Facebook meu amor

Facebook meu amor

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Desenganem-se, esta não é uma crónica moralista sobre os efeitos perversos da exposição privada nas redes sociais, nem sobre os nefastos danos nos relacionamentos, muito menos um tratado de engate.

Não é uma receita, não é um prato arranjadinho para meter inveja aos que comem sempre em casa, não é um poema.

Não é uma laracha, não vai falar de futebol e do penalty que não foi assinalado, muito menos de política.

Esta é uma crónica séria sobre essa coisa deliciosa chamada «Auto-Promoção Galopante», (APG) que nos infectou a todos, e da qual ninguém se quer curar.

Que felizes somos, que desgraçadinhos fomos, que apaixonados estamos, que traidor(a) foi. Que lindo(a) que é, que feio(a) que era.

Confesso que para os infelizes, para os coitadinhos, não tenho paciência. O que eu gosto mesmo é de ver que a malta faz exercício, que já iniciou a operação bikini e a perda de barriguinha.

Gosto dos solidários, dos que defendem a classe profissional a que pertencem, e que não perdem a oportunidade para meter alfinetes nas outras.

Gosto dos ambientalistas, dos amigos dos animais, dos reikianos, dos espiritualistas, dos pêtistas (desculpem, falei de política…), sem gostar da maior parte dos brasileiros.

O Facebook é o nosso amor primeiro, não tenham problemas em aceitar esta irrefutável verdade.

Nunca lhe dói a cabeça, não tem problemas de erecção. Combate eficazmente a solidão.

O Facebook é o nosso portefólio, o nosso álbum de boas recordações, que as más, eliminamos logo após o rompimento com o namorado(a), com o marido ou a esposa.

É como se a linha temporal pudesse ser apagada sempre que quiséssemos e o outro deixasse de existir. Um bloqueio é um poderoso analgésico contra a dor.

«Longe da vista longe do pensamento», seria uma boa máxima, não fossem os truques que sempre existem para dar uma furtiva espreitadela, através, por exemplo, do Facebook de um amigo, que só por acaso também é amigo virtual de quem se quer ver pelas costas…

Ah, meu Facebook, meu torrãozinho de açúcar, meu chuchu, meu doce de geleia, minha saudosa marmelada.

Como gosto de ti de manhã quando acordo vigoroso, ao almoço e ao jantar. Como gosto de ti ao deitar.

Nunca me traias, olha que fujo para o Instagram, e depois, depois publico apenas fotos bonitas de mim e das minhas viagens por aí, e nunca mais te passo bola.

Ouviste bem, ou queres que te faça um post?

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Imagem: Elisa Queiroz

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Acerca do Autor

José Ilídio Torres

José Ilídio Torres nasceu em Barcelinhos em 1967. Estudou Direito e Arqueologia, mas acabou licenciado em ensino, variante de educação física, leccionando ao 1º e 2º ciclo do ensino básico. É formador em futebol há cerca de 20 anos. Trabalhou como jornalista na imprensa regional, em jornais como o Notícias de Barcelos e Primeiro de Janeiro, bem como na Rádio Cávado. É autor de 11 livros, em romance, conto, infanto-juvenil e poesia. Foi deputado municipal em Barcelos e candidato à Câmara Municipal pelo Bloco de Esquerda, tendo-se afastado recentemente da vida política activa.

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