‘Os grilos, ah os grilos, esses são sempre / amigos em quem se pode confiar: cantam à noite e de dia / ninguém sabe o que fazem ou pensam’
Tenho um problema com girassóis

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Tenho um problema com girassóis;
nunca sei para que lado estão voltados.
Os grilos, ah os grilos, esses são sempre
amigos em quem se pode confiar: cantam à noite e de dia
ninguém sabe o que fazem ou pensam. Na estrada
que ladeava o rio sem água, repleto de peixes imaginários,
minhocas azúis como recatados capitalistas ocos, passeavas de
triciclo enquanto lias as galáxias invisíveis e esfregavas as nádegas no selim protuberante.
No entanto só os dias de verão traziam aquilo que todos ambicionavam. A vida sem paradoxos.
Era sempre um gratificante domingo, desses sem existência
no calendário das perplexidades, quando saías com a família para um piquenique
na floresta. O caminho corria entre campos de girassóis amorfos
e as aranhas que acompanhavam os movimentos
das flores confundiam-se com pernas de rã roxas, com
cogumelos intumescidos pela tesão do sexo crepuscular, molhado,
envolto em penugens sedosas e hipnotizantes. Quando chegavam à clareira das árvores
retorcidas do pliocénico, descarregavam o conduto e, sobre uma colcha
de rendas de bilros da avó, divertiam-se com gozo da cena de tonalidades
escarlates e com a ausência dos grilos.
– Como se chama a avó da tia? Perguntou um gnomo que por ali passava distraído.
Ninguém lhe respondeu. Eu, seguramente, porque tenho um problema com
girassóis. Dito isto arrumámos a tralha e regressámos a casa. Todo o caminho
Foi percorrido por dentro de um amarelo sinistro que me agoniava as faces.
Como era mesmo que se chamava a avó da tia?
Todavia, cagando, como disse o poeta das mil tardes de sábado.
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Obs: poema publicado originalmente no livro ‘Tecidos’, de Vítor Gil Cardeira.
Imagens: DR
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