frase também é ouvida, vezes sem conta, na boca dos políticos, numa espécie de refúgio, para não terem que comentar o caso de quem se vê confrontado a ter que prestar contas com a justiça.

De facto, relativamente aos últimos acontecimentos na Câmara Municipal de Barcelos, é muito importante que a justiça funcione e é fundamental que funcione rápido. Se, por um lado, há uma pessoa em prisão domiciliária, que tem o direito à presunção da sua inocência e se vê limitada na sua vida diária; por outro, existem suspeitas de corrupção e prevaricação sobre o Presidente da Câmara que têm que ser absolutamente escrutinadas. Isto cabe apenas à JUSTIÇA!

Outra coisa bem diferente é um Presidente de Câmara entender que ser detido seis dias para averiguações e ter como medida coação a prisão domiciliária, com o impedimento de contactar os funcionários da autarquia, não o impedem de poder estar no exercício “pleno” das suas funções. É muito grave! E não é menos grave haver todo um executivo que acredite e propague que realmente é possível gerir a Câmara a partir de casa, que pense que isso pode representar qualquer tipo de liderança sã. É um absurdo! E não estou, minimamente, a fazer qualquer espécie de condenação a priori. Acho, de igual modo, que se o Sr. Presidente estivesse doente, impossibilitado de exercer em “pleno” as suas funções, teria também que, de imediato, suspender ou renunciar ao mandato. Evidenciaria confiança na sua equipa eleita, manifestaria respeito pelos funcionários do município e, acima de tudo, representaria sentido de responsabilidade por Barcelos e pelos Barcelenses, porque a circunstância em que se encontra já não lhe permite servir o concelho, ou pelo menos não da forma como se comprometeu perante o eleitorado. Isto cabe bem na POLÍTICA!

E depois há, ainda, a Vergonha (ou falta dela) e quanto a essa, realmente, não há “justiceiros” ou “políticos” que possam resolver. O arguido receber a televisão em casa e justificar os vários ajustes diretos à mesma empresa com o argumento da confiança política para desenvolver conteúdos de “marketing político” é, no mínimo, insólito. Acrescentar que nunca poderia conceder essa função a um “opositor político”, porque ele certamente não iria desenvolver tais conteúdos com benefício para o executivo é escandaloso. É que não está a ser escolhida a empresa que vai fazer obras lá em casa! Não se podem segregar “opositores políticos” neste domínio. O que está em causa é a existência de mais empresários de comunicação – apoiantes, opositores ou indiferentes – que devem ter as mesmas oportunidades, e aos quais é exigido o profissionalismo no exercício das suas tarefas, já que essas devem ser inteiramente identificadas e contratualizadas. Só isto!

É demasiado mau! Mas, lá no fundo, o que mais me entristece, para além daquilo que é da justiça e para além daquilo que é da política, é que não se tenha a mínima noção de indecência e que, nos últimos anos, a Câmara Municipal de Barcelos tenha gasto bem mais de 1 milhão de euros em “marketing político”. É que, para isso, é mesmo preciso não ter a mínima VERGONHA!

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Categorias: Crónica, Política

Acerca do Autor

Mariana Carvalho

Mariana Carvalho nasceu a 18 de setembro de 1977, em Barcelos, cidade onde também reside. É licenciada e mestre em Matemática, tendo concluído o seu doutoramento em Engenharia Industrial e de Sistemas, em 2012. É Professora e Investigadora da Escola Superior de Tecnologia, do Instituto Politécnico do Cávado e do Ave, desde 2001, onde tem assumido inúmeras funções de coordenação e participação em comissões pedagógicas e científicas, em atividades académicas de ligação à comunidade e, também, nos seus órgãos colegiais e de responsabilidade académica. É Vereadora da Câmara Municipal de Barcelos, desde outubro de 2017.

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