A Europa que nós queremos cheira a alecrim

A Europa que nós queremos cheira a alecrim

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O músico e escritor brasileiro Chico Buarque, vencedor do Prémio Camões 2019, escreveu em 1974 a canção “Tanto mar”, censurada à época por ser uma saudação à Revolução de Abril em Portugal.

Na canção, o cheiro a alecrim é associado à liberdade. Cresci a ouvi-la, convencida que estava de que a censura era coisa do passado. Mas não é. Nem no Brasil, nem em Portugal ou no resto da Europa.

Num tempo em que a extrema-direita volta a constituir-se como uma séria ameaça aos avanços na defesa dos direitos humanos registados nas últimas décadas, os resultados das eleições para o Parlamento Europeu fizeram-me sentir que cheira a alecrim. Depois de contados os votos dos mais de 400 milhões de eleitores dos 28 Estados-membros da União Europeia, e apurados os resultados, renasce alguma esperança de que as forças progressistas ganhem força sobre os populismos, e de que os ambientalistas consigam finalmente trazer para a agenda política europeia aquele que é o maior desafio dos nossos dias, a resposta à emergência climática. Que a resposta a essa emergência possa ser também vetor de promoção da justiça social, é o que desejo. Se partilham desse desejo os cerca de metade dos eleitores que se abstiveram de participar, nunca saberemos.

A participação no conjunto dos Estados-membros, com exceção do Reino Unido, terá ficado próxima dos 51%. Sabe a pouco, e obriga-nos a questionar os motivos do desinteresse de um tão elevado número de cidadãos. Em Portugal, um dos países em que a taxa de abstenção registada foi das mais elevadas, estes números são difíceis de entender, apesar de sabermos que a atualização dos cadernos eleitorais, com a inclusão de muitos emigrantes que antes não estavam inscritos, inflaciona estes valores.

No passado dia 26, foram às urnas mais de 3 milhões de portugueses, em números absolutos mais do que nas eleições europeias de há cinco anos atrás, mas, ainda assim, menos de um terço dos eleitores. Como disse um conhecido humorista português na noite das eleições, a abstenção ganhou. Não colou cartazes, não foi às feiras, não deu beijinhos a ninguém e, no entanto, ganhou.

De entre os partidos que colaram cartazes, foram às feiras e deram beijinhos, há um que, para além disso, se destacou pela seriedade da sua cabeça de lista, a Marisa Matias, que fez durante a campanha em Portugal o mesmo que fez nos últimos anos no Parlamento Europeu, trabalhou afincadamente para ouvir toda a gente, para dar resposta a todas as questões, para promover a justiça social. O reconhecimento desse trabalho faz do Bloco de Esquerda a terceira força política do país, o que representa uma enorme responsabilidade, mas me faz sentir que, não obstante os enormes desafios que temos pela frente, cheira a alecrim.

 

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Categorias: Crónica, Política

Acerca do Autor

Ana Rute Marcelino

Licenciada em Geografia pela Universidade de Coimbra. Professora.

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