Um mundo com mais respeito e tolerância com as mulheres

Um mundo com mais respeito e tolerância com as mulheres

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Temos por hábito complicar a compreensão daquilo que é muito simples. Às vezes, não por nossa culpa. Há um plano narrativo seguido à risca por nossa sociedade, e o objetivo é transformar as ideias simples e necessárias em aparentemente cabeludas de forma proposital. Por exemplo, a ideia que dizem complexa, que chamam de ‘ideologia de gênero’ e dão outros muitos nomes escabrosos para construir um roteiro de medo em cima dela é nada mais do que a ideia que mulheres são seres humanos, tal qual são homens. Isto é o que chamamos de feminismo. Está surpreso? Não, senhoras e senhores, as feministas não querem dominar o mundo, muito menos desejam provar que são melhores ou iguais. Primeiro porque seria inútil dizerem-se iguais. Mulheres e homens são sim diferentes, e que bom, que maravilhoso! Mas estas diferenças ficam no âmbito humano. Mulheres são humanamente diferentes, mas socialmente é justo e está mais do que na hora que sejam tratadas de forma igual, e que seja garantido pelo Estado seus direitos, suas oportunidades; o nome disso é equidade.

Mas porque a reinvindicação de algo tão simples é tão difamada? Isto acontece porque para que a mulher alcance direitos básicos, a sociedade que é estruturada no poder do homem teria que retirar privilégios dos que têm em demasia. Quando alguém tem 90% e alguém tem 10%, para o alguém que tem 10% chegar a 40%, o que tem 100% tem que ceder de sua parte. Em resumo, dentre outros exemplos há um que é o mais importante: para que uma mulher nunca mais apanhe de seu marido, o direito de seu marido de bater-lhe impunemente como se isso fosse parte do processo matrimonial precisa ser retirado e punido. Isto seria o mais coerente a ser feito, mas só interessa as mulheres e, por isso, só as mulheres vão lutar por isto.

Esta equidade está longe de ser alcançada. Vivemos ainda um momento em que é preciso dizer obviedades, como que, por exemplo, homens não podem somente por ser homens ganhar maiores salários para desempenhar as mesmas funções, ou até mesmo gritar aos quatro ventos que não, não é nada normal o marido espancar a esposa, nem que mulheres não possam andar a rua à noite por medo de serem violadas. Não importa se isto sempre foi assim, é para isso que estamos aqui hoje, para modificar, transformar este paradigma. Talvez pudesse fazer sentido, na Idade da Pedra, que a força física se sobressaísse, a famosa lei do mais forte, mas estamos em 2018 e para alcançar uma sociedade verdadeiramente desenvolvida é preciso afinal deixar a idade da pedra para trás e vivenciar esta noção humana de agir conforme nossa capacidade de reflexão em busca de um planeta mais desenvolvido, com base no respeito e harmonia na diversidade.

Há séculos as mulheres sofrem em todo mundo com desigualdade e violência. Os homens, que se acham proprietários de seus corpos cometem delitos com respaldo do estado, que quando não estimula, omite-se não dando a punição adequada a estes casos de violência. Está na altura de dizermos não a isto tudo, mas vejam, quando dizemos nos chamam de feministas radicais e denigrem a imagem das mulheres que se opõem. Não lhe parece muito mais radical para o tempo que vivemos os números alarmantes das pesquisas da Organização das Nações Unidas (ONU), que mostram ainda hoje há crescimento não somente a violência doméstica e no namoro, como também das violações e da insistência dos costumes reprováveis, como de mutilação dos clitóris, genitálias costuradas, ácidos jogado à cara, casamento de meninas de 6 anos com homens de 70 entre outros?

Agora, senhora leitora, que por acaso diz que não gosta destas cenas feministas, a senhora acha correto que maridos tenham direito de espancar esposas ou até tirá-las a vida? A senhora precisa trabalhar fora? A senhora acha que uma mulher deve ter direito ao voto? Que ela pode dirigir? A senhora acha bem uma mulher portuguesa ter uma carreira como cientista, juíza ou médica? Então digo-lhe que a senhora não sabe, mas é uma feminista, caso contrário estaria em casa apenas a cuidar dos miúdos porque até mesmo seu direito à conduzir um veículo foi conquista das pautas e agendas feministas. Até pouco tempo atrás, as mulheres portuguesas precisavam pedir autorização de seu marido até mesmo para trabalhar fora como professora primária, e mesmo sofrendo de violência era obrigada a permanecer casada. Hoje algumas coisas já mudaram, e que bom. Isto aconteceu porque em todo mundo as feministas pressionam os poderes e obtiveram alguma vitória. Ainda estamos longe do ideal. Mas o que interessa é que não vamos desistir. E em breve nossas netas gozarão de um mundo com mais respeito e tolerância com as mulheres, usufruindo da nossa batalha como usufruímos hoje das conquistas das que vieram antes de nós. O mundo gira. E que bom!

 

Imagem: Manuella Bezerra de Melo

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Acerca do Autor

Manuella Bezerra de Melo

Jornalista nascida em Pernambuco, Brasil, Manuella Bezerra de Melo foi produtora cultural e repórter, especializou-se em Literatura Brasileira e Interculturalidade. É poeta, cronista, autora e contadora de histórias infanto-juvenis. Quando viveu nas Serras de Córdoba, na Argentina, publicou sua primeira obra, Desanônima (Autografia, 2017). Já em Portugal, publicou Existem Sonhos na Rua Amarela (Multifoco, 2018) e Pés pequenos pra tanto corpo (Urutau, 2019) e participou da antologia Pedaladas Poéticas (Aquarela Brasileira, 2017). Mora em Guimarães e dedica-se a um mestrado em Teoria da Literatura na UMinho.

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