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Dizem que tudo tem uma razão. Mas também se diz que há razões que a própria razão desconhece.
Pois eu não encontro uma única razão lógica, coerente ou até útil para o modus operandi das reuniões de câmara em Barcelos. Numa sala belíssima, o ambiente pretende ser cerimonioso, mas invariavelmente acaba sem elevação e sem dignidade. Na mesma altura em que, finalmente, se vota o projeto de regulamento do Orçamento Participativo, nas reuniões de câmara, com onze intervenientes, verifica-se sistematicamente a tentativa de anulação da tão aclamada democracia participativa.
Nunca tive a ilusão de que pensássemos Barcelos da mesma forma. E ainda bem! Nas últimas eleições autárquicas, 76928 eleitores foram às urnas em Barcelos. Desses, houve 45241 pessoas que, tendo exercido o seu dever cívico, não votaram no atual executivo. Acredito que a diversidade de ideias deve acrescentar em vez de tirar valor. Além disso, acredito convictamente que cada um dos onze eleitos, que quinzenalmente se reúnem naquela sala, deve ter a honra de exercer, e até de sentir, as suas funções – quer sejam com poderes executivos quer sejam na oposição – unicamente na qualidade de representante dos votantes. Como tal, cada um tem o dever de desempenhar tais funções com a máxima responsabilidade e sempre na procura do bem público, com honestidade, com ética, com determinação, com liberdade e com independência. Por uma razão muito simples: um político não pode subverter os seus valores e tem obrigação de cumprir o seu mandato com total lealdade com os compromissos assumidos com os eleitores.
É isto! E até parece muito óbvio! Mas infelizmente não o é para todos!
De cada vez que o Presidente da Câmara, quando questionado pela oposição sobre os assuntos que leva às reuniões, responde “os vereadores não têm que fazer perguntas, levantar questões ou dar opiniões. Têm três formas de votar – a favor, contra ou abstenção – sem perguntas, sem esclarecimentos. Se quiserem, depois, fazem declaração de voto” está a esquecer-se que, também ele, é um representante e que, por isso, tem obrigação de responder aos cidadãos ou, neste caso, àqueles que através de um processo eleitoral democrático os representam. O Sr. Presidente da Câmara não só não se deveria opor aos esclarecimentos devidos, como até deveria fomentar o escrutínio detalhado das suas decisões. “Os pontos da ordem de trabalhos não são para serem esclarecidos e discutidos”? “São apenas para serem votados”? Não quererão, já agora, que se faça isso por email ou por procuração? Haja bom senso! Este comportamento não faz sentido!
A tudo isto acresce uma intolerância e prepotência permanentes, inclusive no trato, que em nada favorecem o normal e salutar funcionamento democrático. A informação não chega, chega tarde ou chega apenas pela metade… e ainda assim não devemos pedir esclarecimentos? O que é isto? Onde é que nós estamos? Será isto defensável para alguém? Quanto a mim, é uma vergonha! As pessoas confiaram-nos o voto!
E referindo-me concretamente ao que por lá passa, e porque gosto muito da minha terra, custa-me muito dizer que o desenvolvimento e a sustentabilidade de uma cidade não se veem através do aumento do trânsito, não se medem pela construção desenfreada e pouco criteriosa e muito menos pela perda da traça original de uma das mais emblemáticas avenidas da cidade. Sob a alçada de uma dita modernização e do almejado desenvolvimento, não nos tirem a beleza e a singularidade daquilo que define uma identidade. É preciso bastante mais!
Custa-me dizer que criar espaço para os jovens não é apenas autorizar o funcionamento de um festival ou um espaço de diversão noturna. É preciso bastante mais!
Custa-me dizer que valorizar as freguesias do concelho não é apenas atribuir subsídios sem equidade. Valorizar o associativismo do concelho também não é distribuir subsídios sem critérios definidos. É preciso bastante mais!
Custa-me dizer que valorizar o papel de uma empresa municipal não é fazer transferência de verbas sem estratégia e sem um plano de ação. Valorizar os recursos humanos do município também não é mudá-los de serviço, colocá-los sem tarefas ou com tarefas que nada têm a ver com as suas funções e que nada vêm responder às necessidades dos munícipes. É preciso bastante mais!
Custa-me tanto dizer que valorizar um novo hospital para Barcelos não é apenas criar uma comissão de trabalho. É preciso bastante mais!
E também me custa muito dizer que valorizar a cultura não passa por comprar obras a prazo para expô-las num museu que não existe e, ainda, que valorizar o Turismo também não é apenas ter o Pop Galo em Barcelos. É preciso bastante mais!
Precisamos de bastante mais e de muito melhor!
Acredito que a política não é um fim em si mesmo e que, por isso, tem que ser desenvolvida em torno de valores e princípios éticos e morais por pessoas capazes e perfeitamente esclarecidas nos conceitos de “BEM” e de “MAL”, através de um planeamento sustentado do futuro, mas assumindo e honrando a história da nossa terra, porque definitivamente na política não pode haver lugar para razões que a própria razão desconhece.
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Mariana Carvalho nasceu a 18 de setembro de 1977, em Barcelos, cidade onde também reside. É licenciada e mestre em Matemática, tendo concluído o seu doutoramento em Engenharia Industrial e de Sistemas, em 2012. É Professora e Investigadora da Escola Superior de Tecnologia, do Instituto Politécnico do Cávado e do Ave, desde 2001, onde tem assumido inúmeras funções de coordenação e participação em comissões pedagógicas e científicas, em atividades académicas de ligação à comunidade e, também, nos seus órgãos colegiais e de responsabilidade académica. É Vereadora da Câmara Municipal de Barcelos, desde outubro de 2017.
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