Natal | Animais não são prendas

Natal | Animais não são prendas

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É um clichê. no Natal, acrescento em todo o ano, dizer que os animais não são prendas, mas por mais fartos que estejamos de abrir o facebook e encontrar centenas de posts com esta informação oriunda de associações, grupos informais de ativismo e meios de comunicação, a realidade contraria a abundante informação, porque ainda há quem ofereça animais no Natal.

Mas porque não devemos dar como presente alguém que precisa de afeto e um lar? Simples, porque “alguém” não é “o que”, alguém é um ser dotado de vida, com personalidade, sentimentos e “o que” é um objeto que pode ser guardado na gaveta, trocado, devolvido.

É comum, nesta altura do ano, muitas crianças desejarem ter um animal como prenda, outras não pedem, mas os pais ou familiares acham que será uma forma de torná-la mais responsável ao ter um ser vivo para ser cuidado. Enquanto no passado muitas crianças,  face a inúmeros fatores de ordem económica, social,  eram uma espécie de babysitters dos irmãos, o que na ótica de muitos era um treino futuro ou uma forma de  ficar a saber que a vida custa e impõe-nos várias dificuldades, hoje, a responsabilidade de tomar conta do irmão é por vezes substituída pelos cuidados inerentes a ter  um  animal.

Não se trata de condenar a ação. De facto, uma criança pode e deve ser inserida na vida adulta de forma gradual e ter pequenas responsabilidades, mas há uma questão prioritária a ser ponderada: Todos, na família, querem um animal? A criança sabe, já lidou com algum? Ou é uma surpresa? Se a resposta a uma destas questões é não, então um animal não é a prenda ideal para este Natal.

Hoje em dia, é comum as pessoas terem animais em casa e cada vez mais estes são integrantes da família. Como animalista esta pode parecer uma contradição minha e também de várias associações negarem-se a dar animais para adoção no Natal quando passamos o ano a dizer “não compre, adote” e a sugerir novos companheiros para casa, o que parece ser uma contradição após uma breve reflexão, é óbvio. A forma como a comunicação e a sociedade de massas tornou o Natal um evento preso ao consumismo, consequência da nossa época, em que os objetos de desejo em horas ou dias acabam por ser substituídos facilmente, transladamos este comportamento para os animais que, ao não partilhar a espécie connosco, são efetivamente diferentes. Mas a diferença não reside em secundarizá-los, antes pelo  contrário  protegê-los na sua fragilidade, mesmo que cresçam, arranhem as cadeiras da sala e do sofá, partam algum objeto e destruam, para brincar, a árvore de Natal, porque  os seus não são atos malévolos, apenas o nosso mundo de símbolos não é o dele.

No entanto, há mais. O animal, tal como o homem, fica doente, tem necessidades diárias, principalmente se residimos num apartamento, ou seja, tem que ir à rua duas vezes por dia, temos que ir mesmo nos dias de chuva, agilizar com quem fica nas férias e ainda há que educá-lo, com a nuance que todos os animais são seres individuais, não são iguais, e de raça para raça há padrões de comportamento que convém conhecer.

Se este Natal está a pensar oferecer um animal ao seu filho ou filha, ou a outro familiar, não o faça para a pessoa se tornar responsável, ensine-a a primeiro a sê-lo  através de ações, porque se a ideia é fazer com que a criança o leve a passear, alimente, cuide e ela não o fizer, alguém vai ter que fazer. Se, por outro lado, pretende  tirar o medo de animais aos mais novos não é a colocar um cão ou um gato, as ofertas mais tradicionais, em casa, porque primeiro o animal vai sentir o medo e a sua excitação gerará mais pânico na criança e o animal acabará a ser impingido ao vizinho ou a um  familiar. Se ninguém aceitar o animal, o seu fim será na rua, portanto, se o seu filho tem medo de animais levo-o a uma quinta pedagógica, a um centro de recolha de animais de rua, aproxime-o de animais de familiares ou amigos, nunca lhe imponha uma presença direta, porque mais uma vez a vítima é o animal.

Para os adultos já se torna repetitivo ouvir esta informação, mas pelo número de devoluções após adoções impulsivaa no Natal e aumento de abandono de animais de raça, que entretanto tiveram o azar de crescer, convém reforçar o que todos  sabemos: antes de adotar, conheça necessidades, exigências do animal e, se tem outros animais, verifique se  eles coabitarão em tranquilidade, reflita se está apto a cuidar dele, fale com a família, analise todos as tarefas para garantir uma vida digna ao novo membro. Se, no fim de tudo isso, tiver a certeza que quer um animal, realize a sua esterilização para evitar procriação, tenha as vacinas em dia, leve-o ao veterinário para colocar o microchip com os seus dados, registe-o na junta de freguesia, e não compre adote.

Como um bebé humano não é presente, também não se deve dar um animal de presente. Cuidar de um animal implica responsabilidades prolongadas e gastos financeiros. A adoção não deve ser motivada  por épocas festivas, ou para desenvolver responsabilidade em crianças, mas por um único motivo: a consciência de salvar uma vida e aumentar a família.

 

 

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Categorias: Crónica, Sociedade

Acerca do Autor

Elda Fernandes

Porta-voz do movimento Braga para Todos. Assessora de imprensa.

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